Foram alguns dias sem voz.
E neles eu pensei em você.
Me obriguei a enxergar o nosso todo, como algo comum. Algo que eu poderia viver sem.
Foram noites sem dormir.
E nelas eu escrevi. Com compulsão eu deixei no papel a minha desilusão. Fiz do sangue que escorria de mim tinta fresca, quando a caneta começou a falhar. E com o sangue opaco, continuei a rabiscar. Era o meu desabafo. Minha dor.
Foram horas sem piscar.
Sentei em um canto específico da casa e ali consumi os segundos, os milésimos. Buscava me forçar a não pensar, a não querer. E no fim percebia que o ato de não querer lembrar, já me levava de volta a você.
Foram fragmentos de espera.
Tão distinta, eu engoli com nobreza o veneno do seu descaso. E quando dei por mim a dor intensa me fez ver tudo com outros olhos. E eu vi vermelho.
Só conseguia enxergar por detrás das lágrimas e essas se apoderaram de mim.
Foram orações, preces, clamor.
Pedia seu toque ausente e a certeza de um amor inexistente. Roguei feito tola por qualquer parte daquela ilusão. Algo que por ventura - ou por sorte - me faria voltar.
Eu me afoguei.
Nadava em um mar repleto de você. Bebendo cada gota, certa de que eu venceria. Que por você ou por nós eu chegaria na praia e teria teu corpo outra vez.
Foram dias de chuva.
Ainda chove agora. Forte.
Faz frio e demora quase uma eternidade pra que eu perceba que o gelo vem de dentro de mim.
E meus olhos já não guardam a fé.
E a minha boca já não espera por sua compaixão.
Beije-me agora - se tempo ainda tiver - vamos celebrar o adeus com o que restou de nós.
Por que depois...
Só seremos pó.