ORDINARY GANGSTA ༌ JIKOOK

[01] DAMNNÉ NÃO TEVE TANTA SORTE ASSIM

devaneios por emmagrant

#ganguedolynx

As luzes de múltiplas cores brilhavam por todos os corpos suados, deixando cada epiderme translúcida às pupilas mais dilatadas. O jovem de cabelos dourados conseguia se camuflar como um camaleão entre os demais, não passava de apenas mais um em busca de divertimento dentro da boate fumegante. E quem pensava assim, já tinha seu primeiro engano sobre Jeon Jungkook.

Ele não tinha perdido quatro anos de sua vida para se formar em jornalismo, conseguir um bom emprego na indústria golpista de informação coreana, tendo que competir com os gigantes do cenário, e ainda receber um salário ridículo à toa. Com os seus recém-completos vinte e dois anos, queria muito mais que uma mesa no fundo da redação do segundo maior jornal de Busan, o The Bigusan, filiado do OhmyNews. Queria sua cara estampada no The Chosun Ilbo, dando entrevistas sensacionalistas para Yoo Jaesuk no horário nobre da TV. Já havia até treinado o script outras vezes para dizer pequenos episódios traumáticos, como quando o seu hamster morreu. Mas, além disso, o seu desejo era poder sentar de frente para o chefe e ditar as regras. Ele queria ser o big boss. Sonhava alto o nosso pequeno jornalista, isso ele não tinha receios em dizer.

Sabia que um estratosférico furo captado pelas lentes do seu telefone seria o suficiente. E era exatamente naquela boate onde estava o seu passaporte de ida à cadeira executiva de couro: Lynx — como era mais frequentemente chamado —, um contrabandista que acabou fazendo sua riqueza nas ruas do sórdido Distrito Saha, entre um beco e outro. Todos sempre estavam falando do tal Lynx, até que toda Busan tinha o nome do cara na boca. Não demorou muito para que uma das mais antigas gangues da região começasse a desmanchar, já que todos queriam trabalhar com o Lynx.

De um pequeno traficante de drogas e contrabandista de armas do Distrito de Haeundae, Lynx tornou-se, em apenas três anos, um dos mais procurados pela polícia de Busan e até pelos seus semelhantes da vida criminosa, principalmente após ter batido de frente com a gangue do mais temido daquelas bandas, o cara que dominava praticamente Busan inteira: Serval. Todos queriam a cabeça de Lynx numa bandeja, e assim colocá-la em exposição.

Era mais um filho da puta que comprava tudo com os seus dólares sujos. Mas, para o jovem jornalista, só importava conseguir uma única foto, mesmo que tremida, do rosto tão enigmático e incógnito do nosso querido contrabandista. Uma foto do cara e, no dia seguinte, Jeon Jungkook estaria vestido em um terno de um milhão de dólares na tela de milhares de leitores do The Bigusan. Poderia passar uma temporada na casa de férias da família no apartamento em Haeundae Beach e, possivelmente, conhecer o seu amor de verão no estilo do filme da Miley Cyrus, A Última Música. Aquela foto seria apenas o primeiro passo, estava esperando poder comprar o seu primeiro hectare na lua com os milhões que ganharia, ao lado do seu futuro vizinho Elon Musk — de preferência.

Seu primeiro desafio era saber por onde estaria o tal cara e como o encontraria; ou melhor: como saberia que era ele. A única informação que indicaria alguma coisa seria o seu estilo peculiar em cobrir os ombros e o rosto com uma pele de lince-ibérico; seu codinome mafioso se dava por esse motivo. E por qual razão ninguém nunca viu o rosto dele? Bem, os que viram seu rosto não estão mais vivos para poderem fazer um retrato falado do homem, e os que estão, possivelmente perderam as suas línguas. Jungkook não possuía um colete à prova de balas, mas tinha muita coragem para ter peito na vida, já que, para um jovem recém-formado, apenas isso era o que lhe restava: coragem e humilhação de sobra no mercado de trabalho.