Capítulo 6 - Vamos fazer isso juntos?

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Naquela segunda-feira eu não via a hora de sair da escola e ver a cara do Frederico

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Naquela segunda-feira eu não via a hora de sair da escola e ver a cara do Frederico. Quem seria a sua acompanhante da vez? Ou qual desculpa esfarrapada usaria para voltar para casa com a gente? Só que me surpreendi, pois nada disso aconteceu... Pensei em fazer um interrogatório para a Regi, mas ia dar muito na cara e eu não queria testemunhas.

Já era sexta-feira e o rapaz tinha tomado um chá de sumiço. A Regi tinha me contado que sairia com sua mãe de tarde. Eu esperei elas saírem. Tomei um banho, coloquei um vestidinho curto, prendi os cabelos em um rabo de cavalo alto e ironicamente passei o perfume que tinha ganhado de Mateus. Fiz-me de esquecida e fui à casa dela tirar uma dúvida da lição de matemática. Foi Frederico quem atendeu.

- Oi. A Regi não está! - respondeu ele o mais longe que conseguiu ficar de mim, quase fechando a porta na minha cara.

- Fred! Posso te chamar de Fred, não é? Posso entrar? Eu só queria dar uma olhadinha no caderno da Regi, para ver se eu copiei a lição certa... Eu sei que poderia esperar ela chegar... Mas é que amanhã eu vou pro shopping com a tia Nice e pode ser que não dê tempo de eu fazer... Me ajuda com isso... Fred... Vai?

A expressão dele parecia irredutível, pensou um pouco e falou:

- Está bem, mas seja rápida! E não fala para ela que eu mexi nas suas coisas!

- Sim, claro! Pode deixar que eu guardo mais esse segredo para você! Falando em segredos... - Fiz uma pausa até conseguir a completa atenção dele. Ele olhou-me assustado e eu expliquei:

- Eu estou com o mesmo problema que você Fred... - Fiz uma pausa olhando em seus olhos e revelei - Também sou virgem! Penso que a gente poderia resolver isso, ao mesmo tempo, o que acha? Aí sim você poderia fazer jus à sua fama...

- Você só pode estar louca! Todas as meninas se guardam e esperam o cara ideal, o momento ideal... E você vem aqui me oferecer a sua virgindade na bandeja? Qual é a pegadinha? Já sei: você não é mais virgem e quer me enganar?

- Sim donzela! Eu quero a sua virgindade! - respondi ironicamente irritada. - Fred, essa é a única explicação que vou lhe dar: Não existe o cara ideal. O momento ideal é a gente que faz. E eu não estou oferecendo a minha virgindade a você. Será uma troca, a minha pela sua. Já que nós dois não temos experiência nesse assunto, aprenderemos juntos. O que acha? É pegar ou largar...

E ele pegou. Como pegou... Deu um pulo em cima mim. Beijou-me com uma fúria que eu nunca imaginei que ele tivesse. Parecia que tinha umas oito mãos, pois eu o sentia em vários lugares ao mesmo tempo. Por um momento cheguei a lamentar ter ido com aquele vestido, o acesso ao meu corpo era muito fácil com ele. Um tanto ofegante, consegui me desvencilhar dele e informei:

- Calma Fred! Não precisa ser hoje! Muito menos agora! - Respirei fundo, arrumei o meu cabelo, desamarrotei o meu vestido e expliquei: - Será lá em casa. Você pula o muro. Daí ninguém vê a gente em situação suspeita. - Tive que me controlar para não dar gargalhadas relembrando do episódio das folhas de abacateiro. - Ou você quer que eu lembre pro resto da vida que perdi a minha virgindade na sala da sua casa e você nem banho tinha tomado antes?

Frederico caiu em si e concordou com a cabeça. Mais algumas coisas:

- A camisinha é de sua responsabilidade. Dá um jeito de me avisar o dia que ficará sozinho e olha lá, hein? Segredo! Nosso segredo! E não se preocupe: a gente não está namorando... E nem eu quero isso! O que vamos fazer é só a resolução conjunta de um problema em comum, certo?

