Renan pede desculpas por ter que chamar um carro num aplicativo, porque ele não tem um e nem carteira de motorista, mas aproveitamos o caminho pra ele me dizer que pretende começar as aulas de legislação ainda naquele ano e resolver logo aquele detalhe.

O motorista nos deixa em frente a um supermercado e Renan nos guia por um quarteirão adentro. Fico contendo o sorriso ao ver que ele pensou naquilo, em não nos expor demais. O lugar para o qual ele nos leva tem um nome cafona que envolve estações e estrelas, mas a fachada é bem imponente e parece um palácio. Como ainda não é de noite, não há movimento algum, mas a recepção está aberta. Há somente uma cabine com vidros fumê e uma espécie de cardápio com todos os quartos disponíveis no momento. Parece que o Renan fez o dever de casa, porque ele vai direto para a abertura na cabine e pede, sem nenhum esforço, a suíte presidencial mais cara que eles têm.

Penso em contê-lo, mas algo no meu íntimo me impede, dizendo que eu mereço aquele presente. Que nós merecemos, na verdade.

A pessoa do outro lado pede nossas identidades e, depois de fazer uma espécie de cadastro e do Renan dizer que vamos pernoitar, ela nos entrega a chave pela abertura e indica um número que deve ser apertado no elevador, que nos leva direto ao andar da suíte. Só há uma porta no corredor quando saímos, então não tem como errar. O chão é de madeira branca e há lustres por toda parte, deixando a iluminação bem impressionante.

A chave magnética abre a porta do quarto imediatamente e, quando entramos, nós dois temos que parar para apreciar o cômodo.

O chão ali dentro é de mármore. Há um bar do lado direito, com direito a coquetéis já prontos, mas também baldes de champanhe e dezenas de taças penduradas. Dá pra ver um frigobar, pia e uma fruteira recheada atrás do balcão. Do lado esquerdo há um móvel com um aparelho de som embutido, uma TV enorme acima, alocada na parede, e um telefone. De frente, uma cama ainda maior do que eu imaginaria ser possível (e definitivamente maior que a que o Otávio tem no seu apartamento). O dossel é de madeira, há espelhos no teto e atrás dela. Luzes saem por debaixo do colchão, que é montado sobre uma escadaria de mármore...

A iluminação, aliás, é um espetáculo! Os pontinhos brancos do teto refletem na pedra do chão e parece que estamos pisando em estrelas — talvez seja daí o nome do motel. Há uma varanda num canto direito ao fundo, num ponto oposto ao bar, e o céu do fim da tarde, apesar de nublado, nos proporciona uma vista muito bonita.

Mas não é ele que continua atraindo nossos olhares, claro. O que mais chama atenção no quarto todo é o canto esquerdo aos fundos.

— Meu Deus, isso não é uma banheira, é uma piscina! — Renan ri.

Se ele, que está acostumado com coisas luxuosas, está impressionado, imagina eu!?

É sério, a banheira é enorme! Redonda, também montada sobre uma escadaria de mármore, e há uma cachoeira acima dela na parede. Plantas e flores decoram o lugar de onde a água desce, e o chão em volta está salpicado de pétalas vermelhas. Vejo que ainda há uma ducha mais atrás, o box de vidro transparente e chuveiros de aço com diâmetros inimagináveis...

Deve caber umas dez pessoas dentro da "banheira".

Recuperado do choque, Renan se adianta e abre a torneira, deixando a água morna enchê-la, o que deve demorar um pouco. Ele descobre um compartimento na parede que guarda sais de banho, espuma, xampu e outras coisas. Eu descubro que a cama também tem um sistema de som e o controle no móvel abaixo da TV serve, além dela, também para o ar condicionado e para ligar essa parafernália toda. Aperto alguns botões e nos divertimos ouvindo a música sair de debaixo do colchão.

Renan está comentando o quanto o lugar é bonito (e caro) enquanto estou deitado observando meu reflexo no espelho do teto, ainda com uma jaqueta sobre a camisa do uniforme do colégio e os jeans surrados que uso há mais de dois anos.

Estou pensando que jamais me imaginaria numa situação daquelas quando ouço o Renan dizer que há um cardápio ao lado da cama e que ele quer pedir algo pra gente comer. Quando dou por mim, ele já está atrás do bar, pegando os coquetéis e levando até a cama enquanto usa o telefone para fazer um pedido de comida.

— Eles usam whatsapp pra entregar as comidas pros apartamentos, olha que bizarro... Isso tudo é pra pessoa não ter que telefonar pra recepção e pedir? Hm... Até que gostei. É prático. — ele finaliza o pedido de sei lá o quê e me passa uma das taças cheia de um líquido azul gelado. Me ajeito para sentar na cama e ele estica a própria taça na minha direção. — Um brinde?

Chego mais perto e encosto minha taça na dele, sem saber por onde começar. Quero agradecer por tanta coisa! Não tenho nem palavras para todas as emoções que senti hoje, nem o que significa estarmos ali.

— Aos seus dezenove anos — ele afasta a própria taça só um pouquinho e encosta na minha de novo. O tilintar é baixinho, mas poderoso. Sinto-o como o fechar de uma era.

Dezoito anos de um Daniel Henrique que não tinha coragem de ser o Daniel que sempre foi.

De agora em diante será diferente.

— À sua presença — eu encosto na taça dele com mais força, arrancando o sorriso mais sincero que já vi na vida.

Eu estou feliz.


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Oi, gente! Desculpa o sumiço repentino, mas estou de mudança e trabalhando em 3 empregos diferentes (é sério), então vim postar isso rapidinho e dizer que, depois que me acertar no lugar novo, mês que vem volto com atualizações mais frequentes!

Mas espero que esse capítulo curtinho te deixe com um sorrisinho bobo ao final :) igualzinho eu fiquei ao escrevê-lo <3

Aprendendo a Gostar de Você {Aprendendo III}Onde as histórias ganham vida. Descobre agora