Capítulo 2

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Akilesh

Suor escorre por todo o meu rosto, meu coração bate em um ritmo acelerado, sinto cada músculo do meu corpo gritando em protesto, mas não paro de correr, a dor é uma aliada, já conquistei ela, só me serve como combustível, assim como o ódio. Após uma corrida de 2 horas ininterruptas, me permito um momento de pausa, no alto de um penhasco, e observo as planícies desoladas e sempre escuras do Hades, com os gritos infindáveis das almas perdidas por todo lado. Penso em como um dia tudo isso será meu, mas, primeiro, devo destruir aquele que aprisiona minha mãe.

Mil vozes, por um breve momento, se unem, e em uníssono, proferem meu nome -Akilesh! – É assim que meu pai me convoca, afinal, tudo aqui serve à ele. Sinto o tom de urgência, me apresso de volta ao palácio.

Caminho lentamente pelos corredores estreitos do palácio, em direção a meus aposentos, que, assim como tudo mais, são feitos pedras cinzas pontiagudas, repletas de lava seca, dando uma aparência escura para todo o ambiente. Em um dos corredores, encontro um dos demônios que servem a meu pai e este me impede de continuar para meu quarto, insistindo que meu pai deseja me ver o quanto antes. Contrariado, caminho rapidamente, escutando os sons de meus passos ecoando entre as paredes, e me perco em pensamentos.

Sinto ódio quase o tempo todo. Correr, treinar com armas e me manter focado ajuda a controlar meu temperamento, meu pai sempre diz que a melhor vingança é a bem planejada, pois de impulso, se perde uma guerra. Sou um semideus, fruto de um amor, amor esse que foi proibido por alguém estúpido e cruel, que separou meus pais, que me tirou dos braços de minha mãe e que a forçou a viver com ele, fingindo ser feliz, alimentando seu sonho distorcido de família. Meu pai me conta, todos os dias, como tudo foi cruel e como ele queria ter feito diferente, ter tido forças para ajudar minha mãe.

Minha história começa com o grande amor dos meus pais, Hades e Hera, que, em uma noite de eclipse lunar, me conceberam. Diferente dos demais deuses, nasci de forma inusitada para um Deus, nasci de uma gestação semelhante a humana, passei sete meses sendo gerado por minha mãe, me lembro de quase tudo enquanto estava em sua barriga, por mais estranho que pareça. Lembro de ouvir o som da voz da minha mãe, de muitas brigas e gritos, não me lembro de ouvi-la sorrir,mas quando nasci pude ver seu sorriso enquanto me olhava, seus olhos são como esmeraldas brilhantes, em seu rosto haviam gotas de suor, seus cabelos estavam suados, mas seu rosto era completamente iluminado, me senti tão bem em seus braços, junto ao seu coração, me senti protegido, feliz, mas isso durou pouco.

Zeus me tomou de seus braços e me expulsou do Olimpo, como se eu fosse descartável. Aquele homem desprezível me baniu para o submundo, me condenando à escuridão. Meu pai me acolheu de braços abertos, mesmo sem saber ao certo como cuidar de um bebê, ele fez o melhor que pode, me amou e sempre disse que sou fruto de um lindo amor. Ainda pequeno, escutei minha história pela primeira vez, e ali tracei o meu destino, me tornar o melhor de todos os deuses a jamais pisar no Olimpo, e assim, acabar com Zeus.

Meu crescimento foi veloz, me tornei maduro em poucos anos, e enquanto me desenvolvia percebia o interesse de meu pai a cada vez que me olhava. Certo dia ele me disse que minha aparência era de um jovem humano de 20 anos, e que isso lhe seria muito útil no futuro. Ele me ensinou tudo que sei, como cuidar do meu corpo para ficar em forma, cuidar da aparência para ser respeitado, e me treinou em cada aspecto da arte da guerra, me fazendo dominar meu corpo por completo. E a cada dia me contava a história de como Zeus chegou ao poder, como sempre foi egoísta e hipócrita, e assim meu ódio por ele cresceu, rápido como meu desenvolvimento.

- Pai? O senhor me convocou – falo, ouvindo minha voz ecoar por toda a sala do trono. Olhando em volta vejo a imensidão do espaço, onde só existe o trono feito de obsidiana, escura como a noite. Essa visão sempre me assombra.

- Venha cá, meu filho - sigo o som de sua voz até uma das salas próximas ao trono.

