Uma ferida se abriu, deixando escorrer uma gota de sangue. A verdade é que eu nunca esqueci aquela garota oriental, doce, com um violão desproporcional ao seu tamanho, cantando lindas canções de amor. Nunca esqueci do seu rosto, nunca esqueci do seu cheiro, nunca esqueci do seu gosto, nunca esqueci de como me sentia perto dela...
... Nunca esqueci.
— Não é isso. — Menti. — O problema não é esse.
— É claro que é. Consigo ver em seus olhos! Isso sem falar das poesias! Todas as que você escreve ultimamente são implicitamente para a Samaris. Você só consegue enxergar o passado.
— Você andou lendo as minhas poesias?
— Todos os dias depois que você sai para trabalhar. — Afirmou, sem vergonha nenhuma. — Ick. Quando cheguei aqui eu disse que era importante que você não esquecesse esse amor. Mas também é importante que você siga em frente, pare de olhar para o passado. Vamos encarar os fatos? — Ela se aproximou de mim e mostrou um dedo indicando um tópico. — Fato número um: ela se foi, ok? Você já deveria ter entendido isso há muito tempo. — Agora mostra dois dedos, simbolizando o segundo tópico. — Fato número dois: se ela te amasse tanto assim quanto dizia, já teria entrado em contato, você não acha? Nenhuma carta ou e-mail. Nada!
Não respondi, não esbocei nenhuma reação, não sei que reação esboçar, não consegui pensar em nada, acabei tomando a única atitude que me pareceu viável naquele momento:
— Você não sabe o que está dizendo. — E me dirigi à porta para me retirar do quarto.
Como num estalo, Jéssica pareceu ter percebido a atitude estúpida que tomou. Sua expressão transbordou arrependimento e ela se pôs à minha frente.
— Não, Ick. Desculpa. Não sei o que deu em mim, devem ser os hormônios, eu ando meio estranha ultimamente. Não devia ter dito nada, desculpa.
Eu não ouço, não respondo, não esboço reação alguma, apenas me retiro do quarto deixando Jéssica sozinha consigo mesma e o seu pedido de desculpas.
O que ela disse refletiu em mim. Passei o resto da semana me perguntando por que Samaris nem ao menos entrou em contato.
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A VIDA DESENCAIXADA DE ICK FERNANDES (história completa)
Teen FictionÍcaro tem 17 anos, joga futebol e é poeta. Ele esconde essa última característica dos amigos, é claro. Se descobrissem, a sua vida viraria um inferno, nunca o deixariam em paz! O seu pai lhe ensinou desde cedo que isso não é coisa de homem. Ao long...
