L2|| VI. Cinco Anos Em Cinco Minutos

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Consciência. 

Aquele estranho estado que ratifica e redige nossa existência.

A minha... acaba de retornar. 

Me encara dentro de minha cabeça, como um bicho sem rosto, me ordenando veementemente a acordar.

Abrir os olhos.

Mas antes de abrir os olhos, uso meus outros sentidos para acessar e entender meus arredores físicos.

Estou deitada sobre algo rígido e reto. Não é confortável. Parece ser feito de madeira.

Sinto cheiro de pinherais, um almíscar amadeirado, intenso, numa leve brisa que toca minha pele levemente.Contrastante com esses leves toques de ar, também posso sentir algo robusto e frio sobre pontos de meu corpo, como pulsos, canelas, pescoço... é pesado contra minha carne, e não me movo antes de entender o que é, apesar de já suspeitar do que se trata.

Atino meus ouvidos. Eles captam uma próxima e singular respiração baixa e um tamborilar leve e impaciente de dedos sobre o mesmo lugar onde deito.

O tamborilar pára, um calafrio percorre minha ossatura e após infinitos segundos de puro e maciço silêncio, ouço o som de uma facada, tão próxima a meu ouvido que me faz abrir os olhos com o susto.

E ao abrir-los, tudo o que vejo é uma face de ponta-cabeça, contendo o último par de olhos azuis que eu queria ver neste momento.

— Dormiu bem, Verena? — o dono da voz pergunta, pingando sarcasmo pelos cantos de seu sorriso enigmático.

Apenas pisco repetidamente com a luz que cai sobre minhas retinas como águas de uma cachoeira, desorientando-me por um momento.

Não sei como, nem por quê vim parar aqui, no apartamento de Dimitri Bauer. 

Menos ainda como ou quando ele me amarrou com tantas correntes de ferro á sua mesa de jantar.

Reorientando-me, tento levantar um pouco minha cabeça para ver o resto do meu corpo e observo que não tenho calças e apenas visto uma das camisas brancas dele, longa o suficiente para cobrir-me até os quadris. 

Fecho os olhos novamente pois nada disso faz sentido, e decido fingir não estar aqui, na esperança de que essa alucinação ou sonho se dissipe.

Por este tempo que eu agora entendo que estive inconsciente, tive sonhos estranhos, como se eu mesma fosse outra pessoa, andando pelas ruas da cidade de São Paulo. Era eu, mas sem nenhuma das características que me fazem ser quem sou. Apenas meu nome e uma vontade enorme de... viver o que nunca vivi, seja lá o que isso quer dizer.

Estranho.

Mas agora, neste exato momento, algo esta bem diferente. Este não parece ser um desses sonhos. E se eu não estou sonhando mais, isso significa que realmente estou no apartamento dele e que a faca fincada na mesa ao lado de minha cabeça é um perigoso aviso de que ele está muito, mas muito bravo comigo.

Honestamente, compreensível.

Droga.

Dimitri me perguntara se eu "dormi bem." E de todas as reações que eu devo ter quanto a isso, a primeira a me tomar é a última que deveria: vê-lo assim me faz sentir um calor intenso que provavelmente agora não devia, mas o que tenho entre as pernas não parece se preocupar com isso.

— Desaprendeu a falar? — insiste, apoiando suas mãos à beirada da mesa, uma em cada lado de minha cabeça.

Dimitri Bauer parece cansado; Cabelo bagunçado, barba por fazer, camisa e gravata desajeitadas. Raro vê-lo assim. E apesar disso, agora que olham para mim, seus olhos parecem mais vivos do que nunca.

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