Capítulo 23 (Dia 5)

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Setor 7 | 10 ºC
Contagem regressiva: 14 dias

O reinício da viagem para a base do Setor 7 foi tranquilo.

Lucas disse que demoraríamos mais ou menos uma ou duas horas para chegar lá.

Depois de alguns minutos, o único barulho que se ouvia era dos galhos se arrastando no teto do carro ou quebrando embaixo dos pneus. Todos estavam em silêncio.

Nathan e Matt insistiram para dirigir, mas Lucas e Armon asseguraram que estavam bem e, como são os únicos a saber o caminho do nosso destino, não foi muito difícil continuarem no comando.

Além disso, Nathan precisou tomar um analgésico. Mesmo que ele não tenha assumido que a dor estava incomodando, eu conseguia ver o desconforto estampado no rosto dele. Ele ainda tentou argumentar que precisava se manter acordado para cuidar de mim, mas quando eu quero, sou mais teimosa que ele.

Não demorou muito para o cansaço e o remédio fazerem efeito. Olho para ele dormindo com a cabeça encostada a uma manta dobrada na janela e sinto uma paz que eu já não sentia há algum tempo.

É como se um peso tivesse saído de cima de mim depois que eu disse que o amava.

Ele precisava saber.

Pior do que estar nesta situação deveria ser nem ao menos ter certeza do que eu realmente sentia por ele. Ele me disse uma vez que aceitava o meu amor pelo Lucas. Ele é maduro o suficiente para entender a situação. Assim como o Lucas a entendeu.

Na verdade, não é uma questão de maturidade.

Nós somos forçados a ter atitudes que não teríamos em situações normais. Faz tempo que eu sou obrigada a me ajustar ao que acontece na minha vida. Ter ficado órfã aos dezesseis anos me fez ter obrigações que pessoas daquela idade normalmente não têm. Foi uma das piores épocas da minha vida, mas eu tinha o Lucas para me ajudar.

Achei que nunca mais poderia me sentir tão desamparada quando perdi a minha mãe. Então fui para a Matriz.

E quando olho para a vida que eu tinha lá, a única coisa que vejo sou eu sendo moldada pelo Sistema e contra o Sistema mais uma vez. Desde a tortura do procedimento de Cura, a entrada na Resistência, ao que tive que fazer com o Lucas e com o Nathan. E por mais que na época eu não fizesse ideia, dessa vez, foi o Nathan que esteve lá para me ajudar.

Se o contexto fosse diferente, se não estivéssemos no meio de uma revolução e se o Lucas não estivesse correndo risco de vida, tenho certeza que os dois reagiriam de outra forma. Eles não me forçariam a fazer uma escolha, afinal, a gente nem sabe se vai chegar vivo ou estar preso no fim do dia, e eles são maduros o suficiente para entenderem que não é o momento, mas eu mesma me sentiria na obrigação de fazer isso.

Neste momento, preciso deles, assim como eles precisam de mim. E não tenho dúvida que juntos, vamos nos fortalecer, não nos destruir como seria se fosse obrigada a escolher um deles neste momento.

Desvio os olhos do Nathan para o Lucas e não consigo conter um suspiro.

Mas um espirro da Mere me tira dos meus pensamentos. Ela está com a cabeça pousada no ombro do Matt e estão envolvidos por uma manta. Ele a abraça mais e ela volta a adormecer. Kyle está dormindo ao lado deles, mas Vitor está acordado ao meu lado. Ele nunca descansa nem mostra cansaço.

Atravessamosuma pequena clareira e vejo a luz do sol tentando atravessar o teto de nuvenspesadas, mas rapidamente estamos envoltos por grandespés de eucalipto e pinheiros novamente.

Quando o dia fica um pouco mais claro, sinto o Lucas abrandar. Ele para o carro sem desligá-lo em frente a uma parede coberta por musgo e trepadeiras. Ela é tão reta que me faz acreditar que não pode ser natural.

A Resistência | Contra o Tempo (Livro 2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora