Meus Olhos 2 - Capítulo 01

12 1 0
                                    

Foi o almoço de família de domingo mais desconfortável que Eliza já teve.

Apesar de terem seis pessoas à mesa, o único som ecoando era deles comendo e bebendo.

Que merda... Eu sabia que ia ficar esse clima... não é como se minha mãe religiosa fosse aceitar a namorada lésbica da filha num piscar de olhos... mas pensar que ninguém diria qualquer coisa, pensou Eliza, olhando para Bianca.

A ruiva não parecia incomodada pelo clima pesado. Ela apenas comia a feijoada como se não tivesse nada errado ao seu redor.

Apesar de seu estômago apertado por causa do silêncio, Eliza não podia conter seu alívio. Não é culpa dela, mas, em teoria, ela é a causa de tudo isso... bom, nós duas somos, né...

Mas fico feliz que a Bianca não foi afetada por esse clima... Odiaria que minha mãe a deixasse desconfortável... Queria que a minha família a tratasse que nem trataram meu ex...

Eliza olhou para sua mãe entre garfadas. A enfermeira estava totalmente focada em seu prato, como se a feijoada fosse a coisa mais interessante no mundo todo.

Qual é, mãe. Você faz esse negócio duas vezes por mês... é tão interessante que não dá pra falar nem um oi? Geralmente você nunca para de falar no almoço de família aos domingos...

Eliza suspirou mentalmente. Eu sei que estou querendo demais... já é incrível que ela tenha convidado minha namorada... especialmente depois de flagrar a gente pelada na cama... no hospital em que ela trabalha... mas dava pra tentar, né... por favor?

Mas a garota sabia que não tinha chance de pedir algo assim de sua mãe a essa altura. Convidar a Bianca e não me forçar a ter uma conversa com o padre já foi um passo e tanto pra ela...

Como a Bianca disse... Um passo de cada vez... um passo de cada vez... um maldito passo de cada vez...

Enquanto comia, Eliza não podia evitar mandar olhares para o outro lado da mesa, onde seu irmão e a namorada estavam. Ele tem tanta sorte... pode ficar com ela e mainha não fala um piu... ele pode sair e andar de mãos dadas com ela que ninguém nem liga...

A garota sabia que não podia esperar muita ajuda por parte do irmão. Ela sabia que ele queria pedir algo aos pais, embora não soubesse exatamente o quê, e não arriscaria irritar a mãe para ajudar a irmãzinha.

Então, a última pessoa para quem Eliza podia pedir ajuda era o pai. Painho, você vai ajudar sua princesinha, né?

— E-E aí, pai... c-como vai tudo lá na delegacia...? — tentou perguntar ela, esperando que bastasse para começar uma conversa.

— Complicado... bastante complicado — disse o policial com a voz cansada, parando o garfo e faca. Ele fechou os olhos e respirou fundo. — A imprensa vem me pedindo pra dar entrevistas todo dia. Eu e o Eduardo...

— Porque foram vocês dois que acharam os cadernos que ajudaram o meu pai? — perguntou Bianca, de repente.

Eliza engasgou com seu suco. Enquanto a ruiva acariciava as costas da garota, ela arregalou os olhos para Bianca. Qual o teu problema, Vermelha, pra que falar disso? Quer me dar um infarto, menina?

Ela esperava que seus olhos transmitissem o que pensava para a sua namorada.

— Sim. Na verdade, foi a Eliza quem encontrou... mas ela me pediu para não divulgar o nome dela — disse, com uma expressão triste.

— Foi melhor assim, querido — disse a mãe dela de repente. — Depois de... de tudo, a Eliza precisa descansar... tirar um tempo de tudo que tem acontecido...

Meus Olhos EnxergamOnde as histórias ganham vida. Descobre agora