Estiquei a mão para ele como se faz após fechar um negócio importante. Ele pegou na minha, me puxou para perto do seu corpo, beijando-me novamente só que dessa vez menos afoito e explicou:

- Só para selar o nosso acordo!

Fui para casa com o meu caderno nos braços. Sentei no sofá e refiz as minhas falas para ver se era isso mesmo que eu havia feito: negociado a minha virgindade com o Fred... Sim, era exatamente isso mesmo que eu tinha feito. E pior, eu não estava arrependida, estava ansiosa. Se a nossa primeira vez fosse igual aquele beijo alucinado que ele me deu... Prometia! Não pude deixar de lembrar as emoções que senti com o primeiro beijo que dei na vida: em Mateus. Foi bem diferente. Agora era sem surpresa, tudo programado.

- Putz! - resmunguei ao me lembrar que eu não programara o beijo que o Fred me dera e que em nenhum momento eu tinha percebido que ele tinha braços de polvo. Me confortei afirmando: - Tá, exceto por isso eu estou no controle.

Nos dois dias que seguiram fui trabalhar com a minha tia no shopping. Como o final de ano estava chegando o movimento estava bem agitado. No domingo, todas as manicures estavam atendendo quando chegou uma senhorinha aflita querendo fazer as unhas.

- Nice, preciso fazer as minhas unhas rápido! Meu filho virá logo me buscar e não posso deixá-lo esperando!

- Desculpe dona Judite! Hoje só com horário agendado! - explicou tia Nice.

- E a mocinha ali? - perguntou dona Judite apontando para mim.

- Ela não é manicure, é a minha sobrinha... - Tia Nice pensou um pouco e perguntou - Ela pode ir adiantando... Daí quando alguém terminar finaliza para a senhora. Pode ser?

- Você pode fazer isso Sabrina? - Olhou quase implorando para mim.

- Sim! - respondi já colocando um avental que estava pendurado.

Dona Judite era uma senhorinha muito simpática. A conversa com ela fluía. Estava toda animada porque o seu filho ia morar na cidade. Fazia tempo que não o via e queria estar impecável. Fiz as suas unhas do início ao fim. Estava acostumada a fazer as unhas de vovó e suas amigas, todas castigadas de lidar na terra e com os animais. Fazendo essa comparação as unhas de dona Judite eram fáceis de fazer. Não pude deixar de lembrar de vovó e uma saudade apertou o meu coração. Como ela fazia falta em minha vida. Quando terminei as unhas de dona Judite ela falou:

- Que mãos de fada, menina? Muito obrigada! Quantos anos você tem?

- Estou fazendo dezoito hoje - respondi.

- Parabéns! - falou sorrindo para mim; e desafiou a tia Nice. - Nice, agora a dona do salão vai ter que contratar mais uma manicure. Quero ser cliente VIP dessa mocinha aqui.

No final do dia, ganhei um percentual das unhas que fiz e uma gorjeta bem gorda da dona Judite. Como era o meu aniversário, eu e tia Nice fomos a uma pizzaria descontrair um pouco. Depois deste dia sempre que eu podia, ia fazer um biquinho no salão. A tia Nice não deixava me faltar nada, mas conquistar o próprio dinheiro tinha um sabor especial.

Quando chegamos em casa tinha uma garoa fina. Tia Nice foi ao quintal armar a sombrinha e me chamou:

- Sabrina, venha ver que estranho...

No canto direito do muro, local do episódio das folhas do abacateiro, tinha um urso de pelúcia cuidadosamente colocado embaixo de uma sombrinha cor-de-rosa. Nas mãos do urso tinha uma faixa escrita: "Feliz aniversário!"

- Você sabe o que quer dizer isso Sabrina?

- Significa que este abacateiro está derrubando ursos porque sabia que era meu aniversário. - respondi meio aflita, não escondendo a minha perplexidade.

- Nossa! Essa é a primeira vez que isso acontece! Não vejo a hora do meu aniversário chegar... Será que vai ter um urso protegido da chuva para mim também? - disse a tia Nice rindo e já tendo um bom palpite para o aparecimento daquele urso...

A escolha de Sabrina (Degustação)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora