Era difícil não se encantar, mesmo que de longe, com aquela bela estrutura de telhado azul-celeste, o famoso castelo de Apogeon. Suas janelas quadradas e seus tijolos alaranjados refletiam a luz do final de uma sexta-feira entediante no topo do penhasco onde o castelo fora construído, rodeado por rochedos, árvores e arbustos. Os galhos das árvores balançavam suavemente com o vento do outono e soltavam suas folhas secas sobre o gramado que separava o castelo da ponte.
Os fracos raios solares que atravessavam a janela da cozinha iluminavam o rosto pálido de um dos moradores do tal castelo. Rupert queria sair para interagir com os guardas, nem que fosse apenas jogar conversa fora para passar o tempo — um deles era filho de um ilusionista e sempre tinha boas histórias do pai para contar. Infelizmente, sua mãe Morgana tinha proibido todos os filhos de saírem. Disse que alguém importante chegaria em breve para uma visita e que a presença de todos era necessária no castelo. Ordens do pai dele, Apogeon.
E lá estava a tão importante visita: alguém montado num cavalo branco finalmente estava atravessando a ponte. Que máximo, o garoto pensou antes de suspirar de tédio. Rupert saiu do parapeito da janela, atravessou a cozinha com os passos se arrastando no chão de madeira e sentou-se à enorme mesa retangular coberta por uma toalha vermelha. Ele enfiou a mão em um pote de plástico e pegou mais um pão de mel. Estava fazendo o que mais gostava quando não tinha o que fazer: comer.
Deu a primeira mordida e começou a planejar o que faria no dia seguinte: nada. Os cidadãos de Íremos provavelmente estavam pensando que os filhos do rei Apogeon e da rainha Morgana estavam num cruzeiro luxuoso, ou no circo admirando a famosa donzela que consegue enfiar um pé inteiro dentro da boca.
Mais uma mordida e ele contemplou a cozinha enquanto a mistura do sabor do chocolate com mel adocicava seu paladar. Menor que a sala no andar de baixo, a cozinha tinha paredes de tijolos brancos, ocultas por caixas de madeira, barris, sacos com verduras e armários. No lado oposto à janela onde ele estava, havia uma porta para o banheiro e outra para uma salinha onde Morgana guardava os ingredientes para os chás que fazia.
Como alguém de 17 anos podia estar tão entediado em plena sexta-feira? Deveria estar estudando para ser alguém na vida e realizar seus sonhos e objetivos. Isso se tivesse algum. Seus irmãos sempre se destacavam por alguma coisa, mas Rupert não saía do lugar.
Eric e Matheus eram, respectivamente, um e dois anos mais velhos — Matheus era o inteligente e dedicado aos estudos e Eric um misólogo, mais preocupado com o físico que com o cérebro. Lúcio e Iara eram gêmeos e três anos mais velhos — Lúcio era o mais poderoso e Iara... algum talento brotaria da cabeça vazia dela cedo ou tarde.
A última mordida e Rupert limpou a sujeira do moletom amarelo e da calça preta de pijama — nem mesmo o pijama ele tinha tirado de manhã. Por fim, voltou para a janela. O sol estava quase desaparecendo atrás das nuvens escuras. Ele adorava observar o pôr do sol, mas o céu estaria completamente coberto antes do espetáculo acontecer nas montanhas distantes.
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Rupert Brant e os Elementais
FantasyRupert sempre se sentiu deslocado em sua família e tem todos os motivos para isso. Vivendo com seus pais e irmãos poderosos, ele é desprezado por não ter poderes. Aos 17 anos e preso em uma crise existencial, Rupert descobre que seu pai previu grand...