Capítulo 7 - Despistes

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Ao findar aquele dia, tudo o que eu mais queria era afogar minhas mágoas sozinha em meu quarto. Depois de manter o máximo de compostura que era possível em público e ter minhas bochechas doendo de tanto sorrir falsamente, voltei para casa em silêncio e tranquei-me no único lugar que eu poderia ser apenas... Eu.

Antes de escapar, minha mãe pediu para que eu a encontrasse no escritório, no entanto, eu não estava em condição de ter nenhuma conversa com a toda poderosa Eleanor naquele momento. Joguei-me contra os meus lençóis, enfiei a cara no travesseiro e fiquei a espera de Lilian, minha criada, trazer a bolsa de gelo que eu pedi quando a encontrei no caminho para o meu quarto.

Uma batida ressoou na porta e eu grunhi contra o meu travesseiro, odiando o fato de que, provavelmente, meus pais estavam ali para conversar a respeito do evento.

― Já vou! ― gritei e me lancei para fora da cama, tendo certo que ainda ouviria um bê-á-bá porque havia trancado a porta, de novo. ― Eu só queria alguns momentos em paz, será que é pedir demais? ― ralhei assim que abri, tendo uma surpresa ao me deparar com o ruivo na minha frente.

― Não tem tempo nem para o seu próprio tio? ― O homem diante de mim abriu os braços e o sorriso. Dei um pequeno gritinho e me joguei nele, abraçando-o com força.

Na inauguração mais cedo eu só o tinha visto de longe e logo ele havia desaparecido. Ele não voltou com a gente e eu pensei que não o veria mais hoje, o que era comum para ele.

Meu tio me abraçou com força e me ergueu como não se eu pesasse nada. Vê-lo era sempre renovador, ele era a minha esperança e meu objetivo de vida, minha mãe sabia que eu ficava extasiada toda vez que passava muito tempo com tio Otto. Meus sonhos de viajar e conhecer o mundo palpitavam mais quando estava perto dele e não ajudava que ele me trazia sempre presentes e cartões postais.

― O que tem para mim? ― perguntei assim que nos soltamos.

― Nossa, eu sabia que era interesseira, mas nem tanto. Achei que a falta que sentia era de mim e não dos meus presentes ― gracejou e eu lhe dei um soquinho.

Apesar de ter voltado ano passado, meu tio ficava pouco no castelo, preferindo passar o tempo nas aldeias e percorrendo cada lugarejo de Atra. Quando estava na ilha, era ele quem fazia a conexão com os outros governadores e assessorava-os de acordo com as necessidades. Contudo, com a próxima viagem quase à porta, ele passaria os últimos dias aqui.

Meu tio era bem mais novo que a minha mãe e não tão mais velho do que eu, então acabou sendo um grande parceiro além de um parente.

― Você sabe que faz falta, sem você eu preciso enfrentar a fera sozinha ― falei e ele fingiu estremecer.

― Ela ainda pega no seu pé?

― Sempre ― suspirei.

Tio Otto me deu um leve tapinha nas costas em lamento, sabendo muito bem como era estar debaixo das garras da dona Eleanor. Claro que não na mesma proporção que eu, mas até ele provar que queria seguir o seu próprio caminho, foi um tempo difícil, minha mãe achava que toda a família real deveria ficar presa na ilha.

― Me conte o segredo ― pedi.

― Como? ― Meu tio arqueou a sobrancelha em incompreensão enquanto se sentava.

― O segredo para ir embora e poder ser como você ― revelei, arrancando um elevar de lábios dele. ― Como conseguiu convencê-la?

― Ah... Foi um longo trajeto, pode ter certeza ― Ele riu e inclinou-se para trás na cama, apoiando-se em seus cotovelos.

O Peso da CoroaOnde as histórias ganham vida. Descobre agora