Cp. 51

168K 9.4K 6.6K
                                    

 Jason.

Normalmente, aquelas pernas intermináveis ficam enroladas nas minhas, e uma nuvem de cabelo laranja macio como uma pluma fica espalhada no meu rosto e no meu peito. Mas esta manhã não foi assim. A Megan estava toda encolhida para o lado, de costas para mim. Com as mãos cruzadas em cima do rosto, de olhos fechados e com a maquiagem toda borrada. Até parecia que tinha passado a noite chorando. Considerando que ela devia estar de ressaca depois do balde de tequila que tomou na noite anterior, não fui muito gentil com ela.

Mas tinha alguma coisa a mais, alguma coisa rolando que eu não conseguia ver, mas com certeza podia sentir. Foi só por isso que consegui parar o que a gente estava fazendo no carro. Parecia que tinha alguém entre a gente, que eu não conseguia tirar da frente para chegar perto dela. Isso estava quase me matando. Mas eu sabia, no fundo da minha alma, que essa garota só precisava de uma desculpa como essa, uma derrapadinha de nada, para ir embora.

Eu ia acordar a Megan para ela ir a escola, dar um beijo no seu ombro e, quem sabe, em lugares mais interessantes que estavam cobertos pelo cobertor cinza. Mas com certeza ela não iria pra escola, ainda mais de ressaca. Meu celular tocou alto com o som de uma música de rock pesado. Corri para atender antes que a Megan acordasse, mas foi tarde demais. Quando consegui atender, ela puxou a coberta até a cabeça e estava me xingando. Dei risada e bati naquela bunda redondinha por cima do cobertor pesado. O Kenny não costuma me ligar antes do meio-dia, mas todo mundo na banda está na maior correria para resolver as paradas da turnê.

- E aí? - tinha muito barulho no fundo, um monte de vozes bravas.

- Jason, você precisa vir para minha casa. Agora! - eu estava de pé, procurando uma calça no chão.

  - O que está acontecendo? - não vi a Megan tirar a cabeça de baixo da coberta, mas dava para sentir aqueles olhos claros me observando enquanto eu enfiava uma camiseta e os coturnos.

- Faltam poucos dias para a turnê e a gente precisa que você ensaie com a gente, esqueceu que a gente tinha combinado? - pisquei de surpresa, porque realmente eu tinha me esquecido.

 - Esqueci mano, mas já estou indo.

Devo ter parecido um imbecil, mas minha cabeça estava girando em um milhão de direções diferentes. A Megan pôs aquelas pernas compridas para fora da cama e fiquei olhando, meio distraído, ela vestir as roupas que usou na noite anterior. Só que pôs a minha camiseta de manga comprida com desenho de uma banda de metal. Eu não devia ter capacidade de processar que ela ficou gostosa. Mas ela ficou, e eu consegui.

- Então vem logo, estamos esperando. - passei a mão que estava livre no cabelo e peguei a chave do carro. A Megan levantou, parou na minha frente e falou "eu dirijo" e me empurrou porta afora.

- Beleza, quer que eu leve alguma coisa do studio? - ela me olhou de canto com uma expressão que eu não consegui interpretar, mas estava muito ocupado tentando achar a lista das músicas que eu fiz antes de dormir. 

- Não. Tá tudo certo. -  soltei um suspiro porque, de repente, me senti exausto.

- Tô chegando. - entramos no carro da Megan, depois de ouvir ela reclamar muito tempo que o carro dela nunca ficava pronto, ele ficou ontem a tarde.

Olhei para Megan, e ela mordia o lábio inferior com força. Deve ter percebido que eu a observava, porque olhou para mim e me deu um sorriso forçado que não me convenceu nem por um segundo. Tinha voltado a ser misteriosa, e a Megan que eu começava a conhecer, aquela por quem tinha quase certeza de estar me apaixonando, sumiu. No lugar dela, estava uma mulher que me olhava como se a gente nem se conhecesse.

- Você não precisa ficar. Só me deixa lá que eu peço uma carona para um dos rapazes quando terminar. - ela não falou nada, mas percebi que apertou o volante. Eu daria qualquer coisa para saber o que se passava naquela cabeça complicada.

O Homem da Boate. Onde as histórias ganham vida. Descobre agora