XII - Our daily secret

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"A minha memória ouve ainda agora as pancadas do coração naquele instante. Não esqueças que era a emoção do primeiro amor."
Dom Casmurro

ANNE

Quando estava no orfanato, inventava coisas para passar o tempo. Fingir e imaginar coisas belas eram meu passatempo favorito.

Minha fuga de uma casa cheia de garotas solitárias que foram abandonadas como um sapato velho. Naquela época não entendia porque nenhuma delas gostavam de mim, porque batiam e me xingavam a todo o tempo.

Mas tarde entendi o motivo. A minha maneira de ser e agir, as irritavam.
Elas não enxergavam beleza na vida e imaginavam rosas no meio da poeira, o sol em meio a uma tarde chuvosa e fria.

Diferente delas,  tive uma família. Um pequeno vislumbre apenas do que era ser amada.

Pouco me lembrava deles além da risada. O som se perpetuou assim como a voz suave de minha mãe cantarolando. Ela tinha cabelos de cenoura como os meus, provavelmente eles eram mais belos e sedosos.
Cabelos que papai adorava.
Não conseguia lembrar muita coisa sobre ele, o rosto dele tornou-se um borrão disforme com passar do tempo.

Mas uma coisa sobre ele não se apagaria jamais.

Ele nós amava.

Ao menos, era isso que  acreditei todos esses anos.

Após vários anos de abandono, sendo devolvida por famílias que me achavam inútil. O destino me leva para Avonlea.

Um casal de irmão que sabiam  tão bem quanto eu a dor de perder alguém amado.

Matthew e Marilla Curthbert, não esperavam uma menina magricela, tagarela cor de ferrugem. Mesmo assim, eles me acolheram e me deram todo amor que sempre sonhei.
Um amor que significava o mundo para mim, eles significavam.

O amor.

Ele podia ser tão complexo e tão simples ao mesmo tempo.

Marilla tentou explicar me algumas coisas sobre o amor. Mas quando as perguntas começaram ela se emudecia e corava. Então sabia que ela recorria a Rachel que por sua vez acharia melhor chamar o padre.

Então fiz algo que não me orgulhava. Omiti algumas coisas, mas precisamente o beijo que Gilbert Blythe roubou. Beijo que escondi de todos até mesmo de Diana e me arrependi disso.

Porque essa pequena mentira, que tornou-se um segredo. Um segredo meu e dele. Além das lembranças tortuosas que teimavam a surgir nas ocasiões mais inapropriadas. Gilbert parecia adivinhar quando pensava nele. Pois seus olhos castanhos se cravaram em mim. Observando cada movimento meu.

A lembrança surgia feito uma brisa quente de verão e meu corpo de repente parecia prestes a explodir. Quando a sensação dos lábios deles sobre os meus, seus braços me apertando, o cheiro dele

Argh!

O Deus eu realmente precisava contar isso à alguém, de preferência um padre.

🌼


Esconder as coisas de Diana era mais difícil do que qualquer outra pessoa. Diana parecia sentir no ar a mentira. Olhava para mim com cantos dos olhos sempre que a senhorita Stacy me chamava atenção por não estar atenta as aulas. O que estava acontecendo com muita frequência.

Apesar de amar as aulas dela e me inspirar nela quando crescesse. A senhorita Stacy parecia não gostar de mim, não importa o quanto tentasse. Ela dizia que eu a interrompia, o que era rude da minha parte. Mas o que poderia fazer quando a empolgação de saber mais me possuía.

invisible stringWhere stories live. Discover now