Havíamos parado em um posto e estávamos os três escorados no carro esperando o tanque se encher. Durante esse intervalo notei que ambos os mais velhos tinham a mania de me tocar e às vezes roubar alguns beijos meus — não que eu me importe –. Ficamos lá mais alguns minutos esperando o tanque se encher. E, mesmo após o mesmo estar cheio ficamos mais alguns minutos apenas observando a tudo
–No fim para onde a gente 'tá indo?–perguntei e eles me olharam. Yang ajeitou a blusa colorida e segurou em minha mão enquanto o outro circundava minha cintura com os braços fortes
–Hoje é o dia do passado–Yang comentou e concordei mesmo sem saber do que realmente se tratava. 'Tava bom desse jeito, meio misterioso. Mas no fundo eu sou — muito — curioso, então perguntei
–O que significa dia do passado?–empurrei os óculos que insistiam em cair pelo meu nariz
–Voltamos a melhor época. Sem brigas por coisas idiotas, os adolescentes se divertiam apenas com um toca disco ou um violão. Voltamos à nossa época, a qual infelizmente perdemos–Yin explicou e pensando melhor, ele estava certo. Talvez os anos sessenta tenham sido os melhores
–E claro! Nessa época foram lançadas as melhores musicas. Tipo "Eu sou terrível"–Yang piscou em minha direção e Yin soltou uma gargalhada
–Não há como discordar–Yin entrou de volta no carro sendo seguido por nós. Aceleramos o carro e voltamos a estrada
–Eu nunca ouvi "Eu sou terrível"–comentei e recebi um olhar incrédulo de Yang
-Você vai ouvir agora! Não quero nem saber!–afirmou e concordei sorrindo com sua animação
Um toque animado começou e eles se balançaram junto da música. De certa forma eu achava que essa musica os definia. "Você não sabe de onde eu venho. De onde eu sou ou o que tenho". Realmente aquela música parecia descrevê-los. De onde eles vinham? De onde são ou o que tem a oferecer ao mundo. Mas, pensando bem, o mundo que teria que se preparar para eles. E agora para mim. Estamos chegando
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Me sentia nervoso, hoje seria o primeiro dia que chegaria na escola com a jaqueta dos BBC's. Suspirei e parei em frente ao portão me surpreendendo com a visão que eu tinha. Yang e Yin conversavam e sorriram quando eu cheguei. Éramos observados por todos que enrolavam para ir pra sala. Me aproximei a passos lentos e eles sorriram deixando um selo em minha boca cada um. Corei mas me senti feliz, eles não tinham medo de mostrarem a "gente"
–Imaginamos que você se sentiria um pouco desconfortável então viemos te fazer companhia–Yang sorriu mais ainda
–Não que vá mudar muita coisas agora que você está com a gente–Yin bagunçou os próprios cabelos e ri baixinho
–Vamos?–chamei e eles acenaram. BangChan segurou minha mão e ChangBin passou seu braço pela minha cintura — como no posto de gasolina — iniciando nossa caminhada até a sala de aula
Entramos e conversávamos normalmente mesmo tendo todos aqueles olhares direcionados a nós. Sorri pequeno e continuei a andar com eles em direção a minha sala. Ajeitei a jaqueta e sentia os olhares queimando nas minhas costas mas ignorei. Então era isso que eles sentiam quando todos os encaravam. Entramos na sala e notei que havia uma mochila amarela em cima da minha carteira, havia um espaço e aí estava a mochila de ChangBin. Os outros se sentaram e indicaram com a cabeça para me sentar entre eles. Sorri e me sentei largando a mochila roxa – insisto ser lilás – no chão
–Eu pedi para me transferirem para essa sala, agora eu estudo com vocês!–BangChan sorriu e não resisti a retribuí-lo. O mais velho entre os três voltou a segurar minha mão e fiz o mesmo com ChangBin
Aos poucos a sala ia enchendo e todos nos olhavam. Me senti um pouco desconfortável mas ignorei a sensação focando apenas em conversar com os outros. Conversávamos sobre assuntos aleatórios mas tudo ficava interessante. Até mesmo os ingredientes do ketchup e seus males ao corpo humano — aparentemente descobrimos um interesse incomum em falar sobre coisas aleatórias de um modo sério, quase que cientificamente –. Conversamos até o professor entrar em sala. Abri minha mochila e peguei o livro retirado do "covil". Olhei para o lado e Yin colocava os fones de ouvido e deitava a cabeça como se fosse dormir. Virei para o outro lado e vi Yang abrir a mochila tirando um pacote de lámen e comendo com hashis. Segurei a risada e balancei a cabeça negativamente voltando a me concentrar na leitura do livro. E dessa vez não tive que repetir nenhuma página, a sala fica estranhamente silenciosa com a presença dos dois BBC's originais
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Bateu o sino para o intervalo e me espreguicei preguiçosamente na carteira vendo os outros dois se levantarem
–Vamos logo, estou com fome!–ri. Além do pacote de miojo que BangChan comia, o mesmo tirou um sanduíche natural nas outras duas aulas. A boca ele não se mantinha sem comida aparentemente
–Tá brincando né? Você comeu um pacote de lámen cara! E eu ainda vou ter que pagar seu lanche?–Yin perguntou indignado
–Vai! Se reclamar eu como o dobro que o normal–Yang ralhou e eu ri vendo a briguinha totalmente infantil deles. Eu nunca – reforce o nunca – iria imaginar que eles tem um lado como esse
–O seu normalmente já é muito seu idiota!–xingou e não me aguentei e gargalhei fazendo os outros rirem junto
–Vamos! Eu continuo com fome–Yang nos empurrou até o refeitório e entramos atraindo todos os olhares
Ignoramos e fomos para a fila do lanche. Em um minuto todos os alunos esfomeados haviam saído da fila nos deixando passar na frente. Fomos e peguei algo leve enquanto Yang pegava de tudo — eu não brinco quando eu digo que ele pegou de tudo — e Yin só uma lata de refrigerante — quem pensou em Coca Cola, bingo! Você acertou —. Pagamos e saímos do refeitório seguindo para a escada. Nos sentamos e voltamos a falar de assuntos aleatórios
–Devemos mostrar nosso maior segredo?–Yang perguntou divertido e Yin fingiu pensar
–O que? Que segredo?–perguntei terminado de mastigar
–Esse!–ChangBin puxou um baralho de uno da jaqueta. O encarei como se ele fosse louco. O que aquilo tinha demais?–Sabe quando diziam que a gente ficava fazendo nossos planos malignos? Na real a gente ficava jogando uno
–Os boatos começaram porque as vezes a gente se exaltava e acabava xingado–BangChan falou sorrindo envergonhado
–Mas eai? A gente vai jogar ou não?–perguntei e eles gargalharam
Yin embaralhou e distribuiu. Começamos a jogar e a cada minuto eu ria da forma como a gente se exaltava num simples jogo de carta
–Puta merda ein BangChan! Um come quatro?! E a nossa amizade? Onde fica?–Yin faz drama e eu ri sentido até mesmo uma lágrima escorrer pelo canto da minha bochecha. A limpei e observei Yin, a contra-gosto, comer mais quatro cartas do baralho
E assim voltamos a jogar. E talvez, só talvez tenhamos passado o resto do intervalo — e quem sabe os últimos horários de aula — jogando uno
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Bad Kids
Teen FictionCrianças sabem a hora de serem más, e a hora de serem o demônio em forma humana {BangChangLix | ChanLix | ChangLix | ChanChang | +18}