Capítulo 2: o depoimento de Márcio Torres

129 27 84
                                    


Márcio chegou à delegacia pontualmente, vestindo roupas sóbrias e um tênis impecavelmente limpo. Tinha um curativo na testa e dois arranhões no rosto. Delegado Guimarães percebeu que o garoto estava estranhamente tranquilo para um interrogatório. Apesar de uma pulga atrás da orelha, preferiu deixar que ele contasse a sua versão da história.

- Senhor Márcio Torres, quero que compreenda a importância do seu relato para este caso. Quero que conte tudo o que sabe sobre o que aconteceu naquele dia, na trilha para a Pedra Branca! – disse, acendendo um cigarro.

O jovem continuou sério, com os olhos fixos no delegado, sem piscar uma vez sequer. Era como se estivesse quase catatônico, ou ocultando algo muito perverso. Antes que Sargento Nogueira interferisse no interrogatório, Márcio decidiu quebrar o silêncio de uma maneira pouco usual:

- Sua sudorese indica um alto índice de ansiedade.

- O que foi que disse? – questionou Guimarães.

O jovem o encarou com olhar profundo. O delegado percebeu que, sutilmente, suas pupilas se expandiram.

- Para aplacar a sua compreensível expectativa, vou contar o que aconteceu na floresta. – respondeu o estudante de Biologia. Sua expressão mudou abruptamente para um olhar menos confiante e sofrido. - Mas não quero que me chamem de louco, porque eu não sou! Eu vi com os meus próprios olhos!

- Viu Potyra morrer?

- Não! Você não compreende! Não era a Potyra! Eles roubaram o corpo dela!

- Eles quem?

- Os extraterrestres!

Impaciente, Guimarães olhou para Nogueira e se debruçou sobre a mesa:

- Garoto, compreendo que sua mente deve estar confusa com tantos horrores, mas não estamos tendo muito progresso por aqui. Preciso que me conte, desde o começo, o que aconteceu naquela saída de campo! – terminou a frase com um soco sobre a mesa do interrogatório, na tentativa de intimidá-lo.

Percebendo o olhar de Nogueira, que fez sinal para se acalmar, Delegado Guimarães continuou em tom mais ameno:

- Precisamos entender por que Potyra morreu e onde está o Professor Leandro! Famílias querem respostas, a sociedade pede respostas e VOCÊ vai ajudar, porque VOCÊ estava lá! Então, nos conte exatamente o que aconteceu naquela floresta!

Márcio começou a suar frio e fechou os olhos como se lembrasse de coisas obscuras do passado. Lampejos de memórias sombrias o atormentavam a cada vez que suas pálpebras se cerravam. Raiva, medo, egoísmo e covardia se mesclavam como uma sopa emocional em seu sangue. Não tinha mais como escapar do confronto com a justiça. Com uma expressão assustada, ele iniciou sua narrativa:

- A gente já tava há um tempão planejando aquela saída de campo. O professor Leandro só falava nisso. Nós tínhamos que fazer um levantamento da biodiversidade pra disciplina de Ecologia II, mas...

Ele pausou, como se escolhesse melhor as palavras. Depois, continuou:

- ...eu tenho quase certeza de que o professor tinha outra coisa em mente.

- Que tipo de coisa?

- Durante as aulas, ele não comentava muito. Mas, no laboratório, ele andava esquisito, lendo livros de ufologia e pedindo mapas topográficos emprestados ao departamento de Geografia.

FENÔMENO OVNI e o caso do professor Leandro FélixOnde as histórias ganham vida. Descobre agora