Codinome Sombra

3 • Rastros

Feiras ilegais se espalhavam por todos os cantos das ruas, e vendiam de tudo, desde carne e ração à próteses techno. A maioria das pessoas que caminhavam ali usavam roupas velhas e rasgadas, muitos usavam membros tecnológicos de segunda mão, como por exemplo um senhor barbudo que cruzou o caminho deles mancando da perna direita — provavelmente havia perdido uma das pernas em uma máquina das fábricas.

Aiden parou em frente a um prédio de pintura velha e vermelha e comprou uma lata de refrigerante para ele e outra para Samantha na mão de um feirante sentado na calçada. Ele abriu a lata e encostou o corpo na parede, olhando ao redor como quem nada quer.

— Faça o mesmo. E beba.

Ela decidiu obedecer. Os dois bebiam lentamente aquele líquido, que parecia vencido, pois descia queimando a garganta de ambos. Não tardou para que um drone descesse e pairasse diante dos dois.

— Aiden e Samantha. Procuramos o Stalker. — O rapaz falou para a máquina.

O drone voou para o ar e entrou em uma janela quebrada ao alto daquele prédio. Samantha arqueou a sobrancelha e encarou o companheiro por alguns instantes.

— O código é a sinceridade. — Ele riu de nervoso.

Um minuto se passou. A tampa de um bueiro se abriu e um homem baixinho e gordo saiu, caminhou até os dois e sorriu para eles. Ele usava um paletó de veludo vermelho e uma gravata de borboleta verde, o cabelo alaranjado era partido ao meio, levemente cacheado, e um grande bigode penteado com vaidade. Os olhos eram substituídos por peças mecânicas, brilhando em um tom azulado.

— Aiden e Samantha, sigam-me. — Ele tinha um sotaque engraçado, puxando os is de maneira aguda.

— Sim, senhor...

— Sebastian.

Eles adentraram no bueiro, descendo as escadas e seguiram por um extenso porém estreito corredor até uma porta dupla de metal. Sebastian colocou as digitais em um mecanismo de trava e as portas se abriram, ele se virou para os dois e fez sinal para que entrassem. Eles entraram.

O outro lado da porta dupla era um grande aposento. Chão e paredes com grades, computadores gigantescos brilhando constantemente e ventiladores barulhentos ecoavam por todos os cantos. Homens e mulheres Technos iam e vinham por todos os lados, e passando direto por eles, Aiden guiou Samantha até um homem sentado em uma cadeira giratória defronte a um computador. O rapaz sorriu ao notar a presença dos dois.

— Quanto tempo, Aiden! — Ele se levantou e abraçou Aiden, dando um beijo em seu pescoço. Repetiu o gesto com Samantha e voltou a se sentar em sua cadeira.

O rapaz parecia ter uns vinte e poucos anos, tinha o corpo pequeno porém robusto, o cabelo era cacheado e ruivo, e usava uma barba rala pelo rosto levemente arredondado. Ele tinha óculos quadrados e grossos sobre os olhos pequenos e azulados, e usava apenas uma calça e um par de botas. Seu tronco e braços eram cobertos por tatuagens que imitavam fios e conexões tecnológicas e, sobre o peito, tinha uma peça Techno que girava constantemente suas engrenagens, emitindo um som leve e constante.

Samantha encarou o mecanismo por alguns segundos, e desviou o olhar ao perceber que o rapaz havia notado.

— Esse é o meu coração, sem isso eu não vivo. E eu, bem... Sou o coração daqui. Me chame de Stalker.