Parte II (atualmente) - Back to December

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— Corta! — Mike Archibald gritou radiante da sua cadeira de diretor em mais um videoclipe da sua musa.

Katy levantou-se da mesa de algodão que estava deitada; o biquini, que também parecia feito de nuvens de algodão doce rosa, e a peruca lilás faziam-na parecer a princesa do Reino Doce. Mike caminhou em sua direção para abraçá-la, satisfação transpirava da sua pele perfeita e recentemente bronzeada e, apesar do sorriso sincero da artista, a maquiagem não conseguia esconder o cansaço do seu olhar, o peso das pálpebras e as olheiras fundas. Não dormia direito há dias e era assim em todos os dezembros.

— Vai ficar incrível! Eu aposto em sucesso absoluto e você? — Seu melhor amigo e produtor profetizou.

— Aposto dez barras de chocolate branco que California Gurls vai para o topo da Billboard! — Desde "I Kissed a Girl", Archibald e Perry criaram a superstição de apostar todos os singles lançados juntos e, de alguma forma, algum deles sempre acertava.

— APOSTAS ALTAS, MEUS SENHORES! AQUI NÃO ESTAMOS PARA BRINCADEIRAS! — Anunciou para a sala de gravações vazia, como um vendedor de jornais que gritaria "EXTRA! EXTRA! KATY PERRY VAI AO NÚMERO UM DO TOP 100 MAIS COBIÇADO DA INDÚSTRIA MUSICAL!". — Dessa vez, espero que você ganhe. — Ele sorriu e beijou sua testa.

A cantora retornou ao seu camarim, exatamente como o deixara antes de começar as gravações. As paredes e os móveis eram todos brancos, no entanto, havia tantas fotografias e desenhos de fãs pendurados pelo cômodo que não fazia diferença a cor da tintura por baixo. Do lado esquerdo, jaziam duas araras recheadas de todos os tipos de figurinos coloridos e, no fundo da sala, uma mesa que ia de um canto a outro com rostos de manequins que expunham a maioria das suas perucas. Depois das araras, um sofá — já não tão branco assim — que clamava por cochilos nos intervalos dos seus dias agitados de trabalho e, a sua direita, uma enorme penteadeira de camarim, com luzes no espelho e bases, sombras e pincéis espalhados pela mesa.

Katy sentou-se, inexpressiva, frente ao reflexo. Tirou a peruca, a touca e pegou uma bola de algodão do pote para arrancar também a maquiagem. Observava sua imagem reproduzir idêntica todos os seus movimentos, contudo, não reconhecia-se nela. Era uma cópia de seu próprio ser, uma cópia capaz de seduzir, encantar, rir até o estômago doer e não preocupar-se com nada que sacrificasse seu espírito.

Por dentro, sua áurea despedaçava-se um pedaço a cada dezembro. Porque a cada ano que passava, a cada minuto que escorria da ampulheta, esvaía-se também a perspectiva do retorno dela.

Da porta entreaberta ecoou a voz de Mike perguntando se poderia entrar ou encontraria a mulher mais bela do mundo nua, o que, por acaso, não seria nada mal.

Mi camarim, su camarim. — Gracejou, desprendendo dolorosamente os cílios postiços da pálpebra, sem ao menos perceber quando o rapaz aproximou-se.

— Eu sei que está chegando a data, Katy. Você não precisa fingir para mim. — De pé ao seu lado, abraçou o rosto da morena contra sua cintura, acariciando seus cabelos. Katy, que esforçava-se para manter a letargia, sentiu seu vulcão emocional eclodir em centenas de lágrimas salgadas, por tanto tempo reprimidas. Soluçava e agoniava, abraçada à cintura do único a quem confiaria tamanha vulnerabilidade.

— Dez anos! DEZ ANOS, MEU DEUS! — Gritou, colocando-se de pé e quebrando o que quer que fosse aquele recipiente de vidro que sua mão agarrou e arremessou contra a parede com mágoa e tormento.

Dia 22 de dezembro completaria dez anos desde que Taylor desapareceu. Nunca houve um corpo, nem qualquer sinal de morte — ou vida, além de seu carro sujo de barro encontrado no meio da floresta. A polícia desistira de procurar depois do terceiro ano, "tem certeza de que ela nunca deu nenhuma pista de querer recomeçar a vida em outro lugar?", tiveram a audácia de perguntar. É claro que não! Elas tinham planos, uma vida inteira pela frente para construir JUNTAS! E em todos os dezembros era como uma vívida reprise em sua memória, tal qual agora mesmo o policial estivesse em sua porta perguntando pela senhorita Hudson. Ela podia sentir o chão desaparecendo sob seus pés, a escuridão tomando conta de seu corpo, sua visão embaçando até tudo desaparecer — e ir parar em um hospital por baixa de pressão.

Rise - Entre O Amor E A GuerraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora