Bônus

39.8K 3K 381
                                    

ANA:

Acordei as 05:40 da manhã e ainda faltavam 20 minutos para o despertador tocar. O meu sono já havia ido embora e eu decidi que ficaria apenas deitada esperando o horário, pois não estava afim de arrumar-me mais cedo que o necessário.

Olhei pro lado e vi a única pessoa que tenho no mundo. Não sei dizer exatamente que papel Melissa ocupa na minha vida, pois as vezes ela é irmã, as vezes uma amiga louca e as vezes até mãezona para dar colo ou bronca. Não posso dizer qual desses isoladamente ela é, mas de uma coisa eu sei: ela é minha família!

Melissa é a segunda pessoa no mundo que tenho para chamar de "minha família", a primeira, infelizmente não está mais aqui. 

Acredito que estou numa fase boa da minha vida, apesar dos perrengues de ter que estudar e trabalhar, estou dando conta. Em momentos como os de agora, em que eu simplesmente me dedico a fazer NADA, mas fico pensando em TUDO, eu relembro toda a minha vida…

Cresci num orfanato e fiquei lá até os meus 15 anos de idade, quando eu já não tinha mais esperança alguma de ser adotada. Eu não tinha muita facilidade para me enturmar, pois era muito tímida, por isso não tinha amigos lá.

Quando entrei no ensino médio tive que fazer a matéria de educação física, pois era obrigatória na escola em que estudava, eu detestava qualquer atividade física que fosse, mas mesmo assim a matéria que mais odiava me trouxe a maior felicidade que eu poderia ter.

Lembro que cheguei na primeira aula e já estranhei a professora, pois fazendo uma avaliação geral, ela já deveria estar aposentada, já tinha certa idade. Bom, essa pessoa que eu julguei logo de cara tornou-se uma grande amiga. Conversávamos bastante, ela me aconselhava muito e me motivava. Ela despertou um lado feliz em mim que nem eu mesma sabia que existia.

Após três meses das suas aulas torturantes, mas com a compensação da sua companhia eu já não conseguia mais me imaginar sem ela na minha rotina.

Aquela mulher me inspirava, ela me ensinava a ser forte, a ser feliz, a ser gentil, a ser esperta com o mundo, ela me ensinou muitas coisas. Também descobrimos coisas em comum, como o fato de crescermos em um orfanato e de sermos sozinhas. A dona Amélia não tinha filhos nem marido e morava sozinha e eu também não tinha família. Quando se foram quatro meses de aulas com ela tive uma surpresa inimaginável.

Dona Amélia apareceu no orfanato em que eu vivia e fez o pedido para minha adoção, ela conversou comigo e é claro que eu não poderia ficar mais feliz. Lembro que chorei descontroladamente quando os papéis foram autorizados e pude ir morar com ela.

No início tivemos toda uma adaptação sobre as coisas mais simples de casa, mas superamos tudo, pois tínhamos uma sintonia incrível! Dois anos depois a "dona Amélia" não era mais "dona Amélia" para mim, era Mãe!

Ela me acompanhou no restante do meu ensino médio e fazia questão de ir para todas as reuniões de pais da escola. Na formatura do terceiro ano fez questão de dançar comigo no baile dos formandos, diferentemente das outras meninas da festa que dançavam com o pai. Quando passei no vestibular para contabilidade ela chorou feito uma criança e olhou para mim com aquele olhar de orgulho que eu daria tudo para ver novamente. Quando entrei na faculdade ela gastou todas as suas economias e me deu um carro de presente para que pudesse me locomover com mais facilidade.

Essa mulher me deu os melhores cinco anos da minha vida, ela me acolheu, me ensinou, me deu bronca, me deu carinho, me deu um sobrenome, meu deu um lar, me deu amor e meu deu uma família: ela!

Há pouco mais de um ano atrás, quando completei meus 20 anos, passei o meu aniversário no hospital com ela. Ela estava doente e tendo crises o tempo inteiro. Os médico disseram que era um aneurisma e que ela precisava de cirurgia urgentemente. Mas, Infelizmente, ela não resistiu ao procedimento, pois já tinha certa idade e seu caso era avançado.

APOLO FERRARIOnde as histórias ganham vida. Descobre agora