Capítulo 4

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Os meus dedos tamborilavam na minha perna secamente enquanto ele me contava o quanto estava desejoso do seu próximo jogo de futebol no fim-de-semana e o quanto seria bom se eles ganhassem porque assim ficariam isolados na pontuação. Na verdade, não me interessava muito o tema de conversa futebol mas eu fazia sempre um esforço por parecer interessada. Temos interesses muitos distintos e às vezes desejava que ele fosse um pouco diferente e mais parecido comigo. Acho que é algo que nos prejudica um bocado mas penso que para ele está tudo bem assim, por isso também não me preocupo muito. Sempre que estou ao pé dele não sei muito bem o que fazer, sinto-me sempre inferior porque sou apenas uma rapariga no meio de muitas elas naquela escola enquanto ele é o Daniel, um dos rapazes considerados mais giros e mais desejados. Sinto-me realmente muito intimidada por ele.

Ele estaciona o seu carro e sai. Espero que ele seja cavalheiro o suficiente para me abrir a porta mas ele não o faz e eu suspiro. O que é que eu estava a pensar? Apresso-me a sair e dou uma desculpa que não estava a conseguir tirar o cinto pelo facto de ter demorado a sair do carro, para ele não se aperceber que eu estava à espera que ele me abrisse a porta como os típicos namorados fazem às suas namoradas. Ridículo da minha parte, eu sei.

Ele encolhe os ombros e pega-me na mão guiando-me para a porta do restaurante. Parece-me demasiado chique e demasiado caro, e automaticamente encolho-me sentindo-me fora da minha zona de conforto. Ele cumprimenta o senhor que nos vem receber e parece que já se conheciam antes, ou seja, é um restaurante que ele frequenta habitualmente. Leva-nos de encontro a uma mesa que possuía um papel a dizer 'reservado' e rapidamente tira para que possamos sentarmo-nos. Olho em volta e tudo o que vejo são pessoas com um perfil muito superior ao meu e mexo-me na cadeira desconfortavelmente. O Daniel não parece reparar no meu desconforto e pega na ementa analisando-a sem dizer grande coisa. Faço o mesmo e tento impor uma melhor postura para ao menos tentar parecer o mesmo nível que existe naquela sala.

Passado uns minutos o empregado vem anotar os nossos pedidos e finalmente a atenção de Daniel vem para mim. Pega delicadamente na minha mão e sorri acariciando-me. O meu coração dispara de nervosismo e não sei o que realmente dizer, por isso espero que seja ele a iniciar uma conversação.

- Gostas do restaurante? Escolhi-o especialmente para ti.

Assinto afirmativamente e engulo em seco. Não lhe quero dizer que acho isto demasiado extravagante para mim. Nunca tive nada disto na minha vida mas também não faço grandes intenções de ter, sou uma pessoa muito simples e gosto que assim seja.

Ele parece não saber também mais o que dizer e larga a minha mão e começa a olhar em volta cumprimentando algumas pessoas que avista conhecidas. Começa a ficar um silêncio desconfortável e o meu nervosismo aumenta. Raramente estou sozinha com o Daniel e quando estamos ficamos sempre imenso tempo sem dizer nada um ao outro porque não existe nenhum tema de conversa que agrade a ambos. Prefiro sempre que seja ele a dizer algo sobre si porque muitas das vezes que sou eu a falar dos meus interesses ele acaba por desligar e não me dar assim tanta atenção.

O seu telemóvel vibra e rapidamente a sua atenção vai para ele. Rompe-se um sorriso enorme na sua cara e eu desejo saber o que terá ele recebido. Mexo-me para o recordar que estou ali com ele e sorrio-lhe quando ele volta a olhar para mim.

- Passa-se alguma coisa? – decido perguntar. Espero que ele não leve esta pergunta como se me tivesse a intrometer nos seus assuntos e estremeço só na possibilidade de ele me fazer uma cena aqui no meio do restaurante.

- Não, nada que seja relevante para ti – responde secamente e eu sinto necessidade de beber um pouco da água que pedi para que me ajude a acalmar os nervos.

Decido fazer algumas perguntas sobre o seu próximo jogo e isso deu-lhe alternativa para conversar até a nossa comida chegar. Tinha tudo um aspecto magnífico e o sabor era ainda melhor. O resto do jantar foi um pouco mais tranquilo e ao longo do tempo em que íamos conversando o meu nervosismo diminuiu de intensidade.

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