12. Oitavo planeta

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Consegui tomar um banho quente antes de seguir para a classe dos Artifícios Fatais, ensinado ironicamente pela Vossa Senhora da Maldade, Malévola. Só que perdi a refeição, escolher entre passar fome e ficar fedida foi difícil.

A câmara onde cheguei é normal, comparada as demais, o mesmo estilo das masmorras e até com correntes penduradas nas paredes empoeiradas, teias nas extremidades e aranhas passeando nelas. Porém, as mesas são para duplas, que já foram divididas na última semana. Não cheguei a conversar com o garoto que está compartilhando comigo, só trocamos algumas palavras e depois vieram as broncas para todos se calarem.

Fiquei parada por uns segundos na porta vendo ele recostado com as pernas em cima do lugar onde eu deveria sentar. Uma garota gótica, de cabelo extremamente preto com mechas azuis e maquiagem pesada, estava apoiada na carteira, jogando charme. Pensei primeiro, dando de ombros fui até lá, escutei a conversa antes de atrapalhá-la.

— Vamos Otávio, será muito divertido. — diz manhosa jogando as madeixas de lado.

— Não, estarei bem melhor longe de prováveis assassinos. — respondeu revirando os olhos, enquanto rabisca o caderno com desenhos estranhos.

— Exatamente por isso quero que vá comigo. — ele solta um riso nasalada — Não posso ir sozinha e correr riscos, também seria uma desfeita com o Derick depois de termos ficado.

Aquele safado é mais rápido do que pensava.

— Será sorte sua conseguir se livrar daquele encrenqueiro.

Forço uma tosse, fazendo os dois notarem a minha presença e o rapaz se ajeita na própria cadeira. Ela me encara de cima a baixo, depois saí sem falar mais nada.

— Foi mal, a Glinda pode ser bem chatinha. — intercede passando a mão na nuca.

— Sem problema. — falo me sentando e colocando os livros em cima da superfície — O seu nome não era Octávio?

— Sim, fico feliz por ter lembrado. — um sorriso sincero escapando dos lábios — As pessoas têm essa mania, parece que é difícil pronunciar a letra 'c'.

Rio junto, até meu estômago roncar atrapalhando o momento.

— Esqueceu o almoço? — pergunta ainda risonho.

— Posso esperar até mais tarde. — o barulho ainda baixo, mas notório pela proximidade, é escutado novamente e me reprimo de vergonha.

Ele se abaixa procurando algo dentro da mochila, quando levanta está segurando um pote cheio de morangos vermelhos e o coloca na minha frente.

— Pode comer.

— Ahm, não precisa...

— Ei, estou tentando ser gentil aqui, vai ser a maior ofensa de todas se preferir ficar com fome. — diz irônico, sem um pingo de seriedade — Me acha com cara de alguém que envenena a comida dos outros?

De jeito nenhum, apesar de as aparências enganarem, Octávio é a personificação da honestidade. A pele bronzeada, o cabelo escuro naturalmente bagunçado, como se sempre tivesse acabado de montar num cavalo alado. Seu nariz é um pouco torto e o belo sorriso autêntico que parece nunca deixar seu rosto, com covinhas nas duas bochechas.

Pego as frutinhas dando mordidas sonora e mastigo me deliciando, estava tão exausta que o doce acertou em cheio, trazendo energia.

Quando ponho a terceira para dentro, Malévola entra na sala acompanhada do corvo negro, o cajado estronda ao tocar o chão, espalhando névoa verde.

— Sem comida, sem falatório e se pensarem em algo bom estarão encrencados. — adverte ficando em pé no palanque.

Olho para Octávio que, agindo rápido, pega o pote e guarda de volta num compartimento da bolsa.

— Já que vocês estão sem prática alguma e são a perfeita representação da desordem — começa parecendo mais raivosa ainda — Teremos outra exposição teórica, quem sabe se demonstrarem alguma habilidade poderemos partir para a prática.

O garoto arranca uma página do caderno e começa a escrever rápido. Pensei que estivesse anotando sobre a aula, até ele me passar a folha. Foi complicado entender sua letra grafada pela caneta azul, não que fosse feia, apenas diferente.

Se ela discursar sobre rocas amaldiçoadas como da última vez, vou arrancar meus ouvidos

Coloco a mão da boca tampando o riso fraco que escapou, por sorte a professora estava tão absorta gritando com um dos meninos no fundo, não percebendo meu deslize. Busco a caneta vermelha no estojo e lhe entrego uma resposta.

Confie em mim, é melhor do que as aulas de falando com animais

Ainda não tive essa, nem quero imaginar a vergonha : ) — no final da frase desenha uma carinha feliz — Esqueci de dizer que gosto do seu nome, tipo o planeta Vênus, Terra, Marte, Júpiter

Só que o meu não tem acento — escrevo achando graça dessa conversa, mostro para ele e depois continuo — Você poderia ser Netuno

Octávio mira confuso, então explico

O oitavo planeta

Mesmo achando a piada boba, ele dá gargalhada chamando a atenção dos outros, era fácil fazê-lo se alegrar e acho isso o máximo.

— Senhor Pinocchio. — berra a mulher verde vindo até nós, encondo o papel em baixo do caderno copiando qualquer coisa que tenha na lousa — O que estão fazendo?

O garoto paralisa amedrontado pela aproximação da fada má, abrindo e fechando a boca diversas vezes sem conseguir pensar numa justificativa.

— Eu estava falando para o meu colega de como poderíamos destruir a bondade, por isso a risada. — digo depois de juntar as palavras que ela deveria estar explicando.

— E pretendem fazer isso de qual forma? — questiona batendo as unhas pontudas na mesa com ruídos desagradáveis.

— Imaginamos uma armadilha com cordas. Quando a vítima pisar, cairá poção mágica de cima e algo diabólico vai acontecer. — falo mexendo os braços sem avaliar essa ideia absurda.

— Ótimo, enfim alguém está conseguindo agir com maldade. — ela volta a caminhar entre os estudantes lecionando sobre planos de destruição.

Nos entreolhamos, retornando logo ao bate-papo com ele me agradecendo, só parando o diálogo escrito entre azul e vermelho quando o sinal apitou anunciando o final da aula. Rasgando a página fomos cada um para lados opostos.

Olá, tudo bem? Estava com crise de criatividade e esse capítulo surgiu do nada para me tirar algumas preocupações.

Agradeçam ao Octávio, gostei muito dele e o resto que lute.

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Quero agradecer demais a todos os leitores maravilhosos que estão aqui. Nem devem imaginar, mas cada reação de vocês traz muita alegria para mim, mesmo os invisíveis de plantão.

Votem e comentem o que estão achando, se gostaram ou tiverem dicas de como posso melhorar.

Beijos de amor verdadeiro!

Escola dos Felizes para Sempre (Disponível Na Amazon e Uiclap)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora