CAPÍTULO 10

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Descemos do carro, papai ao retirar a mamãe a abraça bem forte e fica um bom tempo abraçado com ela. É uma bela cena em meio a essa confusão. Entramos na cabana e vamos até um quarto onde está uma senhora na cama, ela tosse em um pano, e após tossir vejo no pano manchas de sangue. Ela parece estar muito magra. Meus pais chegam após alguns segundos.

– O que ela tem? – pergunta mamãe.

– Já faz bastante tempo que ela está tossindo. – Anna responde.

 – E nos últimos dias ela piorou. – Acrescenta Denis.

– Posso dar uma olhada nela? – pergunta mamãe. – Já estudei um pouco de medicina.

Ao dizer estas palavras vêm à lembrança da época em que ela começou a cursar medicina. Toda empolgada passava horas estudando, pouco mais de um ano de estudos ela desistiu da profissão, disse que não era a área dela. "Os médicos têm que ser muito frios, eu não conseguiria ser como eles!" afirmava ela. Decidiu mudar radicalmente de área e se formou em gestão ambiental. Deixamo-la a sós com a senhora. Decido ir dar uma volta para conhecer o lugar.

Saio pela porta dos fundos e vejo uma piscina e algumas cadeiras de sol ao redor dela. Misty e Adrian se juntam a mim.

– Adrian – digo. – Como você sabe de tantas coisas sobre zumbis? Como chegou nesse lugar? – tenho dezenas de perguntas a fazer.

– Cara, essa história é longa, porém é um pouco divertida. – divertida? Esse cara só pode ser louco, com um mundo sendo desolado ele acha diversão em quase tudo que acontece. Com um sorriso de orelha a orelha ele começa. – Quando tudo começou, estava no treino de artes marciais. Entrou um cara meio tonto na academia, pensei que fosse um mendigo que estivesse bêbado, mas ele atacou a atendente. Ao ver a cena, as pessoas que estavam lá saíram correndo desesperadas. O nosso professor correu em direção do cara e acertou um murro no rosto do mendigo, tão forte que ele desabou no mesmo momento. Vendo que ele estava caído, outros alunos ousaram chegar mais perto para vê-lo e também a atendente, que a aquela altura já estava morta. O professor pensou que o cara estivesse morto, e quando encostou a cabeça em seu peito para verificar os batimentos, o cara agarrou-o e mordeu o seu pescoço. A recepcionista também se levantou e atacou o rapaz que estava mais perto. Saí correndo no mesmo instante e peguei minha moto. Ao passar em algumas ruas, via outras pessoas como aquele cara que entrou na academia.

– Legal. – Diz Misty, vejo que além de interessada na história, também deve estar interessada nele.

Ele continua:

– Chegando perto de casa vi Denis colocando malas atrás do Golf dele. Perguntei o que estava acontecendo e ele me explicou que estava vindo para esta casa de campo, pois estava acontecendo muitas coisas estranhas e resolveram que seria melhor se afastar da cidade por precaução. Vi que a nossa avó estava no banco de trás. Não pude vir com eles, tinha que buscar minha mãe. Chegando a casa, fui direto ao quarto de meus pais e peguei a PT 380 dele. Procurei por minha mãe em toda casa, mas não a encontrei. Quando ia saindo pela porta da casa, ouvi um barulho vindo dos fundos. Fui checar e infelizmente era minha mãe. Vi através da porta de vidro seus olhos que antes eram castanhos claros estarem brancos. Tinha uma marca de mordida em seu braço e sua boca salivava um líquido preto. Apontei a arma para sua cabeça, mas não consegui atirar. Deixei-a onde estava e fui até o fogão, cortei a mangueira do botijão, depois liguei o micro-ondas com uma faca de alumínio dentro. Saí da casa. Peguei a moto, depois de alguns metros parei e fiquei olhando a casa explodir. – Ele faz uma pausa, vai até o freezer que está perto da churrasqueira e pega uma latinha de cerveja. Não vejo expressão nenhuma no rosto de Adrian, é como se o que ele tivesse feito não fosse nada, ou talvez esteja escondendo seus sentimentos. Eu no lugar dele nunca explodiria minha casa, são tantas lembranças boas que tenho. Após sentar, ele continua.  – Após a explosão vi os zumbis que estavam longe irem em direção da casa, fiquei me perguntando por que eles estavam indo em direção a ela. Peguei a estrada pra vir para essa casa de campo. Quando já era noite e estava com sono fui até uma casa aparentemente abandonada. Tive que quebrar a janela para entrar. Acordei de madrugada com alguns barulhos e gemidos que vinham do lado de fora. Verifiquei e vi que tinha alguns mortos tentando entrar na casa, não sabia como eles tinham me achado naquele lugar, e percebi que tinha deixado à luz da cozinha ligada. Por um lado foi bom, descobri algo que os atraíam, mas pelo outro era ruim, estava sem saída, tinha que enfrentá-los. Comecei a atirar na cabeça deles, como aprendi em filmes do gênero. Pela quantidade de zumbis e pela quantidade de balas da arma, somei que ainda sobrariam algumas balas. Matei todos. Quando ia buscar a moto, vi mais alguns correndo em minha direção. Não podia ser pela luz da casa, pois já tinha apagado. Descobri mais uma coisa que os atraíam, o barulho. Fui até a cozinha e peguei uma faca, saí por trás, e no jardim vi algumas ferramentas de trabalho, uma pá, uma enxada, um carrinho de mão e minha atual arma, a foice.

