Capítulo 1

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Tédio.

Era isso que se resumia o segundo mês de quarentena.

Eu estava deitada no tapete de veludo branco que ocupava metade do escritório dos meus pais. Os meus dedos deslizavam bagunçavam e arrumavam o pelo que eu insistia em mexer enquanto ouvia minha mãe dando aula online.

O sol estava quente o suficiente para aquecer quem estivesse nele, se você fosse para qualquer parte que ele não alcançasse, um abraço gelado te envolvia.

- Por que não vai ler alguma coisa? - Minha mãe levantou mais uma vez para encher sua xícara de café no intervalo.

- Já li tudo que tenho na minha prateleira.

- Por que não vai jogar alguma coisa? - Ela retornou e sentou em sua cadeira, ela dava um grande gole de café enquanto me olhava bufando. - Estudar?

- Deus me livre, acabei de me formar, quero um ano sabático. - Minha mãe gargalhou.

- Só porque se formou na faculdade acha que os estudos pararam? Você que se engana.

- Eu sei, mas é que eu estou cansada de ficar presa dentro de casa. Essa pandemia acabou com os meus planos completamente.

- Já sei, por que não ajuda o seu pai na loja dele? Você entende de computador mais do que ele e sei que ele está tendo dificuldade agora que tudo está sendo virtual.

- Eu me ofereci, mas ele diz que quer aprender sozinho.

- Então, limpe o seu quarto.

- Ah não, fiz isso ontem e anteontem, deixe bagunçado um pouco.

- Então não sei o que posso fazer por você. Minha aula esta prestes a começar e não quero você grunhindo de tédio na minha orelha.

- Tá bomm! Eu vou tentar ficar quieta.

- Obrigada!

Ela colocou os fones de ouvido novamente e com um sorriso enorme saudou os alunos em francês. Era engraçado espiar as aulas pelo vídeo conferência, eu procurava descobrir se um deles estavam usando as técnicas que ensinavam em uma certa plataforma por ai.

No primeiro mês, confesso que abri uma conta nesse aplicativo e perdi mais de uma semana perdida entre milhares de vídeos. Era incrível como você entra nesse mundo e vicia tao fácil, mas uma pena que todos os vídeos se tornaram repetitivos e enjoei.

Na verdade, enjoei de praticamente tudo.

Era legal ficar em casa, eu gostava, mas não quando era obrigada a ficar.

Finalmente levantei e caminhei pelo escritório fugindo do ângulo da câmera. Queria achar algo para fazer e ali era o único lugar que não tinha futricado ainda.

Os livros dos meus pais ficavam ali e nunca me interessava por eles, mas agora estavam mais atraentes, pelo menos para o meu tédio.

Meu pai ainda guardava os livros dele da época que ele era jovem e veio morar no Brasil, então 99% era em espanhol e a minha mãe tinha em francês e inglês, o que ela dominava.

Sinceramente, eu a admirava desde muito pequena. Gostava de quando ela me levava em algumas aulas particulares e a via falar em idiomas diferentes e ensinando outras pessoas, deve ser por isso que acabei me formando em Letras, para ser igual a ela.

E isso também era um dos motivos de eu estar ali todas as tardes, para vê-la ensinando.

Escolhi um livro que estava por cima dos outros, provavelmente minha mãe estava começado a ler, já que o marcador de página estava na página 15 ainda.

Puxei uma das cadeiras da mesinha e sentei pronta para iniciar aquela leitura nova.

- Filha! - Minha mãe me chamou tirando totalmente minha atenção da história já conhecida, porém em um idioma diferente.

- Sim?

- Eu estava falando aqui com um dos meus alunos e pensei, você não gosta daqueles desenhos japoneses? Por que não estuda japonês?

- Mãe! - Gemi emburrada. - Sem estudos.

- Tá bom, só estou sugerindo. - Ela se espreguiçou em sua cadeira e eu acabei largando o livro.

- Terminou por hoje?

- Ainda tenho as aulas particulares, mas só depois do almoço.

- É legal dar aula online? - Perguntei pulando da cadeira e a seguindo para a cozinha. O meu pai tinha preparado o almoço antes de sair e o cheiro de empanadas assadas.

- É diferente. - Ela se alongou mais uma vez, o que me fez rir. - E acaba com a nossa coluna. - Ela riu junto. - Não queria, prefiro aula presencial, mas até tudo isso passar é o jeito.

- Entendi.

- Você podia tentar. Não queria dar aulas quando terminou a faculdade ano passado?

- Queria, mas todas as escolas estão fechadas.

- Tenta sites de idiomas, soube que estão bombando.

- E se aparecer um tarado ou algo do tipo? Nunca disse que não devo conversar com estranhos?

- Toma vergonha, Melissa. Até dois anos atrás você passava o dia no seu computador todos os dias desde que o ganhou, você poderia usar tudo o que sabe para ensinar, já que é o que deseja.

Observei enquanto minha mãe se servia e pensei sobre o que tinha falado. Fazia total sentido, boa parte do que eu sabia era graças a internet, eu só sabia arranhar o grego porque peguei algumas aulas online, a experiencia foi incrível para mim e talvez fosse para outras pessoas também.

Corri para o meu quarto deixando o meu almoço para depois.

- Não vai almoçar? - Minha mãe gritou antes que eu fechasse a porta.

- Depois! - Respondi e me fechei no quarto.

Com o computador ligado, pesquisei por toda tarde a melhor plataforma para ensinar, havia tantas que era difícil escolher apenas uma.

No fim acabei confiando nos feedbacks e escolhi a vencedora.

Um site que não havia apenas brasileiros, mas sim o mundo todo. Sorri quando comecei abrir o meu perfil, já que talvez eu pudesse me comunicar com outras pessoas de outros lugares do mundo e treinar o que eu já sabia. Era inutil saber tantos idiomas e não usar para nada, principalmente quando as pessoas focam tanto apenas no inglês.

Finalizei o meu cadastro como professora de inglês, português, espanhol e francês com um enorme sorriso. Agora só precisa esperar alguém entrar em contato. 

Ele é um idol ♪ BTSOnde as histórias ganham vida. Descobre agora