- Está chegando a hora de colocar o plano em prática – fala, enquanto passa as mãos em uma foto, algo estranho, aqui no submundo. Penso em questioná-lo, mas sua aparência me preocupa mais, ele parece mais velho e cansado, como se a sua energia fosse drenada a cada dia.

- Pai, meu senhor, do que precisa? - pergunto vendo-o se virar em minha direção. Seus olhos estão fundos, sua pele está ficando flácida, ele me disse que isso ia acontecer, que Zeus perdeu o controle e não pode mais proteger a ninguém, que ele nem ao menos percebe a maldição que trouxe sobre os seus, mas ainda assim é algo perturbador para um filho.

- Estou tão cansado, meu filho - ajudo ele a se sentar em uma poltrona - Mas está na hora de começar o plano, você tem que ir - fala, tossindo.

- Não pai, vou ficar aqui e te ajudar - ele me olha com um olhar fuzilante.

- Não! Você vai, tem que ajudar sua mãe, para podermos ser uma família, não é o que você quer? - questiona ele, segurando em minhas mãos com força.

- Mas há outras vidas envolvidas nisso - ele levanta rapidamente da poltrona, ficando mais alto do que eu.

- Ela está sendo forçada, sofrendo, já te falei isso! Está duvidando do que eu disse? - esbraveja.

- Não pai, é só que…

- Saia da minha frente! - fala apontando para a porta, antes que eu pudesse explicar o que queria dizer. Saio e vou caminhando até meu quarto.

. . .

- Igor! - aquela voz, que sempre embalava meus sonhos, doce e harmoniosa. Olho para os lados, tentando encontrar de onde vem, e me dirijo à bacia com água em um dos cantos de meu quarto. Refletida na superfície, está o rosto de Hera, minha mãe, como em um porta-retrato. Assim como meu pai, seu rosto parece mais velho e cansado, como se o tempo finalmente a afetasse.

- Mãe! Você está bem? - pergunto me aproximando o máximo possível para olhar melhor a imagem refletida.

- Sim, estou, só queria ver como você está, minha brisa de verão - posso ver seu rosto se movimentando na água - Você parece pálido, cansado, meu amor, deveria tomar algum sol, se divertir.

- Sabe que não posso, não sou livre enquanto ele viver - sinto meu sangue ferver ao pensar nele e em tudo que fez - Mas você poderia fugir! Venha para cá, eu e meu pai a protegeremos, Zeus não se atreveria a enfrentar as hordas dos mortos, ele está fraco.

- Meu querido, não posso fazer isso e você sabe...

- Por que você está sempre se curvando a ele?! - grito olhando em seus olhos, viro minha cabeça para o lado tentando controlar minha raiva.

- Meu bem você sab... - sua pausa traz minha atenção de volta para a água.

- Não... Zeus... querido... me... solta… NÃO! - Hera solta um grito agonizante – Por favor... ele... não... - ela pede para ele se afastar, ouço coisas caindo e quebrando, a voz doce e tranquila desaparece, no lugar escuto choro.

- MÃE! - grito o mais forte que consigo, meu peito queima de desespero, coloco a mão na água, em uma tentativa vã de tocar em minha mãe, mas antes que  pudesse fazer qualquer coisa, seu rosto desaparece.

- MORTE A ZEUS! - grito, derrubando a bacia com fúria.

Caminho a passos firmes, retornando à sala do trono, em meu semblante há somente ódio e morte. Meu pai agora está sentado, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos na testa.

- Pai, você está certo! Vamos começar o plano, vamos matar Zeus! – digo, travando o maxilar e me ajoelhando, mostrando a meu pai que, agora, sou seu instrumento de morte, seu servo, a extensão de sua vontade.

- Isso, meu filho, vamos ganhar esta guerra! – ele fala, fazendo um gesto com a mão para que eu me levante.

Olho no fundo dos seus olhos, e vejo que estamos ambos obstinados, cumplices até o fim, custe o que custar para obter a vitória.

- Akilesh, atravesse o véu e vá para a Terra, dê início ao fim do reinado de Zeus, ao fim de sua vida! - meu pai fala, seus olhos como brasas flamejantes.


Olá queridões, demorei mais cheguei, sou bem atrapalhada mas prometo sempre postar, tô amando os comentários, as mensagens de sugestões no chat e os votos, muito obrigada por todo apoio dado❤️

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