— Não precisa ficar me vigiando — Charlize falou de repente.

Meu coração parou de bater por um segundo. Soltei um suspiro entre os lábios e tentei sair do embaraço ao abrir a porta totalmente, revelando o interior da sala.

O aposento era composto predominantemente por estantes de livros de diversos tamanhos, além de um estofado de aparência confortável. Minha monitora estava sentada na única escrivaninha, cujo topo estava preenchido por mais outros livros grossos.

— Desculpe. Eu não queria atrapalhá-la — suspirei em desânimo. Na realidade podia perturbá-la sim. Ela tinha muito jeito de veterano babaca. Era um sinal claro para sair da sala rapidamente e deixá-la sozinha, antes que alguma merda acontecesse. Mas, por algum motivo desconhecido, permaneci com a mão sobre a maçaneta, encarando-a. — Eu só estou perdida.

Charlize encostou aconchegantemente no seu assento. Ela pousou a caneta sobre o caderno e fitou-me de volta. Seus olhos celestiais eram a pura perdição, hipnotizantes de maneira irreal. Desviei a atenção para sua tarefa, depois de ser praticamente devorada. Perguntei-me o que ela fazia ali sozinha. Mas, julgando sua personalidade pouco cativante, não seria estranho se ela não tivesse nenhum amigo. 

— Então você é uma espiã — Charlize batucou os dedos sobre a mesa.

Ela havia dito aquilo de maneira tão lenta e gravemente, pressionando cada palavra contra minha pele. Senti o impacto mesmo quando evitei prestar atenção na tonalidade da voz dela.

— Não. Estou perdida.

Havia soado um pouco rude, mas não me importei. Algo dentro do meu peito fazia com que meu espírito se tornasse grosso gratuitamente com quem não merecia minha bondade. Tudo bem que eu não a conhecia tão bem, mas não gostava de sua forma de agir.

— Para qual sala você quer ir? — ela perguntou depois de alguns segundos me analisando fervorosamente. Será que meu rosto denunciava minha irritação repetina?

— Professora Stewart — falei.

— Entendi — ela virou o rosto e retomou à tarefa de rabiscar alguma coisa naquelas folhas.

Arqueei minhas sobrancelhas negras, desacreditada na atitude desprezível dela.

— Você não vai me informar onde fica?

Parecendo se esforçar demais para voltar sua atenção ao outro lado, ela piscou seus olhos cínicos para mim.

— Você não perguntou.

Mordi meus lábios inferiores, tentando não xingá-la. Contei mentalmente até três e, falsificando um belo sorriso de covinhas, perguntei:

— Por gentileza, como posso chegar na sala da professora Stewart?

Ela pousou uma mão teatralmente sobre o peito.

— Não sei.

Eu não podia acreditar na cara de pau. Engoli em seco, a saliva dura custando a se formar em minha boca. Soltei finalmente a maçaneta e cruzei os braços da maneira mais desafiadora que eu poderia encontrar na minha mente.

— Por que você me fez perguntar?

— Eu não fiz. Eu só disse que você não tinha perguntado — Charlize falou em tom monótono como se aquilo fosse óbvio. Ela entrelaçou os dedos. — Eu estou tentando terminar a correção dessas provas. Você poderia perguntar na porta ao lado. Talvez o Fernandes saiba te informar melhor.

— Sim, talvez ele saiba mesmo — retruquei, girando meus pés para sair dali. Parei um instante do lado de fora, prestes a abandonar a sala, mas retornei com dois passos. Charlize me contemplou novamente; ela não estava nem um pouco abalada. — Eu poderia mudar de monitoria?

Hello Darkness | Romance Lésbico (Degustação)Where stories live. Discover now