Capítulo 9

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Um céu escuro adornado com incontáveis pontos brilhantes me recebe quando meus olhos se abrem. Aos poucos, as memórias inundam minha mente e retorno à realidade.

-Como se sente? –Uma voz sussurra próximo à porta.

Sobressaltando-me, sento de forma abrupta, o que desencadeia uma forte tontura. Braços me rodeiam na tentativa de me sustentar e sou recebida por um rosto conhecido.

-Vá com calma, você dormiu por quase dois dias inteiros. –Luke fala.

-Dois dias? –Questiono com incredulidade.

-Isso mesmo, dorminhoca. –Ele sorri.

Luke me ajuda a ficar de pé e percebo que estou vestindo uma longa bata branca de seda. O tecido macio acaricia e refresca minha pele. Com apenas um olhar inquisidor, o soldado em minha frente compreende minha pergunta.

-Não, eu não ousaria trocar sua roupa e depois ter minha cabeça arrancada. –Luke caçoa. –Seu uniforme ficou em retalhos por causa do fogo e as fadas decidiram lhe banhar e mudar suas vestes. –Ele responde.

Ao som da palavra "banhar", franzo a testa em desgosto e Luke solta uma gargalhada. Dou-lhe um chute e, logo depois, acabo acompanhando-o na risada. Apurando o olfato, percebo um doce cheiro de rosas emanando do meu cabelo e também noto um leve brilho espalhado por meu corpo.

-As fadas capricharam. –Comento.

-Com certeza, quase não a reconheci quando assumi meu posto de babá no seu quarto. –Luke responde.

-Idiota! –Dou-lhe um soco fazendo com que ele cambaleie um pouco. –O que houve enquanto estive desacorda? –Inquiro.

-Bem, as fadas são mais eficientes do que eu imaginava. Nesse pequeno período de tempo, reconstruíram o acampamento e o templo, realizaram um cerimonial para as vidas que foram perdidas e, agora, estão em reunião escolhendo o seu destino. –Luke explica.

-Como assim "escolhendo meu destino"? –Pergunto com desgosto.

-Pelo número de baixas, as fadas estão vulneráveis e Rurik estava tentando convencê-las de que a melhor opção seria partirmos para o acampamento lupino com você, para protegê-la. Entretanto, o povo do céu possui uma percepção diferente, preferem continuar aqui e, consequentemente, você também ficará. –Ele explica.

-Eu irei para onde desejar, Luke. –Contraponho.

-Eles não pensam assim. Como a intitularam "herdeira das fadas", irão insistir em moldar suas ações e tomar suas decisões. –Luke diz, fazendo aspas com os dedos para pontuar meu novo título. –Entenda, Scarlett, as fadas, mais do que qualquer outra nação, foram as responsáveis pela criação das castas que nos regem e da desunião entre as diferentes espécies existentes e, de uma forma ou de outra, vão querer controlar você. Por seu poder ser muito forte, acabará atraindo feiticeiros e aqui, estará indefesa. Daisy já ordenou que todos os lupinos e mestiços saiam de suas terras. –Ele conta nervosamente.

Respirando fundo, consigo compreender a angústia nas palavras de Luke: Daisy não havia me tornado parte de sua família ou algo do gênero, sou apenas mais um recurso na sua busca por controle. Meus dons, nesse momento, mostraram-se úteis para ela, logo, precisou de uma maneira para me prender neste lugar.

Mais uma vez, minha vida se resumira a ser uma arma para manter a hegemonia de outra pessoa. Aquela velha e conhecida raiva começa a despertar em minhas veias e uma inquietação me domina.

-Ninguém nunca mais vai decidir o rumo da minha vida, Luke. Quando escapei daquele maldito castelo, abandonei o meu passado. De agora em diante, irei criar minhas próprias regras. –Declaro incisivamente.

Palácios De Cinzas - Livro 2 - Trilogia Mestiços Onde as histórias ganham vida. Descobre agora