Prólogo

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O âmbito sombrio rodeava a recém chegada ao Planeta Distante. Diferente de Neptunitra, os elementos existentes naquele local desconhecido não possuíam um aspecto pontudo e angular. Retilíneo e quadrado demais. Seus lábios cheios por fim se separaram, expelindo de sua cavidade bucal um esbaforido suspiro. O costume com sua nova residência ocorreria em um lento processo, e recordar-se de tal fator provocava fortes ondas de irritação em seu corpo. Sua testa enrugou-se conforme observava cada movimento executado pelos terráqueos. Comemorações estranhas realizavam-se com júbilo por seus participantes, discussões incessáveis e agressivas ocorriam no centro da trilha rochosa à beira da autopista, e dentre diversos acontecimentos esquisitos ao ver de Lorena Anastasiya Petrova ─ prenome irreal retirado de sua mente para ocultar seu verdadeiro prenome. ─ Passos pequenos e lentos eram executadas pelas pernas femininas da alienígena, que vagava perdida pela trilha rochosa. Não sabia onde abrigaria-se, e muito menos se conseguiria nutrir confiança nos habitantes deste Planeta Distante. Objetos resplandecentes traziam-lhe um grande desconforto conforme vagava sem destino pelo âmbito escuro. Em sua terra natal, era comum a existência de automóveis futuristas no qual os pneus lhes eram completamente desnecessário. A tecnologia avançada tornou-se uma normalidade em Neptunitra. 

As madeixas grossas realizavam uma majestosa dança aérea devido à brisa gelada que percorria pelo núcleo movimentado. A cada passo dado, mais elementos tornavam-se visíveis às orbes azuladas de sua portadora. Curiosidade era o que resumia perfeitamente Peregrina. A colisão de corpos em meio à um grupo enorme de pessoas causava-lhe fortes choques térmicos. O calor do corpo alheio contra seu corpo gélido não era tão crucial. Tinha ouvido falar sobre "choques térmicos" em seus estudos nas universidades biológicas de Neptunitra. Um choque térmico é provocado quando o calor de um corpo se mescla com um calor menor de outro corpo, resultando em tal fenômeno. Tal fenômeno era crucial para os viventes do planeta, segundo seus professores. O pequeno esbarrão dos Seres com seu corpo lhe servira como um pequeno teste. Sua mente tentava processar tamanhos elementos diversificados e em especial, as informações. Os globos azuis passeavam pelos cartazes comerciais, promocionais ou tecnológicos, lendo cada palavra digitalizada nas grandes cartolinas ─ ou nos inúmeros "tablets de prédio" como Peregrina nomeava o objeto digital. ─ O dispositivo implantado em seu cérebro lhe permitia descobrir informações a mais sobre o elemento ou indivíduo à sua frente ou ao seu redor. Todavia, o aparelho recusava-se a cumprir com suas devidas funções por um motivo aparentemente desconhecido ao ver da alienígena. Peregrina bufou frustrada no momento em que a palma de sua mão destra colidiu-se com a lateral de seu crânio. ─ onde o chip estaria implantado. ─ Os atos atraíram a atenção das pessoas que ali vagavam por algum propósito pessoal. Toda a atenção arrecadada por seu ato comum causava-lhe um grande incômodo. Peregrina encolheu-se com a aproximação inesperada de um jovem senhor. Ao ver do público, o indivíduo não aparentava ser uma ameaça. Mas para a alienígena a história é totalmente diferente. 

─ Está perdida, minha jovem? ─ indagou o senhor com sua atenção focada na ruiva encolhida. ─ Posso lhe ajudar se quiser. 

Intercalou seu olhar entre o homem e o público que a cercou. Malograda, a alienígena expeliu um suspiro de sua cavidade bucal. Aceitar ajuda de terceiros trazia-lhe péssimas sensações. Sentia-se uma inútil por cogitar a ideia de aceitar a ajuda desta pessoa.

─ Que lugar é esse? ─ perguntou a ruiva, acirrada. ─ E quem é você? 

Seus lábios ressecados formaram um sorriso simpático, surpreendendo Peregrina. Não esperava que um simples sorriso poderia regozijar-lhe. Os globos azuis e perdidos da mulher buscavam uma resposta para tudo que estava acontecendo. Segundo seus tutores, os seres viventes no planeta da galáxia Via Láctea, eram cruéis e impiedosos. Coração e mente viradas para um único sentimento que predomina na sociedade do planeta Terra, o ódio. Diferentemente da galáxia de onde a alienígena viera, a galáxia Andrômeda ─ conhecida pelos mortais como Messier 31 ─ os viventes de Neptunitra, localizado na galáxia Andrômeda, geralmente convivem na mais perfeita harmonia, não como os seres do planeta Terra. Bem...era isso que Peregrina pensava. Aquele homem é o oposto do que imaginava sobre os terráqueos.

Peregrina [Em Andamento]Onde as histórias ganham vida. Descobre agora