A moça da janela

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Era uma moça sonhadora. Acreditava que tudo podia ser resolvido com bons pensamentos e desejo de que tudo fosse da forma que sonhava. Vivia presa em seu quarto, reclusa, não sabia o motivo, mas não desejava ver o mundo novamente, como se uma grande tragédia tivesse lhe ocorrido. Seus pais nunca deixavam passear na cidade ou ir além da floresta.

Passava os dias a fio em sua janela observando o horizonte imaginando um mundo perfeito, o seu mundo, com o qual sempre sonhava nitidamente e fugia para lá em sonhos sempre que se cansava do "mundo real". Mas a sua maior frustração era  a de não poder ficar para sempre naquele universo tão magnifico que parecia ser o único a entende-la e o único que ela podia compreender perfeitamente.

 Naquela noite, do seu quarto, ela ouvia a musica vinda do salão. era um banquete regado a muita musica, risos estrondosos e escandalosos, vinho e hidromel. Apesar dos esforço, ela não quis participar da festa, sentia-se vazia e fora de contexto, aquelas pessoas agiam de forma estranha com ela... todos a tratavam de forma diferente, e a pobre moça não entendia o motivo. Se participasse da festa seria obrigada a usar muitos enfeites e se colocar num apertado espartilho, usar adornos para que o seu orgulhoso e rico pai a exibisse como se tivesse capturado uma divindade.

Ela estava cansada de tanta exibição e de tudo ao seu redor, ao mesmo tempo em que adoraria participar e festejar com todos o aniversário do reino.  

Por ser de uma beleza nunca vista na terra, seus pais a mantinham longe do contato com as pessoas, tinha acesso somente ao interior do castelo. Estava com fome, decidiu que tomaria vinho e comeria queijo coalho com azeitonas. Desceu as escadas indo até a cozinha. O cômodo estava cheio e confuso. Muitos serviçais e cozinheiros foram contratados para preparar a grande festança. Assim que entrou, todos se calaram abruptamente, continuaram trabalhando, mas em silencio e de forma acanhada. 

_ Não se importem comigo. Continuem conversando. Vim buscar algo para comer. 

Não conseguiam proferir uma palavra em sua presença, olhavam fixamente para suas panelas e tinham expressão de estarem escondendo algo estampados em suas faces, como se a voz da moça os tivessem transpassado. 

Ela voltou rapidamente ao seu quarto, odiava essa expressão que exibiam para ela, a forma como sempre a tratavam. Serviu de vinho uma longa taça de prata entalhada, e com uma adaga de ouro, presente que mais amava, ganhou de um desconhecido, cortava pedaços pequenos de queijo e espetava as azeitonas.  Alimentava-se e olhava a cidade por sua janela. Podia ver tudo de lá de cima.

Uma cidade extensa, tinha habitantes pitorescos, e era muito movimentada. Naquela noite estava fervendo a cidade toda estava em festa, pois estava completando 500 anos de existência. O centro da cidade estava tomado de mercadores e artistas, na arena do castelo os cavaleiros travavam justas e combates singulares por donzelas ruborizadas na plateia, moças voluptuosas aproveitavam os cantos escuros e conversavam de forma ousada com homens de seu interesse, crianças corriam por todos os lados juntas jurando lutar e proteger o reino quando elas crescessem, cortesãs exibiam joias resplandecentes em seus pescoços e uma beleza invejável enquanto conversavam com senhores ricos e importantes ao pé do ouvido, pareciam acompanha-los. Logo mais adiante a floresta tornava-se densa e tomava dois castelos em direções opostas, o da esquerda estava feito em ruínas, o castelo da direita parecia estar recém construído, mas ainda assim tomado por vegetação. Rezava uma das varias lendas do reino, que aquele castelo em ruínas pertencia há uma deusa que sentia prazer em manter tudo em perfeita ordem e em perfeita harmonia, possuía um gênio difícil e era muito forte, mas um dia ela perdeu o controle sobre seus poderes e transformou o reino em lavas de vulcão, e se trancou em sua fortaleza, deixando que a floresta e as sombras tomassem conta dos dois castelos que governava. A partir da lava, o reino foi se reconstruindo usando os minérios riquíssimos para se fortalecer. No horizonte uma linha fina e brilhante indicava ser o mar.

A Moça da Janela e outras fantasiasOnde as histórias ganham vida. Descobre agora