LXX. A Convenção das Águia-Noturna

81 18 185
                                    

Asmin caminhou calmamente pela Floresta até chegar onde imaginava ser o covil da Rainha Águia-Noturna. Uma antiga árvore gigantesca cujo tronco oco servia como entrada para a caverna habitada pelas bruxas do clã.

A Flor-Invernal não sabia exatamente o que a levara até ali, mas sabia que se sentia mais à vontade com as bruxas daquele clã do que com as Fura-Coração e Ferro-Brasil da Gruta. Estivera a ponto de lutar ao lado delas, afinal. Queria apenas ter um lugar para ficar que não fosse o ambiente frio e tenso da morada da Matriarca.

Esperava encontrar algumas das bruxas que conhecera na marcha para encontrar os humanos. Mek, a que liderara seu grupo, devia estar ali em algum lugar. Talvez ela soubesse o que fazer com uma Flor-Invernal desabrigada.

Mas o que ela encontrou quando entrou na árvore morta foi algo que não esperava: várias bruxas se aglomeravam ao redor de Nualla Águia-Noturna, que ostentava seu orgulhoso broxe do clã. Todas carregavam diferentes bandeiras com símbolos de todos os diferentes clãs – menos a bigorna incandescente das Ferro-Brasil – e falavam em voz alta. Asmin contou doze bandeiras e mais de trinta bruxas, que falavam animada e simultaneamente, tornando difícil de identificar o assunto.

— Que faz aqui, Asmin? — Mek perguntou, aproximando-se por entre a multidão. A Flor-Invernal deu um pulo, não esperando que a palavra lhe fosse dirigida.

— Vim para ver como estão as coisas. — Ela respondeu. — O que está acontecendo?

— Algo que eu devia ter previsto que ocorreria, eventualmente. — Mek parecia preocupada e olhava para sua princesa como se temesse pela vida da mesma. — Nualla irá desafiar Ode Ferro-Brasil.

— Isso é uma convenção? — A bruxa assentiu com a cabeça.

— Há tempos que Nualla deseja ser matriarca. Aparentemente, ela vê a tensão na Gruta como momento oportuno para reunir suas apoiadoras. — Mek apontou para todas as bandeiras. — Doze bruxas de nome, poderosas. Estão se preparando para caminhar em direção à Gruta nesse exato momento.

Asmin engoliu em seco. Viera em busca de um lugar pacífico para relaxar e encontrara bruxas prontas para a guerra. Ao menos era o que parecia, ainda que o Desafio não fosse necessariamente um confronto violento, a sensação era de que as bruxas estavam dispostas a ir até o fim com suas revindicações.

— Vem conosco, Flor-Invernal? — Nualla surgiu detrás das duas.

A herdeira das Águia-Noturna estava vestida num manto negro com o desenho de uma águia bordado em linhas prateadas como se estivesse abraçando a bruxa. Os cabelos azul-claros e os olhos que eram uma mistura de azul com lilás combinavam perfeitamente com o tecido. Ela vestiu o capuz antes mesmo que Asmin pudesse responder. A loira encarou Mek antes de responder.

— Bem, acho que não me fará mal assistir a esse espetáculo. — As duas bruxas sorriram com a confirmação, provavelmente contentes por terem apoio da única Flor-Invernal na Floresta.

Perguntando-se onde Dreika estaria se enfiando naquele momento, Asmin entrou na fila que se formava atrás da Convenção e não falou mais nada durante todo o caminho até a Gruta.

— Por que agora? — Ela perguntou baixo, quando pararam de caminhar, à beira da clareira que ficava em frente à caverna da Matriarca.

— Porque Fedra foi derrotada em Linea, uma das fadas veio avisar esta manhã. — Mek respondeu, quase cochichando. Asmin tentou esconder a surpresa que aquela informação trazia. — Nualla considerou que talvez ela estivesse enfraquecida o suficiente para que ninguém tentasse defendê-la.

Elas foram silenciadas quando Ode saiu da caverna, escoltada por Malthus e algumas outras bruxas Ferro-Brasil, encarando a multidão que aos poucos começava a se reunir para assistir ao que viria. Todas as Águia-Noturna e demais bruxas da Convenção de Nualla permaneciam silenciosas como túmulos, apenas aguardando. Serena e fria, a princesa aproximou-se da Matriarca, as duas se encarando olho-a-olho.

Fura-Coração (COMPLETO - EM REVISÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora