Cemitério de rosas CAPITULO XIII

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Os dois meses em que ficara naquele local, haviam passado devagar, tão lentamente que às vezes sentia como se fossem anos, mas para Emmet, aquilo tudo havia ocorrido tão rápido quanto uma semana rotineira. Egbert se mantinha em pé, pois sua inquietude o impedia de sentar-se. Ele lembrou da noite em que fora confundido com um cadáver e trazido para o cemitério, de seu primeiro encontro com as velhas masoquistas, na madrugada que quase fora morto pelos fanáticos e em sua busca pela sobrevivência após ser sequestrado pelo mascate. Ele não sabia o porquê havia começado a pensar tais coisas. Talvez estas lembranças rodeassem sua cabeça, porque no fim, todos pensam no começo. Egbert tentou afastar estes pensamentos de sua mente ao falar com Emmet novamente — Eles são como animais, não são? Irão nos estripar quando nos encontrar — Emmet os odiava, assim como um puritano odeia um pecador, pois suas atividades profanas se estendiam por tempos longínquos — Não, não são como animais. Animais costumam matar quando se sentem ameaçados ou famintos, estes matam por prazer. Eles são algo pior, algo que não consigo descrever. Maldito seja o dia em que deixaram as florestas para seguirem tal religião e maldito seja a vida destes infames profanos — Egbert sentia-se dominado pelo medo cada vez mais e mais.

Ali ele jazia ainda em pé, buscando visualizar uma saída, mesmo que soubesse da não existência da mesma. Emmet, pelo contrário, parecia calmo e continuava a perder-se em seus devaneios filosóficos — Àqueles tolos encaram seus ensinamentos apenas como um conforto e não como uma busca pela sabedoria, eles irão matá-lo e amanhã irão orar para que seus corações não se sintam tão pesados. Eles anseiam pelas nossas mortes, sem medo, crentes em seus destinos certos, mesmo que suas vidas sejam anárquicas — O jovem subiu as escadarias com passos espaçados, rumo ao andar superior. As velas ainda estavam acesas. Além dos limiares, com sua visão estreita seguindo pelo buraco da fechadura, ele pôde vê-los, dezenas deles, armados e exaltados como sempre, mas agora em maior número do que a última vez. Um deles empunhava com o braço esticado a única fonte de luz que possuíam, uma tocha. A chama era balançada energicamente, revelando os rostos entre sombras espectrais, daqueles que empunhavam armas cortantes ou de fogo, e àqueles que de alguma forma estranhamente bizarra, jaziam com olhares doentes, mas vivos ao mesmo tempo. Um deles, alto, magro e com roupas finas, empunhava uma lança de metal tão longa quanto seu próprio corpo, ele a estocava no ar, ansiando pelo momento em que fosse usá-la. Outro tinia as lâminas brilhantes de uma faca longa e pontiaguda e um cutelo. Em sua face, mesmo estando suja de sangue assim como seu avental, era possível ver sua feição risonha e débil. Um terceiro, um caçador frio e paciente, se mantinha sentado no chão empunhando seu mosquete, acompanhado de dois grandes cães negros, que observavam a tudo de orelhas em pé. Todos possuíam ofícios diferentes, vinham de lugares diferentes, mas tinham algo em comum, possuíam as mesmas crenças, sempre delirantes e cegos pelo o que lhes era ordenado. Mas a presença mais imponente de todas era daquele homem que empunhava tal chama. Em suas palavras, ele falava aos demais o que queriam ouvir, alto e com uma voz imponente, capaz de prender a atenção de todos, assim como já havia feito incontáveis vezes — Senhores, sei que muitos aqui vieram de longe, abandonaram seus afazeres e seus lares para seguir minhas palavras. Senhores, eu lhes sou grato por seus espíritos empenhados em nossa causa. Hoje será uma noite gloriosa, onde sob o testemunho de Walemath, os pérfidos pecadores serão punidos. Hoje eles sentirão o frio de nossas espadas e o calor de nossos mosquetes. Esta noite vocês triunfarão. Estes homens que jazem nesta cripta, os profanadores do mal, os ceifadores da fertilidade na terra, irão ter um fim — Em seu braço uma grande tatuagem negra simbolizando a imagem de Anguiravit, a víbora fantasma pertencente àquela crença. Ele se aproximou dos demais, iluminando suas faces sorridentes enquanto seu andar acompanhava suas palavras — Lembrem-se todos! Vocês são enviados de Walemath, são os encarregados de expurgar o pecado e eu sou àquele que lhes guiara por este caminho tortuoso! Hoje, amanhã e até o fim de suas vidas! Walemath seja louvado! — Todos ali repetiram seu louvor como um grito de guerra com uma só voz. Levantando suas armas, todos pareciam bárbaros — Tragam a chave para o nosso triunfo! — Ordenou ele. Ao som de gritos comemorativos, os demais abriram caminho para um aríete, tão grande e robusto que era carregado por quatro homens. A destruição dos limiares era inevitável.

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⏰ Última atualização: Apr 25, 2019 ⏰

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