L2|| XXIII. Nada Doce Lar

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Mas Anjinho não cala a boca. Eu bato na porta para qual ele late mas não ouço nenhuma resposta. O falso cachorrinho continua fazendo aquele som infernal e apenas para calar a boca dele coloco a mão na maçaneta, entendendo que ele quer que eu abra a porta do lugar.  

Ele finalmente fica quieto. Eu franzo o cenho, censurando o bolinho peludo de fofura e giro o metal cautelosamente. 

Está aberta. 

Sem esperar por mim, Anjinho entra a minha frente como se a casa fosse dele. Respirando fundo eu entro também, procurando por um interruptor. Quando o acendo, olho ao meu redor. 

Estudo o lugar. Os móveis são simples e poucos, mas é uma casa humana organizada, pequena.

 Sinto que piso em algo estranho. Olho a meus pés um tapete velho, e nele manchas secas de sangue. Muito sangue. Mas isso não é o mais estranho de tudo...

Num móvel baixo de madeira escura paralelo a parede ao meu lado, ao de lado de uns eletroeletrônicos, há um objeto deveras peculiar

Uma foto. Minha. Estou abraçada a uma senhora humana de idade avançada cujo o rosto eu não me lembro de ter visto nenhuma vez na vida. 

Eu seguro a foto e a analiso. Okay... sou eu. Tirei essa foto durante os tais cinco anos pelos quais desapareci? E quem é essa mulher? 

Vou até a porta adjacente e encontro outro interruptor. Quando o acendo, vejo inúmeros pedaços de vidro no chão. Me pergunto o que aconteceu aqui. Parecem serem do espelho que ficava na bela moldura dourada que ainda se encontra inteira e pendurada. 

Na frente dela, um interessante aparelho humano: um celular. O pego. Já vi um desses com Martinha, e o pouco que sei do aparelho, tento ligá-lo, mas sem muito sucesso. O trago para a sala comigo e decido que preciso carregá-lo. Talvez possa ser meu celular humano e suas informações podem me ajudar e muito.

Anjinho sobe no sofá e começa a abanar o rabo. 

— Tá querendo me dizer o quê? Que este lugar é de alguém que me conhece? — ele fica quieto. — Hmmm... esse é meu apartamento humano? — ele late. As loucuras que Dimitri me disse parecem mesmo verdade. Isso é confuso. Coloco a foto de volta no lugar. — Como é que o você sabe desse lugar? — me pergunto se ele esteve comigo nesse meio tempo...  

Sem respostas claras, abro o pacote branco que o homem me entregou. O cheiro é forte de comida humana. Não tem gosto nenhum para mim e não me causa nada, apesar da fome que estou. Decido oferecer-los a forma canina de Anjinho, e aceitando, ele pula em mim para agarrar e atacar os quitutes.

Enquanto ele come, olho ao meu redor. Por mais bizarro que tudo isso seja, ao menos agora tenho um lugar onde ficar até resolver qual é meu próximo passo. Se tiver um daqueles banheiros humanos com muita água disponível, é aqui mesmo que eu fico. Estou precisando de uma daquelas duchas fortes que os metais com furinhos despejam na gente. 

Quando vou procurar aonde este se encontra, ouço batidas a porta.

— Verena! VE-RE-NA! — uma voz feminina cheia de emergêngia grita em sincronia com o seu bater a porta. — VERENA! — uau. Essa pessoa quer mesmo falar comigo. Só que não estou afim de atender pois não só não reconheço a voz, mas imagino que seja alguém que conheça minha versão humana. 

As batidas não param e Anjinho para de comer, incomodado com o incessante som. Já está se postando para fazer algo que não vai prestar, seus olhinhos caninos já se tornando as pedras brilhantes vermelhas e quentes que são de verdade.

— Se comporta! — da porta sussurro para ele antes que comece com a fanfarra. — Quem é? — pergunto alto da maneira mais educada que posso. 

— EU SABIA QUE VOCÊ ESTAVA AÍ!!! NÃO SE ESCONDE E VEM AQUI FORA SE VOCÊ FOR MULHER!!

ADARISOnde as histórias ganham vida. Descobre agora