Chances (Português)

Capítulo 36

O que não anula as lembranças incríveis que elas fizeram e compartilharam juntas. O que não significa que durante todo o relacionamento das duas Camila não foi genuinamente feliz com ela. Camila guarda com carinho cada momento que passou com ela, mas esse é o problema.

Apaixonar-se por Lauren foi inevitável. Como Camila não se apaixonaria? Claro, o primeiro mês que elas passaram juntas na faculdade foi um tanto difícil e a relação delas era repleta de tensão, e em um certo momento, Camila não queria nem saber de Lauren. Mas isso foi antes.

Agora o maldito coração de Camila só bate por Lauren.

Ela acha que nunca chorou tanto na vida quanto chorou nessa última semana. Seu peito dói, seus olhos queimam, e ela está tão magoada que parece que nada vai conseguir fazê-la se sentir melhor.

Em situações como essa, Camila se aninharia no colo de Lauren e enroscaria os braços e as pernas ao redor dela. Agora não há nem sinal de vida da mais velha e é tudo culpa de Camila. Ela afasta todo mundo. É apenas o seu jeito. Ela nunca aprendeu a amar e se aceitar completamente, então como os outros conseguiriam fazer aquilo que nem ela mesma faz?

Camila chorou até cair no sono e quando acordou de manhã, o quarto ainda estava destruído, seu coração ainda estava partido e não havia nem sinal de Lauren.

A mais nova deveria mandar uma mensagem para Lauren ou ligar para ela para saber se ela está bem, mas algo está dizendo para Camila não fazer isso. Lauren não quer falar com ela. Por qual outro motivo ela teria ido embora? Entrar em contato com ela talvez só piore as coisas entre as duas.

Se é que isso é possível.

Camila solta uma respiração trêmula e sua dor de cabeça não dá trégua. Ela precisa fazer muito esforço para conseguir colocar as pernas para fora da cama e levantar. Então ela pisa nas coisas quebradas e espalhadas pelo chão ao caminhar até o banheiro. Ela daria tudo para poder ficar deitada em sua cama o dia todo e não precisar lidar com ninguém, mas ela não pode. Ela não pode se dar ao luxo de perder aula apenas para ficar chorando pelos cantos o dia inteiro.

Depois se arrumar para a aula e passar a maior quantidade possível de maquiagem para esconder o fato de que ela chorou noite passada até não querer mais, ela reúne suas coisas e sai pela porta.

Camila não falou com ninguém desde que ela se assumiu. Parece uma batalha cada vez que ela tem que sair do quarto, sabendo que todo mundo sabe sobre ela agora. Agora todo mundo sabe que ela mentiu sobre sua orientação sexual esse tempo todo. Agora todo mundo sabe que ela não se aceita. Agora todo mundo sabe sobre a única parte dela mesma que a impedia de ser verdadeiramente feliz.

Ela anda a passos rápidos, com a cabeça baixa e com fones de ouvido, fazendo tudo que pode para evitar chamar atenção. Ela se sente pequena, vulnerável e exposta, e ao mesmo tempo sente como se fosse um enorme e chamativo arranha-céu bem no meio do campus.

Mesmo com a música alta tocando em seus ouvidos, Camila pode jurar que consegue ouvir os sons das pessoas cochichando sobre ela enquanto ela passa. Ela não é mais Camila para essas pessoas. Agora ela está presa à sua sexualidade como se essa fosse a única coisa que a definisse. Talvez seja apenas a paranoia dominando seus pensamentos, mas está funcionando.

Ela respira fundo ao notar que estava prendendo a respiração assim que chega à sua sala. Ela para por alguns momentos para acalmar as batidas irregulares de seu coração antes de se sentar no fundo da sala onde quase nunca tem ninguém.

Camila tenta se concentrar no que o seu professor estava explicando, mas a única coisa na qual ela consegue pensar é em sua conversa com Lauren noite passada. Bem, se é que é possível chamar aquilo de conversa. Palavras horríveis e desagradáveis foram trocadas e ela sabia que cada uma delas foi como um tapa no rosto de Lauren. Mas ela não conseguia parar depois que começou. Tais palavras precisavam ser ditas. Não seria justo com Lauren mantê-las em segredo.