2. Daqui a dez anos

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“Respire. Inspire. Respire. Inspire. Respire. Inspire.”

Foi o que disse a mim mesma ao longo da noite mais comprida da minha vida. Segundo Adela, deveria ter tido um sono de beleza, mas não obtive sucesso.

— Eu vou me casar! — Levo a mão à boca, incrédula e feliz. Sorrindo.

Abro as cortinas do quarto e vislumbro um dia lindo. Nada mais propício para um casamento. Viro-me para a porta após ouvir o barulho da mesma.

— Pensei que estivesse dormindo. — Papai entra.

— Bom dia, pai. — Corro para o seu abraço.

Papai sempre foi afetuoso comigo e com Octavio. Principalmente, depois que mamãe morreu. Os abraços, as conversas e os carinhos sempre foram abundantes.

— Bom dia, filha. — Suas mãos afagam meus cabelos e ele deposita um beijo no topo da minha cabeça.

— Eu vou me casar, pai. — Sussurro.

— Você está certa de que é isso que quer?

— Acho que sim. Quer dizer, eu tenho medo, entende? De não ser uma boa esposa. — Encaro-o por alguns instantes.

— Cristal… — Papai suspira. — Eu amo você. Sei que é forte, linda e por isso sua mãe e eu escolhemos esse nome pra você. — Ri ligeiramente. — Também sei que ela ficaria orgulhosa de ver a mulher que tem se tornado.

— Pai… — Meus olhos ficam marejados e eu sorrio. — Obrigada por tudo o que já fez por mim, pelo Octavio. Obrigada por nunca desistir da nossa família, mesmo nos momentos mais difíceis. Devo tudo a Deus e ao senhor.

— Você e o seu irmão são tudo pra mim. Sempre vou protegê-los, com a minha vida. Se for preciso, enfrento um exército por vocês e não falo isso como o Comandante Chevalier. Falo isso como o seu pai.

— Eu te amo, pai. — Escoro a cabeça em seu peito e descanso por alguns instantes. Não penso em minhas futuras responsabilidades e o receio que elas me trazem; não penso em casamento, em nada. Apenas sou uma garota de dezessete anos, sentindo o calor do abraço do pai.

Lembro que quando eu era criança e algo ruim acontecia, corria para os braços de mamãe e era o mesmo que correr para os braços de Deus. Ela sempre dizia “Quando não souber para onde correr, corra para os braços de Deus”. Mamãe tinha uma fé inspiradora e eu herdei isso dela. O Senhor é o centro da minha vida e não consigo me imaginar sem sua presença.

— Arrume-se. Você tem um grande dia pela frente.

— Pai, eu sei que a tradição é a noiva entrar acompanhada pelo pai, mas eu gostaria de entrar com o senhor e o Octavio. Eu posso? — Ergo as sobrancelhas.

— Com toda certeza, minha filha.

Papai deixa o quarto e me arrumo, após agradecer a Deus, por mais um dia de vida.

Analiso-me no espelho, certificando-me de que nada ficou fora do lugar. Sempre gostei da pompa dos vestidos; da elegância e da doçura que alguns remetem. Às vezes, vou ao antigo baú de mamãe e pego algumas peças. Ela tinha vestidos lindos e, hoje, terei a honra de usar uma nova versão do seu vestido de casamento.

— Graças a Deus, Bela Adormecida! Estamos atrasadas. — Adela fala irritada, assim que chego ao pé da escada que leva à sala de estar.

— Bom dia para você também. — Sorrio.

— Eu tenho uma boa e uma má notícia. Qual deseja ouvir primeiro? — Minha amiga ergue as sobrancelhas.

— O que aconteceu?

A Coroa Acima da Coroa [DEGUSTAÇÃO]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora