Uma das dificuldades mais visíveis na maioria de nossos estudantes é a de diferenciar a linguagem falada da linguagem escrita. Muitos acabam escrevendo da mesma maneira como falam e isso compromete todas as suas redações.
Isso não significa, absolutamente, que você deve abolir a linguagem falada dos seus textos. Haverá momentos em que ela poderá ser necessária e seu uso terá sentido e nexo. Isso vai ocorrer numa narração, quando estiver contanto uma história e precisar reproduzir a linguagem falada, como no seguinte exemplo:
Brincadeira
— É, ué! Cê nunca brincou?
— Não.
— Por quê?
— Por quê? Porque sim.
— Sua mãe não deixa, né?
— É.
— O pai falou que cês são entojados.
— Que é entojado?
— É pessoa que não liga pros pobre... Que tem o rei na barriga.
— Rei na barriga?
— É, rei na barriga. Cê não sabe o que é ter o rei na barriga?
— Não. Como é que é, conta pra mim? — virando-se para o outro, cheio de curiosidade. O sol do meio-dia enlanguescia a sombra do abacateiro e nem chegava a ressecar o chão, ainda úmido. Pelo ar corria o crem-crem cadenciado, mas não havia vestígios ainda de uma queimada, longínqua que fosse.
— Ter rei na barriga, continuou o outro, é pensar que é o cancã da vila, sabe, né? É pensar assim, sem ligar pros outros.
— E nós é isso que cê falou?
— Meu pai que falou.
O menino tornou a encostar-se à cerca. Seus olhos acompanharam uma abelha, revolutearam com alguns urubus lá em cima, na reta dos aviões, e depois baixaram para o cordão dos sapatos. Um graveto estalou em suas mãos. De repente virou-se e encarou o outro, perguntando sério:
— Cê quer ser meu amigo?
— Ué! Mas eu não sou seu amigo?
— Não, mas não amigo assim de vizinho. Amigo assim de verdade, pra ajudar a gente, ficar perto da gente, amigo de verdade mesmo, ara!
— Por quê?
— Porque... ué! Porque sim! — soube somente responder. Para que, realmente, queria um amigo?
— Cê que sabe, né.
— Mas tem de que ser amigo de verdade.
— Ah, mas não vai dar certo.
— Por quê?
— Porque cê não sai pra brincar com a gente...
— Mas amigo não é só pra brincar.
— Então pra quê?
— Pra quê? Ué, pra que sim — (para que realmente queria um amigo?).
— Mas amigo só de nome...
— Não, não só de nome. Amigo pra ficar junto, conversar...
— Como, ué? Cê não sai da barra da saia da sua mãe. Parece mariquinha...
— Não é verdade, viu? — interrompeu. Na sua mão pesava uma pedra. Para quê?
— Não?
— Não, se eu sair ela me bate.
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REDAÇÃO PARA O ENEM VESTIBULAR E CONCURSOS
Não FicçãoEste não é um manual adequado a quem precise aprender redação para amanhã. Não há como fazer isso, a não ser buscar as páginas onde são apresentadas as dicas e torcer para que o tema que lhe seja apresentado facilite as coisas para você. Se está se...