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~Sete meses depois~

do sítio em Pedro Leopoldo, Juliana deixou a Linha Verde, que ligava a capital a outros municípios da região metropolitana, e conduziu o carro para uma das principais vias da região norte de Belo Horizonte.

Depois de meses relutando, finalmente tinha transferido os animais para o pequeno sítio, seguindo o conselho de Guilherme, e tinha que dar o braço a torcer, a qualidade de vida de suas mascotes havia melhorado significativamente. Lá havia espaço para se exercitarem enquanto desfrutavam uma enorme área verde, o caseiro cuidava deles com a ajuda de um rapaz recentemente contratado, e ela tinha mais tempo para cuidar de outras coisas.

No apartamento haviam ficado apenas dois animais, entre eles a cadela cega chamada Linda. Ela teria muitas dificuldades para se adaptar a outro ambiente, sobretudo em um tão amplo, e Juliana não tinha encontrado coragem para levá-la, pois a cadelinha já havia decorado cada centímetro da cobertura, raramente trombava com paredes e objetos.

Piu-Piu também tinha visto de permanência vitalício na casa de sua tutora, pois tinha problemas cardíacos e Juliana preferia cuidar dele pessoalmente. Além disso, embora não possuísse uma só pena no corpo e quase ganhasse de Linda no quesito feiura, Ju considerava aquela ave tagarela a coisinha mais linda do mundo.

Já Pingo não havia tido a mesma sorte. A relação do pincher com a dona da casa era um caso indissolúvel de amor e ódio. Ju havia pensado seriamente em permitir que o cachorrinho também ficasse, devido às suas dificuldades de locomoção, mas ele já havia consumido muitos pares de chinelo, além de ter cavado um túnel em uma das belíssimas poltronas da sala de estar, em que passara a esconder migalhas e alguns pares de meia que roubava do cesto de roupas sujas. Quando a "encantadora" criatura começara a roubar sutiãs, todo o afeto que Ju nutria pelo pobre se transformara em exasperação.

Por esses motivos e outros mais que não caberiam nesta página, ela resolvera bani-lo. Sim, no caso daquele cachorrinho, tratava-se exatamente disso, banimento. Ju até que havia perdoado o diabinho, já haviam feito as pazes, mas ainda o queria bem longe da cobertura e das roupas íntimas dela.

Bem, essa era apenas uma dentre tantas mudanças que haviam acontecido desde a maravilhosa visão de um bebê emergindo da água, o que a trouxe de volta ao mundo dos vivos. O nascimento de seu sobrinho, Diego, havia sido um verdadeiro marco, um divisor de águas na vida de Juliana, e fora a partir desse dia que ela passara a estabelecer degraus em direção à felicidade. Que ela havia recuperado as esperanças. Tinha mudado totalmente os planos, prioridades e também a atitude diante da vida, das circunstâncias.

Claro que já não era como antigamente, quando aproveitava o presente como se não houvesse amanhã, sonhadora e muitas vezes inconsequente. Não era à toa que colecionava experiências desastrosas, principalmente em se tratando de relacionamentos amorosos. Mas a última experiência havia sido a gota d'água e, depois de chegar ao fundo do abismo, só lhe restara mudar de atitude. Já não seria pega de surpresa, seguiria os planos à risca.

Já estava se realizando profissionalmente, um grande avanço. Aceitando a sugestão do pai e de Marina, abrira uma empresa no ramo de eventos e, apesar de jovem, a pequena firma ia de vento em popa. Os anos em que havia atuado como anfitriã na casa do pai garantiam-lhe experiência, mas os contatos da família e a visibilidade que as festas oferecidas pelos Lebrons tinham nas colunas sociais asseguravam uma seleta clientela.

Outra de suas metas era perder peso. Já havia conseguido "enxugar" cinco dos dez quilos extras e continuava perseverante, fiel à dieta e aos exercícios.

Não era seu peso habitual ainda, no momento estava um tanto voluptuosa, nada parecido com o corpo esbelto que ela sempre tinha exibido. Era inegável que ela atraía os olhares masculinos com ainda mais força, mas, como essa era a última de suas aspirações, Ju estava firme no propósito de voltar à falsa magreza de antes. Verdade seja dita, nunca foi o tipo magrela, modelo de passarela. Seu biótipo não permitiria, sua musculatura era forte, tonificada por conta dos anos de rigorosos exercícios e ao treino do balé.

Amores Bandidos DEGUSTAÇÃOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora