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O dia perfeito tinha se transformado em pesadelo de um jeito que Mi So jamais imaginaria. Olhar para Ji Sub fazia seu estômago remexer e a vontade de acabar com ele crescer dentro de si. Talvez por ainda estar recente, os momentos que antecederam sua morte profissional ainda estavam vividos em sua mente.

- Sun Hee, mostre-me a prova. - Sung-min pediu, tão sério quanto um juiz em exercício.

Era impossível distinguir o que se passava na cabeça dele apenas pelas caras e bocas que fazia, mas Mi So acompanhou nervosa enquanto ele via e revia o vidro que SunHee tinha feito. A moça estava ao lado da Shin, segurando sua mão tentando acalmar a promotora, o que funcionou por alguns segundos.

Mi So tinha chegado primeiro a sala do Lee, amparada pelo Jung e pela estagiária. Era possível ver uma manchas roxas e vermelhas em seus braços e pescoço por conta da força que Sub tinha depositado.

Alguns minutos depois, o próprio entrou no gabinete, com um corte supercilio e um fio de sangue seco no lábio inferior. Mi So se controlou o máximo para não acabar com ele ali mesmo, suas unhas estavam fincadas nas mãos ao ponto de sangrar, e sua boca doia por conta do aperto de sua mordida.

Por fim, Lee Sung-min entrou em seu escritório com uma cara nada amigável, e sem falar nada, apenas pediu para ver o vídeo.

- Vocês... - ele tentou dizer, mas parecia desconcertado. - O que acham que é esse lugar?

A voz do mais velho podia ser escutada do lado de fora.

- So Ji Sub, qual é o seu problema? - se direcionou ao homem remendado na sua frente. - Como pode fazer algo desse tipo, e no meu prédio.

Ele estava ciente do que tinha acontecido com Sun Hee também, e enquanto esperava os dois briguentos se acalmaram, ouviu de outras mulheres que trabalhavam ali a respeito de comportamentos inadequados vindos do promotor.

- Você acabou com sua vida, com sua carreira. - continuou. - E tudo por conta de alguns rabos de saia. O que vamos fazer com você?

O rumo daquela conversa não era bem o que Mi So estava esperando. O que ela e todas as outras vítimas queriam era que ele, um assediador criminoso fosse punido, mas o Lee falava de forma branda demais.

- Senhor, a única coisa que deve ser feita agora é uma denúncia contra ele e esperar que a justiça faça seu papel. - ela disse.

- Justiça. - O Lee riu como se Mi So tivesse lhe contado uma piada. - Justiça? Quem pensa que é para falar de justiça?

Sun Hee queria que o investigador tivesse entrado ao invés dela, ele saberia apagar o fogo que estava crescendo naquela sala.

- Quem eu penso que sou? - Mi So questionou esboçando surpresa. - Eu sou uma vítima dentro do meu próprio local de trabalho.

- E por isso você acha que pode sair por aí batendo nas pessoas? - Sung-min gritou, completamente exaltado. - Chama isso de justiça?

- O que teria feito no meu lugar? - Mi So rebateu no mesmo tom. - Ah, o senhor não teria feito nada. Sabe porquê? Porque é impossível que isso acontecesse com o senhor. - terminou debochando.

- O que ele fez foi errado. - Sung-min admitiu. - Mas você também não tem mais razão.

Mi So estava perplexa demais para responder. Riu soprado algumas vezes, sem acreditar que Sung-min estava realmente amenizando para Ji Sub e tentando jogar a culpa sobre ela.

- Eu não tenho razão? - sussurrou apontando para si. - Eu não acredito nisso.

- Vocês dois estragaram completamente o meu horário de almoço. - o promotor fez pouco caso de Mi So.

Ela o encarou incrédula.

- É com isso que está preocupado? Com seu almoço? Eu quase fui estuprada dentro do prédio do ministério público por um promotor de justiça, e o senhor está preocupado com seu horário de almoço? - ela jogou todos os seus questionamentos sobre o mais velho, gritando e tentando a todo custo segurar as lágrimas. - Você é um monstro tanto quanto ele.

