Segunda Chance

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- Provavelmente vai ser algo que você não vai querer ouvir, mas... conversei com meu pai mais cedo e ele sugeriu algo. James disse pegando a mão dela entre as suas. – Ele quer que você faça um acompanhamento.

- Tipo psicológico? Ela perguntou olhando para ele um tanto temerosa. – Não sei se...

- Eu vou com você. Pelo menos nos primeiros dias. James sorriu tentando tranquilizá-la, mas Stacy se sentia uma maluca.

- James... Eu não posso fazer isso. Ela confessou sentindo a mão dele apertar a sua. – Eu...

- Vai ser bom poder contar as coisas para alguém. Não é um grupo ou algo do gênero. Você pode conversar com um psicólogo toda semana... Totalmente à sós. Ele explicou vendo a expressão em seu rosto relaxar.

- Eu posso pensar nisso. Ela concordou recostando a cabeça no travesseiro, ainda segurando a mão de James. – Pode ficar até eu dormir?

- Claro que posso. Tem algo acontecendo? James quis saber vendo a garota abrir e fechar a boca no instante seguinte. – Não quer falar? Ele sorriu divertido enquanto ela suspirava, já se rendendo.

- Eu tenho pesadelos todas as noites. Sonho com o acidente. Às vezes sonho com Gabriel, com você gritando meu nome e... Isso tem me impedido de dormir. Stacy confessou fechando um pouco os olhos. – Eu só queria poder apagar tudo isso. Me faria sentir melhor.

- Posso? Ele se aproximou dela e sentou mais perto da garota. Stacy concordou deixando que James envolvesse um braço ao redor de seus ombros e deitou a cabeça no peito do rapaz. – Quando tudo aconteceu... Eu também tinha pesadelos todas as noites. Mas foquei em tentar escapar deles, de pensar em coisas boas e atrair isso para os meus sonhos.

- E funcionou? Ela ergueu o rosto para encontrar os olhos dele, vendo James concordar com um sorriso.

- Funcionou. Vai funcionar com você também. O rapaz sorriu acariciando o cabelo dela. – Tente dormir um pouco. Amanhã conversamos sobre isso. Vou ficar aqui.

- Obrigada. Stacy disse fechando os olhos e tentando fazer o que ele lhe dissera, apesar de acordar algumas vezes gritando e ver rostos conhecidos, ela finalmente conseguiu dormir ao se lembrar da presença de James e o apoio dos amigos.


- Me sinto tão mal por ela. Tom revelou sentado na mesa de jantar enquanto todos comiam animadamente. – Os olhos dela estavam tão escuros, parece que não dorme à dias.

- Eu não conseguiria também. Guilherme falou tomando um gole de suco e ficou pensativo no momento seguinte. – Não consigo me ver sendo tirado da música.

- Acho que nenhum de nós. Johnny respondeu sorrindo em seguida, ao ver James entrar bocejando.

- O que estão fazendo aqui? O garoto perguntou confuso ao ver os amigos sentados na mesa de jantar de sua casa.

- Yumi nos chamou para jantar. Johnny deu de ombros olhando para a garota descendo as escadas, tinha acabado de colocar Thai para dormir. – Como ela está?

- Conseguiu dormir. James falou se sentando ao lado de Jeffrey, que comia lentamente como se estivesse apreciando cada ingrediente. – Eu queria poder fazer mais por ela.

- Mais do que já está fazendo? Tom ergueu as sobrancelhas já boquiaberto. – Está fazendo muito, Davies.

- Não parece suficiente. O rapaz confessou sentindo a mão da irmã tocar seu ombro.

- Quer comer alguma coisa? Yumi perguntou vendo o irmão concordar e partiu para a cozinha em seguida. Tudo ainda estava muito fresco nas memórias de Yumi, ela se lembrava muito bem como Stacy a havia feito se sentir melhor e naquele momento, parecia a hora certa de retribuir o favor. – Eu gostaria de ir visitá-la. Se não for uma má ideia. A garota falou enquanto esquentava o prato de James no micro-ondas.

- Acho que vai ser uma ótima ideia. O garoto respondeu ainda sentado junto dos amigos e encarou a expressão de cada um, estavam certamente preocupados, mas todos confiavam no potencial de Stacy, sabiam muito bem que aquela garota poderia superar qualquer barreira que surgisse, desde que se sentisse capaz de o fazer.

- Então amanhã cedo irei lá, aproveitando que vocês vão estar ocupados mesmo. A garota deu de ombros colocando o prato de James na mesa, ao mesmo tempo que Tyler surgia na sala com a maleta nas mãos e uma expressão cansada no rosto. – Quer comer? Ela olhou diretamente para o pai, que apenas lhe negou com um sorriso fraco no rosto.

- Como está Stacy? O pai perguntou para James, que admirava seu prato de almôndegas fumegantes. – Digo, no emocional... O homem justificou com um sorriso amarelo ao perceber como todos os outros garotos pareceram confusos com a pergunta.

- Vai levar algum tempo até que ela consiga digerir tudo, mas acho que está melhorando... Bem devagar. James respondeu vendo o pai largar a maleta e subir as escadas em seguida, apenas dando um leve aceno para os que restaram na sala.

- Ele está mesmo bem? Johnny questionou olhando para Yumi, que havia ficado ao seu lado quase inconscientemente. – Parece que não dorme à dias.

- É o experimento. Está dando nos nervos. A irmã justificou com um sorriso enquanto tocava o ombro de Johnny carinhosamente, aquela cena foi completamente estranha para todos ali, inclusive James.

- Parem com a melação, eu não vou aguentar. Julie falou fazendo uma careta e recebeu um dedo do meio como resposta. – Que falta de modos.


