— Eles querem fazer uma festa surpresa num parque de diversões? — a ideia me parecia maluca demais, mas ficava ainda mais maluca ao notar que queriam nossa presença nela. Minha e do Renan.

— É. E amanhã. — ele comentou, ainda lendo a enxurrada de mensagens que não paravam de chegar.

O voo do JV chegava naquela sexta à noite. O pessoal estava combinando de não ir recepciona-lo e ignorar tudo o que ele mandasse até o dia seguinte, quando combinariam com os pais dele de leva-lo ao tal parque.

Parece que já tinham pensado em tudo. E parece que os gêmeos e a Natália estavam por trás da maior parte da organização.

— Você... quer ir? — Renan me pergunta, hesitante, uma sobrancelha levantada.

Fico sem saber exatamente o que responder.

Digo, sei que talvez ele queira ir, sair da monotonia desse começo de férias (permanentes?) e sair daquele quarto. E sei que ele gosta dessas coisas, e faz muito tempo que não fazemos nada do tipo, sabe, "socializar".

Mas, pra ser sincero, não sei como me sinto em relação ao JV.

— Se não quiser ir, é só falar que eu saio do grupo e dou uma desculpa qualquer. — ele comenta.

— Espera. Mesmo se eu não quiser ir, você pode ir, ué.

Ele revira os olhos.

— O JV é um babaca.

— Talvez ele tenha mudado... — não sei porque, mas estou mediando um conflito inexistente mais uma vez...

Não, pior que isso: estou defendendo alguém que sequer fala comigo há um ano. Talvez velhos hábitos sejam mesmo difíceis de mudar, né?

Renan me encara rapidamente e, sem achar ruim do que estou fazendo sem pensar, ele pisca.

— Não vamos saber se não formos.

A fala coincide com uma mensagem direcionada a nós dois no grupo, perguntando se estávamos dentro ou não. Era da Natália, querendo conferir quem ia levar o quê — bolo, serpentina, ovo, farinha (?)...

Pego o celular das mãos do Renan e digito uma resposta sob o olhar curioso dele.

Renan Souza: Nós vamos, nat, eu e o dani.

(sexta-feira, 16:32)

— Você não tá se forçando a fazer isso por algum motivo idiota que só existe dentro da sua cabeça, né? — ele me pergunta, desconfiado, e é a minha vez de revirar os olhos.

— Cala a boca e vamos continuar de onde paramos, por favor? — eu digo, já tirando minha blusa do caminho.

***

Meu corpo parece ter vida própria.

Em todas as situações em que minha mente age racionalmente, ele a trai sem pensar duas vezes. É o que acontece na noite de sexta pra sábado, que passo praticamente toda acordada.

As primeiras horas são boas, divertidas e proveitosas porque Renan passa acordado comigo. Ele colocou um colchão no chão do quarto, meio desajeitado, meio despistado. Mas o irmão mais velho dele, o Rogério, chega do trabalho, dá de cara com a gente, com o colchão, e começa a gargalhar.

— Vocês acham mesmo que alguém aqui vai comprar a ideia de que você vai dormir no colchão?! — ele ri tão alto e com tanta vontade que sinto meu rosto pegando fogo.

Renan mostra o dedo do meio pra ele e bate a porta sem dizer nada.

O comentário me faz ficar um pouco incomodado, mas também não é como se eles não tivessem nos visto juntos a semana quase toda, deitados na cama, no sofá, de mãos dadas aqui e ali, de vez em quando em outros lugares também... Enfim.

Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora