Capítulo 24 - Montanha Russa

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Sentou-se de frente para ele, mas ao lado, e pousou uma mão sobre a de Sasuke enquanto a outra ia ao cabelo dele em um carinho leve. Estava com medo...

— Sasuke — chamou e optou por ser direto ao perguntar o que mais lhe angustiava ao ver as marcas e o modo como Sasuke abraçava o próprio corpo. — ele te forçou?

Sasuke ergueu os olhos, e, por um momento, Shikamaru notou o brilho de sempre voltar a eles, como se Sasuke tentasse afastar aquela inércia para lhe responder. E foi somente quando Sasuke negou com a cabeça e com uma expressão confusa, que Shikamaru soltou o ar que não tinha percebido que prendia.

— Eu deixei — ele sussurrou, tão baixo que Shikamaru só teve certeza que ouviu quando ele completou. — Eu quis...

Shikamaru assentiu, aliviado, mas ainda sem entender. As marcas não eram mesmo agressivas, não havia um sinal claro de violência, mas Sasuke estava paralisado, os dedos contornando inconscientemente as marcas mais escuras na pele.

— Vem, vamos sair desse chão, está frio — chamou.

Ergueu-se e ofereceu a mão para Sasuke, que não recusou. Pegou a blusa no chão e encarou confuso as marcas nas costas de Sasuke. Se fosse outra pessoa, riria, faria piadas, perguntaria como tinha sido a noite, mas era Sasuke, e Sasuke repudiava sexo. Talvez... fosse isso que ele tinha querido dizer com "intenso" ao se referir a Naruto... talvez o pianista o estivesse fazendo querer experimentar aquele prazer e, se conhecia bem Sasuke, como de fato conhecia, ele deveria estar perdido por isso.

Sasuke odiava mudanças. Acordava sempre no mesmo horário, fazendo as mesmas coisas, seguindo a mesma rotina, interagindo com as pessoas sob as mesmas regras. Se Naruto o estava mesmo tirando da mesmice, Sasuke deveria estar entrando em pânico, como se o mundo lhe escapasse das mãos.

Sentou-se no sofá ao lado dele, sem se surpreender quando ele deitou a cabeça em seu colo e encarou o teto indiferente. Abriu a garrafa de vinho e ignorou as taças, bebeu um longo gole e ofereceu a garrafa a Sasuke, vendo-o fazer o mesmo antes de devolver-lhe a bebida.

— O que aconteceu, Sasuke?

— Dez minutos... me dá dez minutos? — ele perguntou, mas não soou como um pedido, era mais como se Sasuke fizesse um apelo que ele sabia que não seria questionado.

— Se me contar depois o que aconteceu, sim — Shikamaru suspirou, e acendeu um segundo cigarro sem Sasuke parecer se importar.

— Feito...

Ele se deitou de lado, com o rosto contra seu abdômen e os braços o envolvendo, e Shikamaru deixou-se estar naquele abraço torto, soltando a fumaça devagar enquanto conseguia sentir as mãos de Sasuke tremerem e os ombros chacoalharem. Acabou levando a mão ao cabelo dele, acariciando as mechas escuras e ficando em silêncio enquanto sabia que ele escondia o choro mudo contra sua blusa. Teimoso e orgulhoso, mas tudo bem, já era muito que ele estivesse ali para pedir ajuda seja lá o que tinha acontecido.

Foram mais que dez minutos, e Sasuke agradeceu por Shikamaru sempre parecer lhe entender e não o apressar. Com os olhos fechados e o rosto escondido, tentou segurar novamente as rédeas da própria mente, mas era como uma carruagem desgovernada que já tinha saído da rota há muito tempo.

O dia com Naruto havia sido maravilhoso, tinham chegado à cidade vizinha em menos tempo que o esperado, comido tanta coisa que era difícil medir e lembrar os nomes, tinha se divertido com algo tão simples que não conseguia recordar a última vez que se sentira tão bem. Só que tudo isso fora embora de repente, como se o sangue fluísse para fora do seu corpo de uma vez quando escureceu. Já estava tarde e iriam pegar a estrada, Naruto girava a chave de Sasuke entre os dedos e ria de uma piada qualquer, aproveitando-se da altura para deixar a chave no alto e ver Sasuke se esforçar para recuperá-la. Em uma dessas tentativas, Naruto o tinha segurado pela cintura, prensando-o contra o carro e roubando-lhe um beijo, e fora nessa hora que Sasuke tinha paralisado. A lembrança do que tinham feito na manhã daquele dia o abatera com força, e os músculos travaram em defesa, as pernas quiseram o levar para longe, e havia sido como engolir gelo, sentindo-o se espalhar por todo o estômago e o fazendo se afastar pálido e engolindo a súbita vontade de vomitar.

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