O teto da caverna gotejava, cheiro forte de mofo e umidade. O ar era pesado, denso, cadavérico. Sentia como se fosse me afogar a cada inspiração. Eu carregava o ouro e o olho de Sarkhan, a gema esférica de brilho lilás que iria nos livrar da maldição. Os outros estavam ocupados com seus armamentos.
Tínhamos um grupo de criaturas em nosso encalço. Eles nos viram entrar aqui. Eu queria acreditar que aquele lugar seria o suficiente para fazê-los desistir. Mas aqueles nojentos eram muito gananciosos. Ele vieram.
Tudo era pesado, o equipamento, a responsabilidade. Respirar ali era uma luta, seja pela atmosfera parada, por sabe-se lá quanto tempo, ou talvez porque o lugar era pequeno demais. Era um labirinto de corredores baixos, perfeito para uma defesa. Para ganhar tempo.
- Comandante, acho que aqui é um bom lugar para uma emboscada.
Eu hesitei, teríamos que nos separar. Nada naquilo parecia ser uma boa ideia. Mas se tínhamos alguma chance era ali. Nos encontros de corredores formava-se uma câmara com muitas entradas e vários possíveis ângulos de ataque.
- Então monte aqui algumas armadilhas para distraí-los. Quando os nojentos acharem que caíram no pior você pula sobre eles. Lembre meu amigo: ataque rápido e certeiro, e depois fuja para o fundo.
Montamos três núcleos de emboscada como aquele. Era um plano ruim, desesperado. Era o que nos restava.
Estávamos nas terras daquelas criaturas cruéis e irracionais. A ideia era chegar até a grande montanha onde finalmente estaríamos de volta ao lar. Tinha sido uma jornada sem igual. Conseguimos a joia fabulosa que nosso grande líder usaria para nos salvar do feitiço antigo. Na ida, era inverno e os inescrupulosos estavam enfiados em suas tocas. Passamos junto com a neve e sob o manto da noite e das nuvens. Agora já era verão e aqueles vermes estavam alertas. Me lembro como se tudo se repetisse agora em minha frente.
Nosso mestre fora ferido e deu a ordem telepática de imediato.
- Saiam daqui! Para dentro do pântano! Se escondam, eu voltarei. Só preciso que ganhem tempo!
Seus olhos brilhantes me encaravam enquanto ele lutava sozinho contra vinte ou mais daquelas criaturas. Eles eram todos iguais, exceto por três que se destacavam. Eram estranhos, alienígenas quase. Eu queria pular no pescoço deles. Arrancar-lhes as tripas. Esfregar na cara deles a própria selvageria com que nos caçavam. Mas eu fugi. Obedeci o comando de nosso líder.
Já perto de entrar aqui, neste inferno, nós o vimos escapando. Ganhou o tempo que precisava para nos escondermos. Só não acabou com eles ali mesmo pois estava exausto da batalha contra o guardião. Ele voltaria reforçado, isso era certo. A questão é, estaríamos vivos até lá?
Um barulho estridente ecoou na caverna, me trazendo de volta ao presente.
- Começou
Deixei o tesouro escondido e fui ao primeiro grupo de emboscada.
Eles eram três. O que vinha na frente estava coberto em um tipo de carapaça cinza, brilhante e lustrosa. Tinha um longo ferrão que saía de uma das patas e algo estranho e bem mais curto na outra. Uma glândula inchada talvez? Não dava para ver, ele parecia escondê-lo trazendo-o sempre junto ao corpo.
- Cuidado com aquilo. – avisei meus soldados – Pode ser algum elemento surpresa.
Sim eles eram todos bípedes. O que poderia levar quem não os conhecesse a achar que eram criaturas minimamente evoluídas. Terrível engano.
No meio vinha um menor. Não tinha carapaça. No lugar, uma membrana nojenta. Algum tipo de pele flácida e ondulante cobria-lhe praticamente todo o corpo formando pelancas e unindo tudo numa coisa só. Uma parte se arrastava pelo chão. Não dava para distinguir os membros de tão encobertos pela membrana azul-arroxeada.

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Primeiros Contatos
FantasyUm grupo de aventureiros retorna com seu valioso tesouro, mas são encurralados por estranhas criaturas desconhecidas em uma caverna. Não há saída, eles não tem escolha, o confronto é inevitável.