- Já chega! - Sung-min gritou batendo na mesa. - Ele vai ser afastado, nós vamos indicia-lo por assédio. Satisfeita? - ele perdeu o controle. - E quanto a você, não quero que volte aqui. Não posso ter uma promotora que faz justiça com as próprias mãos.

Mi So soprou uma risada irônica pelo nariz.

- E eu não posso trabalhar com alguém incompetente...

Em três anos trabalhando no Ministério Público, Mi So nunca tinha tido problemas com Sung-min. Na verdade ele a ajudava e a tratava muito bem, e por isso, ela jamais imaginou que um dia ele lhe daria um tapa.

O estalo doeu no rosto da Shin, mas o mais doía naquele momento não podia ser explicado. As lágrimas estavam acumuladas nos olhos e ela brigava com toda as suas forças para não acabar de vez com sua imagem, mesmo que se sentisse totalmente injustiçada.

Ji Sub continuava sentado desfrutando daquele momento, agindo como se não fosse o maior culpado. Mi So se sentia tão frustrada e machucada, já tinha resolvido casos parecidos antes, e mesmo já tendo se colocado no lugar de outras pessoas jamais imaginou que seria tão difícil e doloroso.

Sun Hee não tinha reação. Não sabia se comprava a briga, o que seria péssimo pra sua carreira, ou se apenas consolava a amiga. Demorou tempo demais para decidir, e quanto optou por consolar Mi So, a mesma saiu sem dizer nada a ninguém.

Mi So queria sumir e não aparecer nunca mais em lugar nenhum. Estava se sentindo humilhada e violada. Tinha ciência dos olhares preocupados que o Jung e a estagiária estavam lançando sobre ela, mesmo sem dizer uma palavra. A promotora não queria falar, queria apenas pegar suas coisas e sair dali o mais rápido possível.

- Obrigada por tudo. - ela disse com um sorriso pequeno no rosto, direcionada para os outros dois.

Andar naquele lugar nunca tinha sido tão difícil. Ela nunca tivera que desfilar com tantos olhares de pena e acusação ao mesmo tempo, e tendo que se manter forte ainda.

Mas essa força desmoronou quando ela fechou a porta do carro. Mi So nunca gostou de chorar, seus olhos doíam e seu rosto inchava a deixando horrorosa. Mas não tinha como controlar naquele momento, não quando tudo ao seu redor parecia se virar contra ela.

Sehun tinha ligado para ela no momento do acontecido, e ela não iria retornar tão cedo. Aoenas partiu com o carro, andando para qualquer lugar. Ela não tinha certeza de onde estava, a única coisa que via era uma estrada vazia e um posto aparentemente abandonado. Não devia ter muito tempo, já que ainda tinha comida e bebidas no estoque. Ela pegou algumas garrafas de álcool, se sentou no meio fio e aproveitou o silêncio para beber, em plena luz do dia.

As horas passaram como um raio naquele dia, e ela continuava bebendo sozinha. Sun Hee tinha lidado várias vezes, e tinha mandado mensagem contando que Baekhyun tinha procurado por ela, o que explicava as inúmeras ligações dele.

Sun Hee devia ter contado para ele, que devia ter contado para Min-ah, que devia ter contado para Sehun. Era uma bola de neve inevitável. Mi So não fazia ideia de que era possível ter tantas mensagens e ligações, e ignorar cada uma delas era a tarefa mais fácil que ela estava fazendo.

Trocando os pés, Mi So deitou no banco traseiro do carro. Tinha que esperar um tempo para o efeito do álcool de um dia inteiro deixar seu corpo. Ela vomitou algumas vezes no banheiro do posto, tomou uns três comprimidos de remédio para o estômago que só pioraram a situação.

Não queria ir para casa, então foi para o único lugar no mundo onde ela receberia conforto e ninguém a julgaria. O caminho de volta foi mais complicado, estava escuro e ela não sabia exatamente por onde devia ir, e já estava tarde quando chegou a rua onde tinha corrido e brincado durante sua infância.

Mi So tocou a campainha algumas vezes antes da porta abrir e a senhora enrolada em seu roupão estampado com os olhos pequenos e cara de sono aparecer.

- Mi So?

A cara de surpresa dela fez Mi So rir.

- Olá mãe.

Angel. 》Oh Sehun 《Onde as histórias ganham vida. Descobre agora