SIX

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Permaneci plácido ante ao ataque de súbito. Apesar de tudo parecer acontecer em uma escala curta de tempo, como nos filmes de ação dos estúdios Marvel, algo dentro de mim tinha absoluta certeza que uma situação de tamanha magnitude poderia acontecer àquela altura. O som da voz abismática e grossa foi substituído pelo estalar estopante das mandíbulas amarradas e dos gemidos de centenas de mortos-vivos que ocupavam a estrada escorregadia à nossa frente. Os desalmados variavam em estatura, desgastes pelo corpo e gênero, ilustrando uma onda desde trabalhadores rurais, até empresários que ainda seguravam maletas com os dedos puídos.

— Por aqui! — Desviei de uma garra fantasmagórica, quase caindo para trás por causa da movimentação ligeira do cadáver, que parecia ser de uma enfermeira. Por pouco, outros dedos não apunhalaram minhas vestes antes que eu pudesse adentrar por entre as coníferas que abarrotavam a margem direita da autopista.

— Acho que ele queria dizer “hora de correr”. — Vincent proferiu ironicamente, enquanto apressava os passos para nos alcançar.

— Por Deus! Como você sempre consegue usar os piores momentos para soltar uma piada, seu imbecil? — Jonghyun perguntou. O loiro recolheu o fôlego, para então expor a indignação momentânea através dos olhos bravos.

O deserto frígido dificultava cada passo aligeirado que deixávamos a vegetação à dentro. Meus coturnos pareciam conter toneladas na medida em que afundavam na neve, que alastrava até os tornozelos arrepiados por tal contato. Na retaguarda, os cadáveres se arrastavam com dificuldade, mancando de forma desregular nos rastros na superfície.

Naquele momento, o cansaço se afigurou como se fosse multiplicado por mil e, ainda que tentássemos permanecer inertes diante dos ruidos primitivos, como grunhidos se transformando em rosnados altos, o medo ficou nítido nos olhos de todos. Todavia, não eram os mortos vivos que nos causava aquela aflição, mas sim o maldito homem de fios grisalhos.
 
O céu berrou um estrondo devastador quando os raios luminosos oriundos da descarga elétrica caíram sobre o cinza tempestuoso, com os mais variados tons de azul. E mesmo com a temperatura reduzindo ainda mais, sequer conseguia evitar o suor acumulando em minha testa, que se unia ao sufocar abatido no peito.

— Jeon! — Jin sussurrou, quando pausamos a caminhada para buscar o mínimo que fosse de ar. — Olhe! — Seu dedo indicador apontou para a direção norte.

Semicerrei os olhos para conseguir visualizar com precisão a ambientação em questão. Carros estacionados de maneira aleatória dentro de um retângulo invisível, somente perceptível quando observei a peculiaridade dos veículos que não ultrapassavam determinadas distâncias. Era um típico cemitério de automóveis. Mesmo nunca tendo visto um de verdade, eu adorava maratonar a série “Carros mortos: em busca dos tesouros esquecidos”, durante as noites de segunda-feira.

Talvez, se esconder fosse a melhor opção nessa situação, considerei, observando e calculando a distância entre o aglomerado morto e o local.

— Pensaram no mesmo que eu? — Indaguei, buscando identificar o modelo de alguns daqueles veículos. Precisava ter a certeza que o plano que estava sendo construído em minha mente podia dar certo.

— Caso a resposta seja se esconder, não acha que seríamos vistos facilmente? — Vin perguntou, encostando o torso na árvore atrás de si para evitar o campo de visão de uma mulher cujo corpo sequer tinha braços.

— Não se fosse no porta-malas — Jonghyun disse, completando meu raciocínio como se conseguisse ler com exatidão os meus pensamentos.

Na mosca! Pensei, esboçando um sorriso animalesco quando percebi que Jonghyun me olhava com a mesma adrenalina. Cogitei ser resultado do vírus percorrendo cada ponto do nosso corpo ao considerar as ideias quase sempre iguais.

Alvorecer Mortal  »  JK + JMOnde as histórias ganham vida. Descobre agora