| 6 | Mar de Letras (II/II)

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Léia's P.O.V.

Mesmo sabendo que apenas bolhas saem de minha boca, insisto em gritar, como se alguém fosse me ouvir. 

A água vermelha salgada desliza pelo meu corpo enquanto a mão continua me puxando para baixo, até que a mesma solta de meu tornozelo. Logo estou estática, flutuando, abraçada por um mar avermelhado. Por mais que a água salgada faça meus olhos arderem, mantenho-os abertos caso a mão - e seu dono - voltem. 

Estico meu pescoço para cima e vejo a moldura quadrada da boca do tanque longe o suficiente para saber que estou em uma profundidade que, se estive viva, já teria me deixando agoniada sabendo que não daria tempo de subir para respirar. Ainda bem que não tenho que me preocupar com isso. Ou tenho? 

Enquanto penso no que posso fazer para sair daqui, a resposta vem em forma de susto. 

Sinto algo gelado se enroscar em minha perna e vejo que é uma corrente de ferro. Meus olhos seguem-na e vejo que ela se conecta a uma peça redonda na base do tanque. 

Olho ao meu redor para me certificar que meu raptor não está por perto - pelo menos espero que não esteja - e uso a corrente para conseguir chegar ao chão. Assim que chego perto o suficiente do chão, firmo meus pés e, sem querer, puxo a corrente forte demais pois esta se desconecta do chão, como se fosse uma tampa de ralo. 

E é. 

O buraco deixado pela tampa começa a sugar a água ao meu redor e me sinto dentro de um grande liquidificador, um grande redemoinho. 

A pressão é tamanha que acabo indo para perto do ralo que, honestamente, poderia muito bem me sugar para Deus sabe onde, mas de alguma maneira a água vai embora e eu fico para trás. Eu, molhada, em um grande tanque vazio que, agora analizando, parece mais um grande banheiro comunitário. 

Tusso a plenos pulmões, deixando toda a água sair e conseguindo finalmente preencher meu peito com ar. Passo as mãos em meus olhos e, assim que os retiro de minha face, noto que o espaço em que me encontro é muito menor, como um banheiro de apartamento. 

Não. É literamente um banheiro em um apartamento. Há um assento sanitário, tapete, pia, espelho, um pequeno armário. Há até uma cortina de plástico. 

Estou em um cantinho, sentada em uma poça d'água. O banheiro se encontra silencioso, à parte do som de buzinas que entra pela pequena janela e da cortina de plástico. 

Me levanto e ando até a pia e me encaro no espelho, totalmente ensopada. Pelo espelho, vejo novamente que a cortina de plástico se movimenta, e dessa vez há o barulho de água em sincronia com o movimento. 

Me viro, encarando a cortina. Estico o braço e puxo o plástico, me sendo revelada uma surpresa. 

Uma banheira cheia. 

E Jimin com meio corpo mergulhado. 

- Jiminie? - falo. 

O menino me olha assim que pronuncio seu nome. Mas ele vê além de mim, como se fosse transparente. Sento na beirada da banheira, tentando chamar sua atenção, mas ele está focado em outra coisa. Em suas mãos há diversos recortes de jornais e revistas molhados, com as letras manchadas, alguns recortes grudados em seus braços e peito, protegido por uma camiseta branca. Pego um recorte que boia e leio. Eis o que diz:

"Park Jimin, do aclamado grupo BTS, nunca esteve em tão boa forma! Os últimos acontecimentos na vida pessoal dos membros restantes estão surtindo efeito positivo em um de seus dançarinos e vocalistas principais." 

Olho para o corpo de Jimin, com seu pijama grudado em sua pele. Nunca pensei que veria seus ossos tão marcados. 

Pego outro recorte. 

"A Coreia implora para que a empresa BigHit publique uma nota sobre a dieta dos membros, especialmente a de Park Jimin."

E mais outro. 

"'Se soubéssemos que a morte de alguém surtia efeito rápido no corpo de uma pessoa, teríamos usado jogos psicológicos para que Jimin entrasse mais cedo dentro dos padrões estéticos', diz um dos empresários do agora ex-grupo BTS. Confira!"

E mais outro. 

"'É como se ele nunca tivesse sido gordinho. Até suas bochechas desapareceram!', diz uma fã. Park Jimin, do BTS, nunca esteve tão popular entre as mulheres - e os homens."

- Desgraçados! - grito ao ver todas aquelas matérias falando sobre o corpo de Jimin, que estava magro devido à depressão e bulimia que enfrentara após a morte de Yoongi. 

E então tudo faz sentido para mim: as fotos que apareceram mais cedo, os recortes, o local. Estou no apartamento de Jimin no centro de Seoul; as fotos que vi são dos dias em que Jimin fora chamado de...

- Baleia - Jimin murmura. 

Olho para ele, com lágrimas nos olhos. 

- Baleia - ele diz alto e em bom tom. 

Não consigo fazer nada além de olha-lo. 

- Baleia! - ele grita nervoso, olhando diretamente em meus olhos e batendo os braços com raiva na água. 

Pego todos os recortes molhados da banheira, junto-os em um montinho e amasso-os em minha mão e mostro para ele. 

- Isso tudo aqui é mentira, Jimin. Você sabe disso, não sabe? - pergunto olhando para ele. 

Ele olha para a bolinha, e depois olha para mim. 

- Baleia - ele murmura com os olhos cheios de lágrimas. 

Jogo a bolinha de papel no chão, dou as costas para Jimin e vou até o armário debaixo da pia, abrindo as portas e vasculhando em busca de um isqueiro. Quando acho, pego a bolinha e tento queima-la. 

- Que esses bastardos queimem no inferno e que o demônio tenha piedade deles se cruzarem meu caminho. Não se fala isso de uma pessoa.

O papel finalmente pega fogo e, quando vejo as flamas, me viro para Jimin. 

- Nunca mais acredi... - deixo o montinho cair. 

Jimin está com o rosto na beirada da banheira, com um olhar perdido e vago nos olhos. Ele não pisca e não se mexe. 

Engatinho até ele e fico de joelhos, pegando seu rosto em minhas mãos. 

Beijo sua face gelada e molhada. 

- Me sinto culpada por você ter tido esse fim, Jimin. Você é um menino de ouro, merecia muito mais do que a crueldade desse mundo. Espero que saiba disso - falo baixinho. 

O observo uma última vez. Uma lágrima cai de seu olho. 

Meu subconsciente grita que eu sim tenho culpa nisso tudo. 

E eu realmente tenho. 

Me perdoe, Jimin. 

《》《》《》《》《》《》《》《》《》《》《》《》《》

Oi oi!

Como estão? Espero que bem.

Parte dois postada com sucesso! Aos que perguntarem: sim, é a noite em que Jimin morreu.

Espero conseguir postar mais alguma coisa esse final de semana.

Não esqueçam de deixar aquela apertada marota na estrela marota ☆!

Até breve, uniPOPcorns! Se mantenham saudáveis e se tiverem que sair USEM MÁSCARA.
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Save Me From The Fire {Min Yoongi} - Livro 3Onde histórias criam vida. Descubra agora