Capítulo VI

49 6 72
                                    


As palavras proferidas pelo guardião rondavam pela mente do Lachowski estupefato. Incontáveis dúvidas se formavam devido às palavras quebradas no qual serviram de resposta. Um suspiro esbaforido escapou pelos lábios rosados do pré-adolescente, que até o momento não teria pronunciado uma palavra. Encontrara seu motorista em frente aos grandes portões metálicos do parque, o aguardando pacientemente. Desde o momento em que entrara na Range Rover da família, Kieran ─ o motorista particular de sua família ─ não havia se pronunciado ou iniciado a série de indagações, para o alívio do moreno. Todavia, perguntava-se como ele tinha conseguido o localizar se nenhum funcionário ─ além de Mei. ─ sabia de sua atual localização. Céus, estou literalmente ferrado.

— Chegamos, senhor. — Kieran estacionou o carro cautelosamente após a porta automática da garagem lhe fornecer passagem. — Seus pais estão o aguardando. 

Lucca engoliu o seco. Não esperava que seus pais estariam em casa em tampouco tempo. Retirou-se do veículo após o motorista abrir a porta em sua lateral, lhe concedendo passagem. A asiática atrás de si não esboçava expressão alguma em sua face branca. Era difícil saber o que estaria se passando pela mente da mais velha que o acompanhava. Mas esperava que fosse algo que pudesse salvar a si e aos outros. Inclusive à ela. 

As grandes portas de madeira maciça afastaram-se do batente. A caminhada vagarosa da dupla sobre o salão principal chamara a atenção dos funcionários que recolhiam os utensílios descartáveis e limpavam o âmbito iluminado. Pela tensão mesclada às orbes alheias, pôde supor de que seus pais não estavam em seus melhores dias. As mãos do caçula apalpavam o tecido negro de seu moletom conforme subia os degraus da escada de mármore ao lado da Nakamura. Cada avanço executado pela dupla, o nervosismo do Lachowski aumentava. Afinal, não desejava colocar os outros em encrenca, muito menos a Nakamura. As mãos pálidas pousaram-se sobre a porta amadeirada da suíte de seus progenitores, empurrando-a minimamente antes de adentrar no recinto ao obter passagem. Seus pais vociferavam furiosamente com seu irmão mais velho ─ que retrucava na mesma intensidade. ─ provavelmente descobriram o que o rapaz teria feito enquanto estavam fora. O desespero do mais novo chegara a seu ápice assim que a atenção do trio voltou-se para si. É hoje que eu irei para o além.

— Onde você estava, pirralho?! — vociferou Spencer. É, ele realmente está furioso. — Eu falei para você não sair de casa sem me avisar! 

Que irônico.

— Não me lembro de você ter me dito isso. — rebateu o mais novo em um tom neutro, intensificando a raiva de seu irmão por tal denúncia indireta.

Os lábios do mais velho separaram-se, porém a patriarca interveio. A aproximação da mulher causara-lhe calafrios. Não lembrava-se da última vez em que levara uma bela surra de sua mãe ou de seu pai como punição. Mas esperava que seu corpo nunca mais tivesse contato bruto com a sola de algum calçado. 

— Responda. Onde você estava? — indagou a mulher assustadoramente séria. Por mais irritada que estivesse com seu primogênito, noventa e cinco por cento de sua irritação era direcionada à seu filho mais novo. — Te procuramos por toda parte, Lucca. 

O moreno recuou minimamente com a aproximação feminina. Via-se encurralado diante de três indivíduos furiosos e curiosos em saber de seu paradeiro. Não encontrava uma resposta plausível no qual pudesse ocultar os cinco acompanhantes no passeio e mais duas mercenárias medievais. Ao descolar seus lábios, a asiática suavemente batera na porta, adentrando no cômodo através da fresta que a barreira amadeirada proporcionava. A patriarca franziu o cenho com a entrada inesperada de sua funcionária, porém não contestou. A presença inesperada da Nakamura incomodou Spencer, que fechara suas mãos em punhos devido ao nervosismo da presença alheia no recinto pessoal. 

Peregrina [Em Andamento]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora