31º Capítulo

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Passaram-se alguns dias após essa visita. Nada mais se ouviu sobre Leonel e apesar da vigilância de Ricardo se manter, as conversas tendiam a terminar quando a rapariga percebia que ele procurava saber se ela havia pensado no que tinham conversado.

Dalila não queria tocar nesse assunto. A ideia ainda lhe parecia absurda por muito que soubesse que era verdade que conversar e estar com o feiticeiro da água fosse diferente do que estar com qualquer outra pessoa. Ainda assim, a ideia de uma relação assustava-a. Isso acontecia sobretudo pelo medo da relação falhar e todo o resto ficar comprometido.

- Ligaram da agência. Querem falar contigo. Importas-te, Ricardo?

- Claro que não. – Disse, levantando-se. – Disse que essa parte era da minha responsabilidade.

Dalila continuava a tentar acabar um trabalho para entregar na aula seguinte. Os testes e outros trabalhos, e sobretudo a sua cabeça cheia de pensamentos conflituosos deixaram muita coisa acumular-se. Tinha receio que as suas notas caíssem naquele final de segundo período.

Já Ricardo ia conseguindo organizar o seu tempo e também ajudar a turma mais uma vez a organizar uma viagem, desta vez apenas com fins recreativos. Não se falava em outra coisa.

A viagem para a Ilha das Sereias.

No princípio, Dalila pensara que seria a mesma ilha em que estivera quando teve que tomar conta do filho daquele casal perseguido pelos feiticeiros, apenas por um deles ser um bruxo.

No entanto, Filipe explicara-lhe que se tratava de outro lugar onde costumavam ir todos os anos. Não por acaso, mas como um ritual necessário aos quatro elementos. No caso, apenas aos três que restavam mas permitia-lhes regressar ao local onde a sua alma nascera. Segundo percebera, para ser feiticeiro não era preciso necessariamente ter um laço de sangue. Assim, segundo as histórias antigas dos feiticeiros, existe um lugar sagrado para as almas dos feiticeiros. Os quatro elementos partilham o mesmo local e essas almas poderiam ter ido para pessoas que nada tivessem a ver com feitiçaria.

 - É um sítio muito giro, vais gostar. – Comentou Jéssica com os braços de Tiago em torno da sua cintura, sendo que ele estava encostado à mesa diante de Dalila.

- Um bosque imenso. – Disse Tiago, fechando os olhos.

- Um vulcão infernal. – Acrescentou Filipe.

- Paraíso finalmente. – Concluíram os dois feiticeiros rindo-se em seguida.

- Já vi que a ilha tem tudo para vos agradar. – Falou Dalila, observando a satisfação com que falavam daquele local.

- É como se fosse um regresso a uma casa que sendo familiar, visitamo-la apenas uma vez por ano. Renovamos também o pacto que temos para com o mundo humano. – Disse Tiago.

- Pacto? – Perguntaram Dalila e Jéssica ao mesmo tempo.

- Nós somos os responsáveis pelo equilíbrio da Terra, por isso somos os elementos reais. Ao regressarmos a esse local todos os anos em troca de novas energias, também deixamos alguma lá para alimentar o ciclo da Terra.

- Vocês nunca tinham nos falado disso. – Comentou Jéssica.

- É um ritual privado e de que não se fala muito mas já que vocês as duas sabem deste mundo aparte, porque não contar isto? – Perguntou Filipe. – É algo muito importante para nós.

- Essa troca que fazemos alimenta-nos e alimenta a Terra. Se quebrássemos este ritual, catástrofes maiores se abateriam sobre o planeta. – Explicou Tiago.

- Mais do que já há nos dias que correm? – Perguntou Dalila.

- Não é totalmente da nossa responsabilidade que os humanos destruam o planeta e como tal, não podemos interferir sempre. Contudo, podemos procurar alertá-los e sensibilizá-los. Embora a consciência de cada um, também tenha um papel importante. – Disse Tiago. – Não podemos obrigar-vos a nada.

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