                            A mente de Stacy vagou pela escuridão, cada vez mais distante. Suas mãos tentavam alcançar algo que nem mesmo ela fazia ideia e quando isso finalmente ficou claro aos seus olhos, a garota percebeu que se tratava de uma memória antiga; ela e o pai jogando futebol nos fundos do quintal. Stacy se lembrava muito bem daquele episódio, quando tudo havia finalmente começado, ela queria voltar ao início. Os olhos se abriram em meio à forte luz do sol e a garota percebeu que havia acabado de acordar no hospital, James já havia ido embora e seu pai se encontrava deitado de um modo muito comportado na poltrona. Stacy sorriu para si mesma pensando em quão rígidos deveriam ser no exército.

- Pai? Ela chamou vendo como ele se sentou prontamente, parecia que sequer estava dormindo.

- Eu não estava dormindo. Taylor tentou não fazer a filha se sentir culpada, mas aquilo somente à fez rir. Estava claro que ele tinha cochilado, por pelo menos uns trinta minutos.

- Eu quero ir para casa. A nossa casa. Stacy frisou vendo como a expressão do pai pareceu se aliviar imediatamente.

- Que bom, a equipe de Harry e os garotos ajudaram bastante. Instalamos uma plataforma que se eleva, assim você poderá continuar com seu quarto, sem termos que fazer grandes mudanças. Taylor sorriu de modo atencioso e Stacy apenas concordou, voltando seu pensamento ao que fizera. O que será que seus pais deviam estar pensando agora? Que ela era algum tipo de perigo? Será que a sentiam como um fardo pesado demais para carregar?

- Obrigada. Ela sorriu o mais verdadeiramente que conseguiu e seguiu em silêncio até ser liberada no final da tarde. Antes de finalmente voltar para casa, Stacy deu uma boa olhada no antigo quarto de James e algumas breves memórias lhe vieram à mente. Ela sorriu se lembrando do quanto haviam se amado ali, o quanto haviam brigado e ao mesmo tempo, o quanto ele ainda seguia a incentivando para ser qualquer coisa que ela quisesse. Os olhos da garota pararam em uma das paredes com um enorme quadro de fotos, ali haviam imagens dos garotos logo no começo da banda, quando metade dos rostos ainda eram cheios de algumas espinhas, quando ela ainda andava... O olhar entristeceu por um breve momento ao ver uma foto sua abraçada com Guilherme, que usava aquela camiseta surrada do Nirvana. Os dois pareciam tão felizes, tudo parecia perfeito e agora aquele momento parecia muito mais distante do que realmente estava.

- Oi. Uma voz conhecida e uma mão em seu ombro fizeram a garota dar um leve sobressalto. Yumi sorriu fracamente ao ver que a havia assustado e seguiu parada no mesmo lugar, ainda sem tirar a mão do ombro de Stacy. – Pensei em te visitar... Ainda bem que vim antes.

- Não esperava sua visita. A garota confessou com um sorriso e reparou nas roupas de Yumi, ela com certeza havia dormido com Johnny. A camisa era a mesma que ele estava usando na noite passada. – Está tudo bem? Ela perguntou tentando afastar seu olhar da camisa preta com o logo do Artic Monkeys.

- Está sim. Só achei que deveria ter sido um pouco mais legal. Ela riu baixo e olhou diretamente para Stacy. – Você fez muito por mim quando eu estava péssima, e pela minha família também. Não sei se James te contou minha especialidade, mas... Eu estava trabalhando com fisioterapia antes de começar a segunda especialização em pediatria. Imagino que será difícil trabalhar com alguém estranho... Então pensei que talvez estivesse interessada... A garota disse um tanto sem jeito e aquilo fez Stacy sorrir. O pai já havia lhe dito diversas vezes que precisaria fazer acompanhamentos de fisioterapia, mesmo que não fosse andar novamente.
             Tyler Davies também havia recomendado muitos profissionais, à quem os pais não paravam de falar, mas em momento algum Stacy quis aceitar. Sabia que talvez nada daquilo lhe fosse útil e que aquela vida nova não seria nada interessante comparada à sua antiga, mas precisava seguir o que lhe diziam, como em resposta ao apoio que todos estavam lhe dando e para preservar seu restante de saúde.

- Então, basicamente você quer ser minha fisioterapeuta? Ela inquiriu com um sorriso divertido no rosto, vendo a irmã de James concordar rapidamente. – Você sabe que eu não acredito na eficácia de nada disso, não é?

- James me contou. Acho que você precisa de um pouco mais de fé, Curtis. A garota confessou se abaixando em frente à cadeira de rodas e lhe tocou o rosto com carinho. – Estar aqui agora é basicamente um milagre. Encare essa situação como uma segunda chance, não o fim.

- Como isso pode ser uma segunda chance? Stacy questionou franzindo o cenho, pronta para dar uma resposta mal-educada para a garota à sua frente. – Como vou conseguir lutar desse jeito?

- A luta não é sobre pernas ou braços. A luta é sobre vontade, e eu acredito que você tenha bastante aí dentro. Ela sorriu se levantando rapidamente. – Me procure se estiver afim da proposta, prometo que vou te ajudar o máximo possível.

Yumi saiu do quarto algum tempo depois, sem dizer mais uma palavra, apenas sentindo seu coração leve por ter finalmente feito algo que queria. Stacy seguiu encarando a janela do quarto antigo de James e ficou seriamente pensando na proposta da garota. Por que não aceitar? Não haveria nada de ruim nisso. Suas mãos grudaram nos aros das rodas da cadeira e ela tentou encarar aquilo do modo que Yumi havia dito.

- Uma segunda chance... Então vocês são a minha segunda chance.

Fighter: Uma Luta Pela VidaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora