Música favorita
Verde, azul, roxo, vermelho, amarelo… As luzes dançavam, desorientadas, iluminando a casa, enquanto um funk remixado com trejeitos de música eletrônica tocava, alto demais para a saúde auditiva de qualquer uma das pouco mais de cinquenta pessoas que ali estavam presentes. A loucura e a embriaguez já assediava todo mundo, entretanto, o que fazia com que ninguém se importasse com quantos decibéis os ouvidos poderiam aturar.
Átila pegou um pouco de gelo com a mão e inseriu no copo. Depois, derramou lentamente a cachaça sobre os cubos, apreciando o líquido deslizar até alcançar o fundo do recipiente. Não colocou muito; a visão turva anunciava que era hora de maneirar nos drinques. Terminou de preencher o copo com o suco de limão mais artificial que tivera oportunidade de degustar. Riu, sozinho, ao perceber que preocupava-se com corantes e conservantes, mas fazia pouco caso com os quase quarenta por cento de álcool da bebida destilada.
Apoiou o corpo na mesa, volvendo-se para a sala, onde meia dúzia de garotas dançavam, enquanto pegavam rapazes desprotegidos e os colocavam em uma cadeira no centro da roda. Seguiu-se, então, um jogo de sedução, em que meninas rebolavam no colo dos rapazes e, à medida que a situação se tornava mais quente, pediam para que suas vítimas abrissem a boca e bebessem a aguardente direto do gargalo. Os pobres homens se entregavam ao jogo suicida, presos à emoção do momento.
E, entre toda aquela baderna, viu Daiane se aproximar. Estava séria; emburrada, ele arriscaria chutar. Parecia fuzilar as pessoas com as quais trocava olhares ao perpassar a muvuca. Chegou perto da mesa como um furacão; a atenção inteiramente voltava para o copo vazio que precisava imediatamente ser preenchido.
— Ei! — o momento não parecia o mais apropriado. Contudo, ele arriscou uma conversa. — Cadê o Marco?
— Não quero falar daquele imbecil! — ela retrucou, sem sequer tirar os olhos da bebida que preparava.
O ocorrido era óbvio.
— Brigaram? — todavia, ele perguntou.
— Ele foi embora, acredita?
Ele acreditava. Conhecia Marco havia tempo suficiente para reconhecer as características de suas ações. Podia até afirmar que conhecia o garoto melhor do que a própria namorada.
Dai virou a bebida em um gute-gute insaciável; mais de trezentos mililitros de puro rancor queimando seu trato digestório enquanto descia. O garoto se assustou:
— Ei, pega leve!
— Se ele tá achando que as coisas vão ser do jeito dele, se tá achando que eu vou ir toda chorosa pra minha casa e me desidratar madrugada adentro, ele tá muito enganado — disse, com convicção. Parou por instante, fitando as luzes dançantes; a feição enraivecida dando vez para um resquício de arrependimento. — Cê acha que eu tô errada?
Ele riu.
— Olha, do que eu conheço do seu namorado, tenho quase certeza que você não tá errada — respondeu; o teor de álcool em seu sangue servindo de elixir da verdade.
Ela relaxou o corpo, feliz em ouvir o que gostaria de ouvir, para, logo em seguida, retomar as reclamações:
— Eu sei lá, ele é tão… — Fez uma careta ao perceber que não tinha uma definição que se encaixasse ao namorado. — As vezes ele me irrita tanto! Tantas preocupações bestas, sabe? — Fitou o amigo. — Eu queria que ele fosse mais como você.
Átila não soube definir se era em consequência da bebida, mas a boca pareceu ficar seca de uma hora pra outra.
— Co-como eu?

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Mansão dos Urubus
HorrorDaiane sempre foi uma garota livre demais para a sociedade da pequena cidade em que morava; uma menina especial, capaz de encantar a todos a sua volta com sua coragem e impulsão. Contudo, são essas mesmas características que farão com que ela, seu n...