– Então agora sabemos que eles são atraídos pela luz e por barulhos. – Enquanto digo isso, Adrian vai de novo até o freezer.

– Eu até ofereceria cerveja para vocês – ele joga duas latinhas de refrigerante para nós. – Mas como são menores de idade...

– Acho que você não deveria beber tanto álcool... – Misty para no meio da frase, incerta se deve continuar com o conselho.

– Por que não? – Adrian arqueia perfeitamente uma sobrancelha.

– Só acho que seria um grande desperdício você perder esse belo corpo... – Ao enfatizar as últimas palavras ela passa a língua nos lábios descaradamente. É, Acho que não tenho chances com ela. Lamento.

– O mundo está um caos, nunca me dei ao luxo de comer, beber... Acho que vou aproveitar tudo que deixei passar no decorrer da minha vida. Estou certo?

– Sim. – Misty fica com um sorriso estampado no rosto.

– Adrian – mudo de assunto. – Você disse "vir para essa casa", como assim?

– Essa casa é do Denis, sempre passávamos fins de semana aqui.

– Parece ser um ótimo refúgio, mas onde você morava antes? – pergunto. Noto que Misty tem alguma coisa para falar, ela está inquieta, e passa os dedos nos lábios conforme falamos.

– No centro do Rio de Janeiro, cheguei aqui faz dois dias.

– Dois dias? – fico surpreso e confuso ao mesmo tempo. – Como é possível, se essas coisas foram soltas ontem... Não faz sentido...

– Do que você está falando? – Adrian pergunta, seu rosto é um verdadeiro ponto de interrogação, ele me olha como se eu estivesse louco.

– Nada, só... Preciso conversar com meu pai... Então, sabe mais alguma coisa sobre eles?

– Não, só o que todo mundo já deve saber: atirar na cabeça, com a mordida que você é contagiado... Coisas do gênero.

– Acho que você está errado – ouço então a voz de Misty. – Não é só com mordidas que você vira um deles.

– Como assim? – Adrian não entende o que ela quis dizer com isso.

– Como você, eu também passei por uma situação e descobri uma coisa que vocês não gostarão nem um pouco de saber – não dizemos nada, apenas nos ajeitamos na cadeira e inclinamos o corpo na direção dela. – Eu estava em casa, ouvindo noticiários sobre a contaminação de radiação, declarações das autoridades para irmos para o mais longe possível do estado contaminado... Não ficar em aglomerações. Eles diziam que já estavam trabalhando para não deixar o vírus se alastrar, embora eu ache isso mentira... Mas enfim, a cidade entrou em choque, todo mundo começou a ir embora, alguns se esconderam em casa e outros não sei o fim que tiveram.

– Por que você não fugiu também? – pergunta Adrian.

– Minha avó – ao dizer as palavras seus olhos marejam, mas ela continua. – Tinha que ficar com ela, ela estava em fase terminal de câncer e não tinha ninguém além de mim para cuidar dela. À tarde, quando estava me arrumando, ouvi um barulho no quarto dela, achei estranho e subi para verificar. E quando cheguei ao quarto, meu coração quase saiu pela boca, ela estava de pé. Entrei para ver se não era miragem o que estava vendo, chegando mais perto ela começou a grunhir, saindo palavras sem nexo de sua boca, o mais estranho foi ver os olhos dela, que não eram mais castanhos escuros, estavam branco-acinzentado. Ela correu para cima de mim, gritei e joguei o secador de cabelo que estava em minha mão nela e desci as escadas. Fiquei atrás da mesa, e ela desceu logo depois; gritei novamente quando ela subiu na mesa, com um último esforço levantei a mesa e ela caiu.

– Foi nesse momento que eu cheguei né?! – digo, com um pequeno sorriso no rosto.

– Mas como ela virou zumbi? – Adrian pergunta.

– Óbvio. Ela morreu e voltou como um deles. – Adrian e eu nos entreolhamos. Dúvidas tomam minha mente. Será que os zumbis foram mesmo criação da ciência ou Deus deu uma "mãozinha" para que eles aparecessem?


Sobreviventes do Apocalipse - Livro 1 da Duologia Últimos Dias na TerraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora