Capítulo Três - Cerveja.

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Meus lábios abriram-se para começar o quarto dia com Frederick, porém fui incapaz de emitir som notável. Werther e eu perdemos a noção do que era ''hora''. Baixei os olhos e notei que diante de mim jazia o copo de água vazio, uma cestinha idem de uma porção de fritas com bacon e queijo e uma lata oca de refrigerante diet

Um balanço no meu ombro foi perceptível de repente. Ergui a cabeça, enxergando Werther ao meu lado, com sua mochila, casa do gravador, nas costas.

 – Elias, eles estão fechando. – disse-me em inglês. 

Olhei em volta, notando que já não mais existia viva alma a perambular pelo recinto além dos fantasmas enterrados também chamados de garçons, o rapaz alemão e eu. Coloquei-me de pé com a educada ajuda de Werther, notando o quanto o meu traseiro jazia dolorido de tanto permanecer sentado. Quando saímos, senti o ar quente da minha amada Belo Horizonte. Consultei o relógio no meu pulso: 20:00. 

– E então? – o rapaz estudava-me. Devido ao inchaço de seu rosto, ele havia chorado. – Por acaso, podemos nos encontrar novamente amanhã?

– Não acho que eu tenha muita escolha – enfiei as mãos nos bolsos das calças sociais. – Assim como Frederick, eu tenho a esperança de que, se contar tudo começo possa entender o que aconteceu... notar onde me perdi. 

– Eu não acredito... – Werther passou as mãos pelo rosto, por onde escorriam lágrimas sem respostas. – Jamais pensei que Freddie tinha essa ótica do mundo todo.

Abandonei os bolsos e entrelacei os dedos de minhas mãos em frente ao corpo, erguendo os braços acima da cabeça para espreguiçar-me. Através de minha visão borrada, eu ainda estava vendo a angústia dele. – Você nunca notou que seu irmão era isolado das demais pessoas?

– Claro. Todo mundo notou. Otto levou-o a psicólogos, mas nenhum deles achou que houvesse algo de fato errado com ele – Werther levantou os ombros, rindo em meio ao choro velado. – Freddie sempre foi irritadiço, temperamental, tinha preferência por ficar sozinho. Só que naquela época, ele tinha uns e outros colegas, e também a mim... A culpa é minha por ele ter se tornado o que se tornou, feito o que fez. 

– Você não teve escolha. Sua vida é a sua vida. – respondi, lembrando-me dos olhos furiosos e obsoletos de Frederick a me encararem. 

O rapaz pareceu envergonhado. – Ele lhe contou. – fez a constatação. 

Eu confirmei-a com a cabeça. 

Iniciando seu desabafo, Werther passou as mangas do casaco pelo rosto, buscando esconder sua comoção. – Eu sabia que Freddie dificilmente saia com os poucos amigos, nunca falava sobre os colegas da escola, ou enviava cartas para alguém... Mas ao mesmo tempo, não me importava com isso. Nunca me ocorreu que fosse porque ele não tinha uma vida social além de Otto e eu. Apenas imaginei por todos esses anos que Freddie estava entretido demais nos estudos para sair com os amigos, e não que ele usava os estudos para isolar-se das poucas pessoas com quem tinha contato fora de casa. 

– Lamento informar-lhe que ainda há muito para que você descubra. – bati a mão no ombro dele. Um gesto camarada de quem não estava muito bem para exercer a função de psicólogo naquele momento. 

E quem sabe, nunca mais estivesse. 

Werther virou-se, e nós dois fomos andando na direção do hotel onde ele se hospedara, que era caminho de minha residência. Tudo bem perto de onde nos encontrávamos. Como um cárcere de condenados espíritos eternos, a brisa leve rangia para amedrontar nossos ouvidos já cansados e fazer tremer os ossos. Não acredito que o rapaz ao meu lado tenha notado. Seu esgotamento parecia completo. 

A fúria da inconstância.Tempat cerita menjadi hidup. Temukan sekarang