Capítulo II - Episódio 7

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Desde a notícia que o pai havia sido baleado, Vicky vivia uma onda de amargura dentro de seu peito. Lembrava de cada momento de sua vida ao lado do pai. O quão carinhoso e atencioso ele era com ela.

Entretanto, de uns anos para cá, Vicky tem se mostrado apática em relação ao pai, tanto quanto com a sua mãe. Sempre fugindo dos dois e irritada quando eles tentavam se aproximar.

Mas agora, com o pai na guerra e correndo risco de vida, não estava sendo fácil passar os dias em paz. Ainda mais depois da medida de segurança que Lívia, esposa do Imperador Rubellius, exigiu aos senhores e senhoras do Platô do Sol, o que incluía a família de Vicky.

Todos deveriam ficar trancados na Cidadela do Sol e morar lá enquanto a guerra não terminasse. Sua mãe tentou argumentar com ela e com a irmã do imperador, o que deixou Vicky muito feliz com a possibilidade de sair daquela prisão, mas no fim, ambas acharam sábio ficar ali até o fim de tudo.

E então, Vicky iniciou sua vida de tédio. Enquanto sua mãe tentava motivá-la a conviver com os outros jovens, outras milhões de coisas passavam em sua cabeça, principalmente que o menino que mais odiava, também estava naquela clausura.

Téo Pogonato, filho de Bartholomeu Pogonato, era uma pedra no sapato de Vicky. Sempre que a encontrava, a incomodava e a tirava do sério. A última vez que o havia visto, o menino havia rido dela e de sua mãe na rua. Seria um presente se ele tivesse ficado trancado do lado de fora da Cidadela, entretanto, o pai dele parecia sempre mais importante do que Anthony.

Os dias foram se passando, no ritmo em que Vicky considerou lento. Nada demais acontecia. As notícias eram escassas. O último acontecimento, e um tanto intrigante, foi a retomada de Aderol por parte do império que, apesar de parecer um sucesso, veio acompanhada da informação que o exército de Anthony e Bartholomeu haviam assassinado quase novecentos Auróptis que estavam acorrentados na cidade, enquanto os Terras-Ruins havia misteriosamente desaparecido.

Não demorou muito até a notícia da tomada de Nortal chegar ao ouvido de todos dentro da Cidadela.

A centenas de quilômetros da posição atual do exército imperial, os Terras-Ruins conquistavam outra cidade.

Em decorrência desses eventos, em uma tarde quente, que mostrava o alto verão, Vicky suava de escorrer água pelo corpo, foi quando o irmão mais novo do imperador surgiu no salão principal, em frente ao trono e todos se silenciaram.

Aquele momento de silêncio parecia não terminar. O movimento do corpo e dos longos cabelos loiros do homem deixavam Vicky hipnotizada. O sol entrava pelos vitrais e faziam os olhos dele brilharem em um intenso azul, e com seu sorriso enigmático, avançava até a frente do público.

Naquele instante, Vicky sentiu um fogo crescer dentro de sua barriga e subir até seu peito. Nunca havia sentido aquilo antes. Tinha certeza de que esse sentimento estava estampado em sua face, e quis se esconder para que não pudessem perceber o que estava sentindo.

Entretanto, logo em seguida, um sentimento de vergonha e remorso, tomaram conta de seu ser. Sabia exatamente o que estava sentindo e não parecia certo. Ferdinand Rubellius era um homem velho demais para ela, e ainda mais, casado. Pai de uma mulher quase formada, muito mais velha que Vicky.

A vergonha foi removida quando a voz límpida de Ferdinand ecoou pelo salão.

— Em poder dado a mim, pelo próprio imperador, eu trago a sua palavra.

Dessa vez, um silêncio ainda maior tomou conta da Cidadela.

— Eu, com poderes concedidos a mim, declaro a partir de hoje removido o limite para uso da magia. Quem controla a magia ou tem alguma afinidade, a partir deste momento, pode executá-la sem precisar obedecer o limite imposto pelos imperadores do passado. Ainda sendo considerado um crime, quem o fizer, terá o perdão do imperador Rubellius se o fizer a favor da causa do império contra os movimentos do Terras-Ruins. Essa é a minha palavra!

A saga dos filhos de Ethlon II - AntítesesOnde as histórias ganham vida. Descobre agora