Arcaae - Relatos de um Graham Bell

Prólogo

Saudações,

Eu sou o Graham Bell 2792, mas eu prefiro que me conheça como Micael, e não pelo nome da minha função... Certamente eu jamais irei conhecer qualquer um que esteja lendo estes relatos neste momento, pois não faço ideia de até onde a minha história terá chegado depois dos meus esforços para mantê-la preservada. Seja você quem for, pode estar em um mundo completamente diferente do qual eu fui gerado, e por isso tenho a obrigação de situá-lo antes de mergulhá-lo nos relatos de minha existência.

Se o mundo em que você vive ainda é saudável, eu realmente espero que você se assuste com a realidade em que o meu mundo se encontra, pois acabei descobrindo, que nos primeiros séculos de vida o meu mundo se desenvolvia de forma natural e saudável, a partir de diferentes biomas. Termos que para mim, são... Estranhos. Até parecem extraordinários demais para serem verídicos, pois jamais conheci essas existências, nem jamais poderia imaginar em ter conhecido alguém que viveu em tão longínqua suposta realidade.

As criações primordiais que deram vida ao meu planeta adquiriram um caráter mítico, pois já não existem desde tempos incontáveis. Nada mais se cria do natural. Nem mesmo o sol, a lua ou as estrelas mantêm uma existência concreta neste meu mundo, pois já não podem ser vistos há milhares de anos em nosso céu devido à espessa redoma de poluentes. Nós, Hominis Profanis somos gerados por um mecanismo robótico que sempre existiu em nossa era de existência, mantendo preservados os nossos genomas geneticamente alterados que nos permitem suportar a nossa atmosfera nociva e as chuvas sempre ácidas. Desde o ano da reescrição, que deu início a era de existência dos Hominis Profanis, não se tem conhecimento de nada que possa ter existido antes, e nada que se crie ou se mantenha de forma natural desde então. Nossos nomes são correspondentes ao título do DNA matriz que gerou a determinada Linha de função a qual cada um pertence, e depois de produzidos somos entregues aos nossos progenitores, que nos instruem em nossas funções a partir da idade de ativação da fala. Os pertencentes à mesma Linha de função, só se diferenciam uns dos outros pelo número de série que recebemos logo após sairmos do útero da HEVAGENITOR, que qualquer um pode identificar visualmente uma vez que os carregamos gravados em código de barras, mas não são tão importantes quanto os nossos nomes que indicam a linha de função á qual pertencemos dentro da sociedade, nossa função de vida, o motivo pelo qual existimos e para quê existimos. E em toda a extensão do planeta, a longa lista das linhas de função é a mesma para cada uma das elevações territoriais existentes, assim como o nosso dialeto hominum, que é configurado no intelecto de todos os Hominis gerados no planeta, independente da elevação que pertença. Ao todo, existem cinco elevações: a elevação Central, a Norte, a Sul, a Leste e a elevação Oeste, que correspondem às cinco maiores plataformas territoriais do planeta, cujas bordas íngremes possuem aproximadamente seis mil metros de altura do solo seco e rochoso do planeta até a planície das elevações onde habitamos. E cada uma das cinco grandes elevações habitadas se subdivide internamente em espaços geográficos conhecidos como Homelands, e cada Homeland é responsável pelo controle de um Laboratório Gerador de Hominis Matriz, ou LGHM, onde estão as HEVAGENITOR, que preservam os 27 genomas da nossa espécie e geram os nossos clones por demanda de substituição.