Capítulo 1

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SAMARA se senta em um dos sofás da recepção do Hospital Trindade, completamente esgotada. Já tinha tido a oportunidade de conversar com o diretor do hospital, um tal de Doutor Alvarenga. E a conversa havia fluído exatamente como Doutor Monteiro previra. Humilhara-se, praticamente chorara aos pés do diretor. Mas, ele reclamara que já estava aguardando há muito tempo, que já tinha sido muito tolerante com o atraso e, ao final, fora irredutível: as contas com o hospital teriam que ser liquidadas no dia seguinte.

Entretanto, ela sabia que não tinha esse dinheiro. Desde que a mãe adoecera, Samara abandonara o emprego e estava vivendo do que tinha conseguido economizar ao longo da vida. Inclusive, eram essas economias que tinham mantido a mãe em um hospital particular até aquele momento. Mas agora não sabia o que fazer. Como conseguir o dinheiro em tão pouco tempo? Só de pensar em ver a mãe ser transferida para um hospital público, justamente agora que seu estado de saúde havia se agravado, deixava a moça muito angustiada.

A cena de uma das conversas que teve com a mãe, quando esta ainda estava lúcida, vem com força à mente de Samara.

"Elza estava deitada numa cama do hospital. Do seu lado, Samara afagava-lhe a mão, tentando transmitir esperanças à enferma.

- Os médicos estão animados com os resultados da cirurgia, mamãe. Logo logo, a senhora vai poder sair desse hospital!

Elza fica com os olhos marejados.

- Ô, filha, eu me preocupo tanto com você! Queria tanto deixar esse mundo com a certeza de que você não vai ficar sozinha.

- Mãe, por que está pensando nessas bobagens? A senhora vai ficar boa. Os médicos...

Elza a interrompe.

- Estão todos iludidos. Eles tiraram esse tumor tarde demais.

- Mãe, não deve pensar assim. Vai ficar tudo bem, eu prometo.

- Não faça promessas que não poderá cumprir, Sam. Só quero que se cuide. Quero que Deus mande alguém pra cuidar de você antes que...

Samara começa a chorar.

- Não fale mais nada, por favor. A senhora precisa descansar."

Samara baixa a cabeça, os olhos fixos no chão. Pisca várias vezes, para impedir que alguma lágrima teime em escapar. Não adiantaria nada chorar. Já tinha chorado demais. E, definitivamente, aquilo não resolvera seus problemas. Na verdade, tinha era que arrumar uma maneira de conseguir o dinheiro pra quitar sua dívida. Não podia deixar a mãe sair daquele hospital de jeito nenhum.

A moça tem suas lembranças e seus pensamentos interrompidos por um barulho forte. Olha em volta e vê um idoso, que acabara de sofrer uma queda, no meio do corredor do hospital. O homem gritava de dor.

Em pouco tempo, um alvoroço de pessoas circunda o idoso, impedindo Samara de vê-lo. O elevador se abre e saltam dois médicos, que conversavam displicentemente. Ao se depararem com o tumulto, eles afastam as pessoas e iniciam alguns procedimentos técnicos.

Samara observa um dos médicos, o de pele morena, correr até a recepção, enquanto o outro se abaixa próximo ao idoso e fala alguma coisa. O idoso faz um gesto, apontando o joelho. Samara concentra sua atenção no médico que tinha ficado perto do senhor de idade. Seu rosto demonstrava preocupação, mas seus gestos eram objetivos, controlavam tudo com muita perícia.

O idoso grita, fazendo Samara voltar a fitá-lo.

- Meu joelho, doutor! Dói muito!!

Samara torna a observar o rosto apreensivo e solícito do médico. Ele estava falando alguma coisa para o senhor de idade, como se estivesse tentando acalmá-lo. Mas, de onde estava, Samara não conseguia escutá-lo. Em alguns segundos, ela percebe que o outro médico, que tinha ido à recepção, estava retornando com uma maca e alguns enfermeiros.

Quando o Amor Acontece (Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora