Capítulo 4 - O beijo perfeito

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— Sim, e foi ele quem passou mal na escolinha hoje. Você salvou a vida dele, sabia? — As palavras escaparam dos meus lábios, embaladas pela doçura da memória.

Lauren sorriu, balançando a cabeça em negação. João Lucas era, sem dúvida, uma criança levada quando se propunha a sê-lo.

— Fico feliz em ter ajudado. O Joãozinho é um bom menino, mas aprontou hoje enchendo o sanduíche com pasta de amendoim. — Uma risada breve escapou de seus lábios, contagiante como uma melodia suave. Não pude evitar sorrir junto com ela. — Ele sempre sabe responder meus questionamentos. Talvez isso venha de família, hm?

— Eu sou péssima nessa disciplina, certamente não é influência minha. — Ergui-me da cadeira, sentindo meus sentidos retornarem gradualmente. A tontura cedia, minhas mãos não mais suavam, concedendo-me a coragem necessária para servir a mesa com alguns petiscos e vinho, reservado apenas para Lauren.

— E o seu dia? Me conte como foi... — Encarei-a, servindo sua taça de vinho sob o olhar atento dela. Lauren irradiava uma aura de sofisticação em seu traje social, enquanto eu, segurando a garrafa de vinho, limitava-me a admirar, privada de degustar o conteúdo devido aos meus medicamentos.

A sede me assomava, o calor me envolvia.

Em seguida, Jauregui tocou com cuidado a mão que eu segurava a garrafa, indicando que já havia o bastante em sua taça. Maneei a cabeça em concordância, colocando a garrafa com rolha em cima da pia. Peguei os petiscos que eu havia cortado em cubinhos em potes tampados em cima do balcão e o coloquei na tijela em cima da mesa, para que Lauren se servisse à vontade com os palitinhos de madeira.

— E como foi o almoço sem a minha ilustre presença? — ela questiona antes de pegar o palito e o enfiar no queijo gorgonzola em cubo.

Conheci um pé rapado que estava querendo que eu pagasse as compras de quase quinhentos reais dele uma hora atrás. Ele me seduziu, fez-me rir assim como você naturalmente me faz quando está por perto. A diferença é que você tem um carro e vergonha na cara, já ele...

— Foi bom, por incrível que pareça a comida de hoje estava muito melhor do que a de ontem. — aproveitei para brincar e sobretudo distrair meus pensamentos, que já estavam vagando na maneira que Lauren degustava o queijo gorgonzola, como aquele petisco passou pela boca de lábios carnudos e convidativos, em como ela devorou aquele minúsculo pedaço de queijo olhando para mim e em como eu desejei que fosse um pedaço da pele do meu pescoço que estivesse entre os seus dentes e língua sendo saboreados ao invés do...

Por que estou pensando e fantasiando essas coisas, Deus?

Meus olhos se arregalaram a fim de denunciar de uma vez por todas as coisas que eu estava imaginando em silêncio. Desejando uma mulher. Eu havia acabado de despretenciosa e descaradamente desejar Lauren.

Que bom que ela própria não percebeu.

— Exceto a companhia, sim?

Ia responder de bate e pronto, mas acabei deixando uma risada escapar antes de conseguir rebater seus argumentos convencidos e engraçadinhos. Que insano essa sensação incontrolável de querer não desejar alguém, nunca havia acontecido assim antes.

— Você tem razão, pois almocei sozinha e só ao final um dos garçons se juntou a mim. — disse tudo muito rápido, de uma vez para cortar o assunto.

— Garçons?

Mas ela insistiu.

Insistiu porque precisávamos falar sobre aquilo.

— Sim.

— Nossa, isso me parece interessante. — Lauren comentou. — Nenhum garçom já se sentou para almoçar comigo. Quem é ele?

Cubo MágicoWhere stories live. Discover now