Capítulo 39

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Capítulo 39

Eduarda

Enquanto me arrumava e arrumava a bolsa das crianças, as deixei na sala assistindo vídeos da mamãe, elas eram novinhas na época, e meu celular da época não tinha a melhor qualidade, mas pelo menos as imagens eram nítidas e pode capturar um pouco sobre quem a mamãe era.

As fotos que tinham nele, juntamos em um único vídeo, assim como um vídeo curto aonde estávamos na pracinha da cidade. Paulinho tinha 4 anos e Clarinha estava com 7 meses.
Juntando tudo que tinha em meu celular, da Socorro e da Dona Roseli deu um vídeo de quase 40 minutos.

Parei um pouco para respirar ou iria recomeçar a chorar, 40 minutos de um vídeo, é tudo que tenho da minha mãe.
Peguei rápido um caderno e comecei a escrever coisas que me lembrava, memórias, nomes de parentes por parte de mãe, nomes que ela me falava.
Ela tinha uma mãe que também foi forçada a casar cedo, também sofreu muito, talvez esteja viva, minha mãe não conseguiu a ajudar, mas e se eu conseguir, e se eu tiver tias? Primas? Será que aceitariam fugir desta vida? Ou salvar as filhas deste destino cruel?

- O que esta fazendo?

Levo um susto com Socorro ao meu lado.
Explico tudo para ela, ela começa a falar parte do que ela lembra sobre o que a mãe dela contava, por fim ainda liga e pergunta sobre minha família.
E foi um banho de água fria para mim, com o escândalo de Manari na Tv, muitas das vítimas foram mortas, outras foram levadas para outros Estados, mas a família da minha mãe, ou seja avó e tias morreram cedo, uma das minhas tias morreu com 12 anos após um estupro coletivo, e outra de 14 anos a última garota da família da minha mãe, meses atrás morreu no parto. Só ficamos meus irmãos e eu. Sentei chocada, e o choro veio com força, que mundo é este? Porque ninguém se importa com o casamento infantil fora da Cidade Grande? Porque ninguém vê o que acontece no nordeste, no sertão, nos lugares mais pobres? Não existimos? Não somos humanos?
Socorro compartilha da minha dor, da família dela só tem ela e a mãe.

Senti braços fortes me puxarem me afastando de Socorro, e sei que assim como Thiago me acolheu, Gustavo fez o mesmo com ela.

- O que aconteceu? Porque estão chorando? Gustavo pergunta aflito.

- Por... por.... porque... n.... não te..... têm..... mais .... nin..... ninguém...

Socorro fala entre soluços...

- Vó..... ti.....tias.... primas.... na... não...sal... salva..... salvamos... elas.... não .... têm....mais... ninguém... da..... da família...

Tento explicar, mas esta difícil falar. Dói, somos a combinação da invisibilidade no Brasil, MULHERES, NEGRAS E POBRES.

Levamos mais de 20 minutos para nos acalmar, e então explicar com calma o que soubemos.
É Natal, confraternização em família, e estamos tristes, nossas famílias foram exploradas, violadas, estupradas, torturadas e assassinadas.

Mas temos um compromisso, terminamos de pegar as coisas e fomos para casa da família de Thiago.

Chegando lá, na mansão e toda família dele reunida, meu peito apertou, já têm dias que sinto um aperto no peito, como se falasse algo, acordo com essa sensação de vazio, sempre levanto e vou checar as crianças, ainda não sei o que é, mas é uma sensação ruim.

Quando entramos repasso as regras com as crianças.

- Qual as regras de hoje?

- Tatar bem quem me tlata bem, e se me tatar mal mando tonar no taju.. Clarinha responde, fazendo um Joinha com o polegar.

Mudando O Destino. CONCLUÍDA. SEM REVISÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora