17|dream

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dream(name): a succession of images, thoughts, or emotions passing through the mind during sleep. an involuntary vision occurring to a person when awake.

Conseguia sentir os meus olhos fecharem-se; a minha consciência afastou-se deixando o sono percorrer o meu corpo. O cansaço do dia de hoje preencheu o meu corpo; junto com as horas em que estive a treinar basquetebol e as horas a fio em que falei com Harry no meu corpo foi um dia em cheio, um daqueles dias que não se esqueçem facilmente. Até acredito que irei sonhar com todos os pequenos pormenores que o rapaz tatuado me contou; detalhes que ainda continuam a passar na minha cabeça como um filme. 

Acho que nunca vira um sorriso tão lindo como o de Harry. As pequenas covas apareciam nas suas bochechas morenas trazendo um lado mais jovem ao rapaz; os seus dentes brilhantemente brancos fizeram uma aparição e mais uma vez o seu piercing no lábio não passou despercebido ao meu olhar atento. Retirei a minha mão do seu ombro, sentindo o calor dele percorrer o meu corpo. 

"Não és assim tão má." ele murmurou, mais para ele próprio do que para mim. 

Encolhi os ombros, não sabendo exatamente o que dizer. Um rubor voltou a aparecer na minha cara, percorrendo o meu pescoço. Não sei exatamente em que ponto é que estamos; depois da nossa pequena discussão e das revelações de Harry sinto que o conheço bastante melhor. E ainda mais quando soube que ele era fã de literatura clássica, Oliver Twist é um dos meus livros favoritos também pois mostra a vida de um rapaz orfão. Óbvio que para mim tem um significado especial visto que também não tenho pais; mas não sei que tipo de significado o livro tem para Harry. 

"Obrigada." eu baixei o olhar, demasiado envergonhada para olhar para ele. 

Virei-me para trás caminhando novamente para a minha cama esperando que Harry fizesse o mesmo; espero que a minha última frase o tenha feito ficar. Ele pareceu feliz por saber que eu apreciava Oliver Twist. Só desejava que ele não mudasse no dia seguinte; que depois de ele me contar todas estas coisas se tornasse frio e distante, arrependido. Tenho uma ligeira sensação que ele não esperava contar-me tanto da sua vida, mas acho que ele percebeu que isso o libertava de certa forma. 

Controlei um suspiro de alívio quando o vi voltar para a sua anterior posição. O rapaz sentou-se na cama de Olivia à minha frente. Observei a forma como ele cruzou os pés ao fundo da cama, as sapatilhas brancas chocaram uma contra a outra. Foi aí que reparei que ambos ainda estávamos com as roupas desportivas; ele com os seus calções curtos e a camisola cabeada. Estremeci só de olhar; com certeza ele deve estar cheio de frio. Eu ainda trago o meu casaco por cima da t'shirt e umas leggings que me aquecem. 

"Não tens frio?" eu perguntei curiosamente. 

Harry abriu a boca para responder mas rapidamente fechou-a quando eu o interrompi. Uma súbita ideia apareceu na minha cabeça. 

"Espera!" eu coloquei uma mão no ar para o travar. "Não me digas que não sentir a temperatura é um dos efeitos colaterais da Sinestesia." 

Ele soltou uma gargalhada antes de responder: "Não é. Mas mesmo assim, eu não sou muito friorento." 

Assenti. Eu era exatamente o oposto de Harry, sou rapaz de ter frio mesmo no Verão. E às vezes custa-me a fazer exercício só de t'shirt, mas tenho de admitir que é bastante mais confortável. Uma coisa que eu gostaria de fazer e nunca tive a oportunidade é de ir até à praia, sentir o quente da areia dos meus pés e a água salgada do mar. As pessoas dizem que é fantástico. Eu iria; mas nunca tiraria a roupa, não me sinto confortável com o meu corpo. Ele tem cicatrizes. 

DARK JEANSOnde as histórias ganham vida. Descobre agora